Robeyoncé: uma voz LGBT no Legislativo de Pernambuco
Apesar de apenas uma das Juntas assinar o termo de posse no Plenário - a ambulante Jô Cavalcanti será oficialmente empossada na Alepe - todas participarão tanto da solenidade oficial quanto do ato simbólico organizado por elas, a "posse popular", com concentração marcada para as 13h, em frente ao shopping Boa Vista. Inclusive, uma programação político-cultural foi pensada para marcar esse início de mandato das parlamentares.
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A respeito do Dia da Visibilidade Trans, Robeyoncé esclareceu que não se trata de uma data comemorativa. "É um dia de visibilidade que não é de comemoração, mas de reinvindicação de direitos. A gente está tendo uma retirada sistemática dos nossos direitos trans e dos nossos direitos LGBTs de uma maneira geral", denunciou.
Robeyoncé avaliou com preocupação o atual cenário da política nacional. "Estamos vivendo um momento de avanço do conservadorismo, onde a retirada de direitos está sendo latente. O principal direito que está sendo retirado de nós é o direito à vida. O Brasil lidera as estatísticas de país que mais mata transsexuais no mundo. Então, a prioridade da gente é combater essa estatística", antecipou.
Segundo ela, o atual Governo Federal agravou a falta de representatividade e de políticas públicas inclusivas. "Se já tinha uma prioridade fraca, pequena e rudimentar em termos de políticas públicas para os LGBTs, nesse novo governo a gente percebe explicitamente que a prioridade é praticamente zero", disse.
Bandeiras na Alepe - Robeyoncé falou sobre como as Juntas vai pautar as questões LGBTs no legislativo estadual. "Levando em consideração que a gente vive o extermínio da população LGBT, das mulheres trans, principalmente as meninas que fazem programa durante a madrugada, a prioridade é a valorização da vida dessas pessoas. Elas são pessoas mais vulneráveis. Vamos cobrar pautas de segurança pública, de educação inclusiva. As pessoas hoje nos vêem como anormais porque nunca tiveram aula de orientação sexual nas escolas.", afirmou.
Para a parlamentar, o mandato feminista espera encontrar preconceito no cotidiano da Alepe. "A gente já imagina que vai sofrer resistência, porque já tinham pessoas que se incomodaram quando a gente era candidata. Aí, depois que a gente ganha, esse incômodo fica maior ainda para determinados setores. A gente imagina que não vamos ser recebidas apenas com flores na Alepe. Vai ter gente que vai mandar flores, mas vai ter gente querendo puxar o nosso tapete o tempo todo, a diferença é que agora essa puxada de tapete é institucional, previu.
"É nesse ambiente que a gente está. Essa tentativa de querererm o tempo todo nos prejudicar e deslegitimar anda comigo o tempo todo. O tempo todo eu sou deslegitimada pelo fato de não ter uma vagina, por exemplo", contou.
Wyllys e Marielle - Sobre fatos recentes envolvendo políticos do PSOL, como a desistência do mandatyo e exílio do deputado federal reeleito Jean Wyllys e o assassinato da vereadora Marielle Franco, Robeyoncé foi solidária. "Eu compreendo a decisão de Jean Wyllys, que foi de âmbito pessoal. Até porque a gente como LGBT só pode militar enquanto tiver vivo. Morto a gente não milita. E ele estava sendo ameaçado de morte. Essas pessoas que incomodam na política são ameaçadas de morte. A morte de Marielle não foi por acaso. A única diferença entre a gente e Marielle é que a gente das Juntas estamos vivas ainda, mas não vai demorar muito para que esses incômodos comecem a surgir aqui na Assembleia de Pernambuco.
Outros mandatos trans - Pela primeira vez nasua história, a Assembleia Legislativa de São Paulo terá duas deputadas transgênero: Erica Malunguinho, eleita pelo PSOL, com mais de 50 mil votos, e Erika Hilton, uma das nove integrantes da Bancada Ativista, que chega à Alesp com quase 150 mil votos. O mandato coletivo de Erica se assemelha ao modelo proposto pelas Juntas, eleitas com 39.175 votos para a Alepe.
Breve perfil - Robeyoncé Lima, nascida e criada na comunidade do Alto Santa Terezinha, Zona Norte do Recife, é bacharela em direito pela UFPE, e atualmente é técnica administrativa pela mesma universidade. Como primeira advogada trans do Estado de Pernambuco, se tornou militante nas pautas LGBT, negra e feminista. Membra da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero, e da Comissão de Direito de Família, ambas da OAB-PE, é também dançarina amadora. 30 anos.