Conheça a história de Gena, uma concurseira especial
Gena, como é conhecida a paratleta de remo, vem sendo repetidamente reprovada no certame da Polícia Civil por portar uma deficiência motora que a impede de correr e saltar - apesar de a vaga concorrida, de escrivã, seja voltada aos PCDs. “Consegui um mandado de segurança porque, da primeira vez, na terceira etapa do concurso, me reprovaram no teste de aptidão física. O juiz determinou que a reprovação baseada na minha deficiência é ilegal e mandou eu ser inserida imediatamente de volta entre os aprovados”, relatou.
Após superar a quinta fase, de avaliação médica, a candidata foi barrada novamente com base na cirurgia que fez na coluna após uma fratura. “Sugerem que poderia colocar em perigo a mim mesma e outras pessoas. Mas o trabalho de escrivão não exige que se saia a campo. Muito menos sou incapaz de realizar as atividades do cargo. Apresentei atestado médico mostrando isso. Passei nas atividades de natação e barra fixa com folga”, contestou a paratleta.
Para Gena, o problema tem acarretado amplo transtorno. Apesar de estudar para concursos há alguns anos, focou durante três meses no de escrivão. Foram três meses de noites de pouco sono e dias de estudo intenso. A dedicação rendeu, inclusive, dores na coluna, por se debruçar por tanto tempo sobre os livros. “Antes do concurso, entrei em contato diversas vezes com a organização para descobrir se estava apta e a resposta era positiva. As coisas foram mudando com o tempo. Inicialmente me informaram que nem precisava fazer o teste de aptidão física.”
“Maria Eugênia foi discriminada ao tempo do teste de capacidade física e está sendo discriminada agora. Discriminação em razão da deficiência, o que é vedada por lei”, afirmou o advogado da paratleta, Mateus Pereira. “O relator do mandado de segurança já havia alertado à impossibilidade dela ser discriminada ao tempo da seleção.”
Também de acordo com Pereira, o mandado de segurança ainda está em curso e o relator do processo, desembargador Erik Simões, será informado do descumprimento. Além disso, será dada entrada em um recurso administrativo informando o descumprimento e possível responsabilização criminal.
A reportagem procurou a Polícia Civil que, até o fechamento desta matéria, não se posicionou sobre o caso. O Tribunal de Justiça de Pernambuco afirmou que só se pronunciaria sobre a segunda reprovação quando fosse acionado pelo advogado de Gena.