'Preocupação com celebrações nas igrejas não pode ser a principal', diz Arquidiocese
A Arquidiocese de Olinda e Recife (AOR) emitiu nota, nesse domingo (7), afirmando que "a preocupação com celebrações nas igrejas não pode ser a principal" diante do atual cenário da pandemia de Covid-19.
Está previsto para ser votado na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), nesta segunda-feira (8), um projeto de Lei que pretende tornar igrejas e templos em serviços essenciais no Estado.
A proposta foi feita pelo deputado estadual da bancada evangélica pastor Cleiton Collins (PP).
No documento, assinado pelo arcebispo, dom Fernando Saburido, e pelo bispo, auxiliar dom Limacêdo Antonio da Silva, a AOR cobra dos governantes e legisladores que se dediquem a acabar com "o escândalo das aglomerações nos transportes públicos" e que "aprovem leis que visem dignidade aos desempregados e melhorias na assistência aos enfermos".
“Entendemos que em momento tão grave como estamos passando, quando cresce assustadoramente no Brasil o número de infectados e falecidos por conta da Covid-19, a preocupação com as celebrações nas igrejas não pode ser a principal. A prioridade deve ser salvar vidas”, afirma a nota.
Os bispos reconhecem a religão como "grande conforto espiritual para a nossa vida, sobretudo nas ocasiões mais desafiadoras", mas citam que "a prática religiosa independe do templo", como está escrito em Mateus 18, 20, que diz: "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles".
A Arquidiocese lembra ainda que os fiéis "podem fazer uso dos recursos da tecnologia para participar das celebrações, à distância".
As devoções religiosas podem ser praticadas em casa, em conjunto com a família, como "Igreja Doméstica", algo preconizado pelo Concílio Vaticano II e pelo Catecismo da Igreja Católica".
Por fim, a Arquidiocese defende que o momento é para concentração de energias no combate à pandemia e que cada um deve seguir os cuidados necessários, como ficar em casa, manter o distanciamento social, higienização, fazer uso permanenente da máscara e não deixar de tomar a vacina.
"Cuidemos uns dos outros, sobretudo dos idosos, dos pobres, daqueles que não têm onde morar", encerra o texto.
Confira a nota na íntegra:
Queridos irmãos e irmãs,
Fomos informados que, nesta segunda feira, terão início na Assembleia Legislativa as negociações para aprovação do projeto que inclui as atividades religiosas, nos templos, como essenciais. Reconhecemos a religião como grande conforto espiritual para a nossa vida, sobretudo nas ocasiões mais desafiadoras.
Por outro lado, entendemos que em momento tão grave como estamos passando, quando cresce assustadoramente no Brasil o número de infectados e falecidos por conta da Covid-19, a preocupação com as celebrações nas igrejas não pode ser a principal.
A prioridade deve ser salvar vidas. A prática religiosa independe do templo, conforme Mt 18,20: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles”. As pessoas podem fazer uso dos recursos da tecnologia para participar das celebrações, à distância, e realizar suas devoções em suas casas, em conjunto com sua família, como “Igreja Doméstica”, tão preconizada no Concílio Vaticano II e no Catecismo da Igreja Católica (cf. LG, 11; CIC 1655 – 1658).
Neste momento devemos concentrar nossas energias no combate à pandemia, procurando fazer a nossa parte, ou seja: ficando o quanto possível em casa, mantendo o distanciamento social, a higienização, fazendo uso permanente da máscara e não deixando de tomar a vacina. Cuidemos uns dos outros, sobretudo dos idosos, dos pobres, daqueles que não têm onde morar.
Achamos importante reconhecer a religião como essencial e agradecemos o empenho do legislativo estadual. Ao mesmo tempo, esperamos dos governantes e legisladores medidas mais eficazes para evitar, ou pelo menos diminuir, o escândalo das aglomerações nos transportes públicos, a aprovação de leis que visem digna condição de vida para os desempregados e melhorias na assistência aos enfermos.
Que Deus tenha misericórdia do nosso povo.Recife, 07 de março de 2019.
Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo MetropolitanoDom Limacêdo Antonio da Silva
Bispo Auxiliar