Pesquisa Folha/IPESPE/Recife: "Eleição será decidida no 1º turno”, diz Antonio Lavareda

O presidente do Conselho Científico do IPESPE, Antonio Lavareda, avalia os números da pesquisa

Antônio Lavareda é doutor em Ciência Política - Divulgação

A nova rodada da pesquisa  indica alguma mudança ou tendência de mudança significativa de cenário em relação ao último levantamento ou há um quadro consolidado faltando poucos dias para o pleito?

Os resultados dessa segunda rodada da Pesquisa Folha/IPESPE sobre a eleição no Recife mostram-se estáveis em relação ao levantamento realizado em agosto, após as convenções que oficializaram as candidaturas.

Com oscilações de no máximo 1 ponto percentual nos números de intenção de voto estimulada dos candidatos, inclusive de João Campos que variou dos já elevados 76% para 77%, podemos afirmar sim que o quadro está consolidado nesse momento da disputa, sendo quase garantida – exceto se algum fato absolutamente inesperado ocorrer – a reeleição do atual prefeito no dia 6 de outubro, com uma expressiva votação.

Podemos dizer que há um cenário consolidado de vitória de João Campos no primeiro turno ou há possibilidade de uma disputa de dois turnos?
A ampla vantagem do prefeito-candidato João Campos não apenas nos cenários de intenção de voto espontânea e estimulada, mas em todas as variáveis que vêm sendo acompanhadas nas pesquisas Folha/IPESPE, já nos permite afirmar que a eleição será decidida no 1º turno, com a maioria do eleitorado recifense reconduzindo o incumbente para mais um mandato. Matematicamente e considerando o curto intervalo de tempo até a eleição, não há como a soma das intenções de voto dos adversários reduzir o suficiente a diferença em relação ao líder para levar a disputa para um eventual segundo turno.

Quais números da pesquisa estão por trás de um cenário tão favorável a João Campos?

Como eu mencionei, a larga dianteira de João Campos é evidente na consistência de todos os números da pesquisa. Obviamente, para um candidato à reeleição, a variável mais correlacionada à intenção de voto é a aprovação da sua gestão, que no caso de João alcança superlativos 87%, o que significa que praticamente 9 em cada 10 eleitores recifenses aprovam o trabalho do prefeito.

Outro dado relevante é que ele, nas duas rodadas, é o candidato menos rejeitado (12%), ao passo que seus principais adversários, Gilson Machado e Daniel Coelho, tiveram aumento de seus índices de rejeição, provavelmente refletindo a reação dos eleitores às críticas desferidas na propaganda eleitoral, sem que tenham conseguido até o momento reduzir a preferência pelo candidato do PSB.

O número de eleitores que dizem ter mais chances de votar no candidato do ex-presidente Jair Bolsonaro é maior do que a votação do ex-ministro Gilson Machado. O mesmo acontece com Daniel Coelho, que tem o apoio da governadora Raquel Lyra. Por que os candidatos de oposição não conseguem captar o potencial de voto dos seus principais apoiadores? A influência das lideranças políticas acabou ofuscada pelo favoritismo de João Campos ou eles ainda podem ter um impacto no pleito? 

O potencial de transferência de votos depende de um conjunto de fatores. A influência de apoios políticos pode ter um impacto significativo em situações específicas e para certos perfis de candidatos, o que não parece ser o caso dessa eleição no Recife. Apoios de figuras políticas ou líderes influentes podem ajudar a aumentar a exposição e a credibilidade de um candidato desconhecido ou com pouca base eleitoral, agregando-lhe uma espécie de selo de qualidade.

Também em disputas acirradas ou polarizadas, os apoios podem ajudar a atrair eleitores indecisos. Outro exemplo são candidatos que buscam legitimação, por falta de experiência ou porque enfrentam desafios de credibilidade, e assim o endosso de políticos experientes ou de figuras respeitadas pode dar um impulso importante.

Ou ainda candidatos que pretendem suceder um político popular podem se beneficiar diretamente do apoio dessa figura e do conceito de continuidade.

Repito, nenhuma dessas hipóteses se aplica, de maneira determinante, ao pleito em curso. Mas, independente disso, é de se esperar que, sobretudo, o candidato Gilson Machado ainda possa crescer, na reta final, no eleitorado bolsonarista com voto mais atrelado ao posicionamento ideológico. Quanto a Daniel Coelho, parece ter mais dificuldade de encontrar espaço para avançar.

Dani Portela tenta se colocar como a única candidata de esquerda e apoiadora do presidente Lula na eleição. No entanto, a rejeição dela é alta e ela não conseguiu angariar os votos dos apoiadores de Lula. O que pode ter ocasionado a alta rejeição e falta de identificação do eleitor de Lula com a deputada?

A rejeição a um candidato ou candidata tem componentes diversos, desde atributos de imagem, posicionamento político-partidário, até envolvimento em denúncias, entre outras vulnerabilidades, que especialmente os estudos qualitativos ajudam a identificar. No caso de Dani Portela, a partir dos dados levantados pela pesquisa Folha/IPESPE, é possível inferir que contribui para a rejeição o desconhecimento sobre ela, o que provavelmente repercute na ideia de inexperiência, levando o eleitor a não arriscar.

Quanto ao apoio do Presidente Lula, este publicamente já o declarou ao candidato João Campos, inclusive com demonstrações públicas de simpatia e  proximidade, o que minimiza o potencial da candidata do PSOL se beneficiar desse fator junto ao eleitorado de esquerda.

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