Solenidade marca os 40 anos do primeiro ato em favor da redemocratização do Brasil

Manifestação aconteceu na Praça da Bandeira, em Abreu e Lima, e foi organizada por quatro vereadores

Ex-vereadores Reginaldo Silva e Severino Farias responsáveis pelo primeiro ato em defesa da redemocratização no País, em Abreu e Lima - Foto: Melissa Fernandes/Folha de Pernambuco

Sem a menor pretensão de entrar para a história, quatro vereadores de Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife, se juntaram há 40 anos, na Praça da Bandeira:  Reginaldo Silva, Severino Farias da Silva, Antônio Amaro Cavalcanti e José da Silva Brito, ex-presidente da Câmara e líder do movimento.

Os dois últimos já são falecidos. Era a primeira manifestação do País em defesa das Diretas Já. Hoje eles serão homenageados no Memorial da Democracia, no Sítio Trindade, em Casa Amarela, Zona Norte do Recife, a partir das 10h..

Os quatro dos nove vereadores - minoria na primeira Câmara do município recém-emancipado de Paulista - foram eleitos em 1982, assumiram em 31 de janeiro de 1983 e eram todos vinculados ao MDB.  Atuavam junto ao movimento sindical, aos movimentos populares e à Igreja, especialmente à Juventude Operária Católica (JOC) e à Ação Católica Operária (ACO). O evento que organizaram na praça durou cerca de duas horas e teve participação tímida. Não mais que cem pessoas. Era o reflexo das perseguições políticas

"Sim, a gente teve medo porque ninguém era super-herói e poderia ser preso", admite o ex-metalúrgico, Reginaldo Silva, 72 anos, eleito com 666 votos, no universo de 17 mil eleitores, sendo o segundo mais votado. "A gente fez o que tinha de ser feito porque nenhum tipo de ditadura é benéfico. E só hoje, depois de tanto tempo, a gente reconhece a importância daquela mobilização", relata Reginaldo que era casado e já tinha três filhos. Nenhum seguiu os caminhos da política partidária. "Mesmo troncho, o voto representa a escolha do povo, o direito do cidadão. Estou feliz com a homenagem. É preciso manter a chama acesa para o regime ditatorial nunca mais voltar", alertou o aposentado.

Vereador mais bem votado na época, Severino Farias conquistou 750 votos, em um universo de 17 mil eleitores. Ele se diz satisfeito com a reverência de hoje. Mas é ainda mais afortunado ao saber que o movimento organizado em meio a repressão, prisões e tortura ajudou a selar o processo de redemocratização no Brasil. "Eu digo sempre: a democracia jamais pode ser abortada, ela deve ser adotada em todos os cantos", frisou.

Filho do pedreiro José Vicente Filho, que tremeu nas bases ao saber do envolvimento da cria no processo, Farias respondeu: "Pai, eu não nasci pra ficar calado". Nascido em Orobó, no Agreste pernambucano, Farias completou ontem 68 anos e seu presente vai para os jovens políticos e para a sociedade como um todo.

"Nunca desista de correr atrás das políticas públicas, de olhar para as pessoas, de dar oportunidade a quem precisa. Não interessa se é situação ou oposição, seja a razão de viver", enfatizou Severino Farias.

O evento de hoje é organizado pelo Ministério Público, Assembleia Legislativa, Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Estado, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PE) e Cátedra Unesco/Unicap de Direitos Humanos Dom Helder Camara. 

"Estamos honrando as tradições libertárias do povo pernambucano, que jamais aceitou nenhuma forma de autoritarismo. Nossa história mostra isso, sempre nos insurgimos contra qualquer forma de tirania. Hoje vamos homenagear os vereadores que tiveram a coragem de organizar um ato em pleno regime autoritário", ressaltou o promotor José da Costa Soares, em entrevista à Rádio Folha.

Para o presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco,  deputado Álvaro Porto (PSDB), é uma honra celebrar a data junto a outras instituições.

"Ao resgatarmos a primeira manifestação pública por esse movimento, ressaltamos não só o pioneirismo do Estado, mas reafirmamos o espírito lutador e libertário do povo pernambucano. Guardiã de uma trajetória marcada pela defesa da cidadania, a Assembleia Legislativa de Pernambuco não poderia deixar de celebrar este momento tão caro e tanta relevância para a reafirmação de direitos e preservação de valores democráticos", declarou. 

Segundo o secretário-executivo de Direitos Humanos do Estado, Jayme Asfora, a data é importante para o Brasil e, particularmente, para Pernambuco.

"Digo isto porque nosso Estado sempre foi vanguardista dos movimentos libertários, desde a Revolução Pernambucana. E desta vez não foi diferente. A data de hoje crava quatro décadas de afastamento do período mais obscuro da história da nossa democracia: a ditadura militar. Que sigamos sempre atentos a qualquer movimento que ameace nosso Estado Democrático de Direito”, alertou. 

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