Repercussão política dominou o debate sobre as regras do Pix
Governistas e opositores travaram embate público sobre a fiscalização das transações financeiras
A decisão do Governo Federal de revogar a medida que aumentava a fiscalização sobre transações via Pix foi tomada após forte repercussão sobre o assunto nas redes sociais. Governo e oposição travaram uma verdadeira batalha de narrativas em que o Palácio do Planalto saiu atrás. Levantamento da consultoria Bites revelou que vídeos da oposição nas mídias digitais geraram 20 vezes mais engajamento do que os conteúdos da base governista.
Os números apontam que as postagens de deputados do PL totalizavam 4,6 milhões de interações, enquanto publicações de parlamentares do governo atingiram pouco mais de 218 mil.
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Um dia antes da revogação da medida, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) fez uma publicação com críticas ao Governo que alcançou mais de 200 milhões de visualizações. Na postagem, o deputado federal ataca o governo, dizendo que o Pix “não será taxado, mas não duvido que seja”. No vídeo, ele ainda diz que o governo prejudica a população, sobretudo os “trabalhadores informais”, com regras de fiscalização de transferências via Pix, revogadas desde ontem.
Após a publicação de Nikolas Ferreira, o deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) fez uma postagem afirmando que entrará com uma ação judicial contra o parlamentar de oposição “pelas fake news que espalhou sobre o Pix”.
Repercussão
A decisão do Governo Federal de revogar a medida foi mais um ingrediente na polêmica. O deputado estadual João Paulo Lima e Silva (PT) admitiu que a direita acabou vencendo a disputa de narrativas e que a medida acabou se tornando necessária.
“Temos que ver o estrago que as fake news podem provocar. Acho que a extrema-direita ganhou na narrativa. As duas medidas foram acertadas. Acertada para ter maior informação sobre movimentação financeira e acertada em voltar atrás para não prejudicar todo o sistema de pagamento de Pix com a desinformação que foi gerada à população”, afirmou o petista.
A vereadora do Recife Kari Santos (PT) também defendeu a decisão, destacando a preocupação do governo em evitar contaminações no debate parlamentar sobre a regulamentação das transações financeiras via Pix.
Opositores também apontaram falhas na condução da medida. O deputado estadual Renato Antunes (PL) afirmou que o recuo demonstra falta de convicção do governo. “O fato dele (Lula) ter revogado é um atestado de culpa, pelo desastre na condução da equipe econômica. Se era fake news, não tinha por que voltar atrás. A maior incompetência do governo foi na comunicação, porque, se ele tinha boa intenção, comunicou errado. Isso gerou desinformação. Se ele tinha convicção de que era uma medida boa, deveria manter”, disse.
Já o vereador do Recife Thiago Medina (PL), alinhado politicamente ao deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), avaliou que o recuo do governo revela a força das redes sociais. “A tática do governo era falar que era fake news. Mas, se era fake news, por que voltaram atrás?”, questionou.