Recuo sobre Pix evidenciou falta de estratégia de comunicação da esquerda e mobilização da direita
Cientista política avalia politização da mudança de regra sobre transações financeiras
Após repercussão negativa e onda de fake news, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou, ontem, que o Governo Federal vai revogar o ato que ampliou as normas de fiscalização sobre o PIX. Ele também afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai assinar uma medida provisória para garantir que transações via PIX não possam ser tributadas.
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Para a cientista política Priscila Lapa, a falta de estratégia para comunicar as mudanças pode ter enfraquecido o Planalto. “O governo não conseguiu dominar a narrativa sobre o que exatamente significava a medida, assim precisou recuar para conter a onda da impopularidade da medida”, disse.
A especialista avaliou que as dificuldades de comunicação da esquerda no ambiente digital.
“A comunicação da esquerda não é exatamente inferior à da direita, mas é menos articulada e menos conectada aos formatos e ferramentas do mundo contemporâneo. Diria que seria uma comunicação no formato analógico em um mundo digital”, disse Priscila Lapa.
A medida ganhou ampla repercussão após o deputado federal oposicionista Nikolas Ferreira (PL-MG) divulgar um vídeo criticando o governo, que alcançou 246 milhões de visualizações. A cientista política avaliou que a comunicação do governo não acompanhou a narrativa negativa que se espalhou rapidamente nas redes sociais.
A pesquisadora também observou que o recuo foi necessário diante da distorção sobre o real significado da medida provisória. Segundo ela, o governo perdeu a oportunidade de dominar a narrativa e esclarecer a finalidade da norma.
“O governo não conseguiu dominar a narrativa sobre o que exatamente significava a medida, assim precisou recuar para conter a onda da impopularidade da medida”, disse.
Priscila reforçou a necessidade de o governo assumir protagonismo sobre a pauta, desde o desenho da medida até a condução do debate no Congresso.
“Tem que ter protagonismo sobre a pauta: desenhar a MP, pautar a MP e ganhar o debate no Congresso. Mostrar que sabe o que está fazendo e mensurar devidamente os impactos. Tem que comunicar de forma clara, mesmo os aspectos que não sejam tão populares. Isso se faz com estratégia de comunicação”, finalizou.