Desenvolver a diversidade é um desafio para empresas

Programas de formação buscam incluir colaboradores de diversos segmentos - Lehi Henri/Arte/Folha de Pernambuco
A sociedade é uma aldeia formada por uma coletividade de pessoas que convivem através de uma característica peculiar: a diversidade. Mas quando se trata de mercado de trabalho, essa parece ser uma realidade ainda distante. Indivíduos da comunidade LGBTI+, idosos, negros, pessoas com deficiência e mulheres ainda enfrentam barreiras na empregabilidade. Buscando refletir sobre o assunto, a Folha de Pernambuco conversou com empresas que, ao longo do tempo, perceberam a necessidade de abraçar a diversidade na construção de princípios no universo institucional.



Recorrer à política de cotas é uma alternativa para incluir ou o investimento das empresas nesses grupos se apresenta como o melhor caminho? O número de ações voltadas às minorias, cresceu. A partir de um olhar mais apurado sobre o público consumidor, as organizações começaram a entender que no mercado de trabalho não existe mais espaço para padrões, ao passo em que os grupos historicamente excluídos dos processos de recrutamento conquistaram mais espaço no ambiente corporativo. “A diversidade traz essa conexão de ideias, essa oportunidade de a empresa sempre estar se reinventando no mercado. Ela também traz a representatividade do seu mercado consumidor, porque você consegue ter dentro uma representação daquilo que você tem fora e isso deixa a empresa muito mais potente e com resultados mais positivos”, explicou Fabrícia Faé, gerente de desenvolvimento de talentos e liderança da LHH.

Apesar da importância e crescimento de programas criados com o intuito de tornar o local de trabalho um espaço heterogêneo, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) aponta que cerca de 90% de travestis e transexuais ainda têm a prostituição como único meio de sobrevivência. A situação de pessoas sem emprego formal é similar quando comparado a quantidade de pessoas com algum tipo de deficiência fora do mercado. Ao todo, o Brasil possui cerca de 45 milhões de pessoas com deficiência e dessas, apenas 403.255 estão empregadas, o que corresponde a menos de um 1%. A Lei de Cotas (Lei nº 8213/1991) prevê a obrigatoriedade de empresas com mais de 100 funcionários a reservar e preencher de 2% a 5% das vagas para pessoas com deficiência. No entanto, da mesma forma que as cotas podem servir como política inclusiva, a ação afirmativa pode contribuir para que empresas recaiam sobre a lei, de forma a não criar mecanismos voltados ao desenvolvimento da diversidade nos espaços de trabalho. Por isso, é importante que as duas ações dialoguem entre si.

Para Sérgio Povoa, vice-presidente de Recursos Humanos da OLX, as cotas são imprescindíveis no processo de inclusão. “Quando trata-se de uma empresa, a cota é fundamental. Se a gente olhar a cota como um número a ser atingido, o trabalho de inclusão não está sendo feito, é algo negativo. Mas se a gente olhar a cota como um desafio de se ter pessoas diferentes e alavancar o desempenho, carreira e crescimento dessas pessoas que não tenham possibilidade no mercado, é transformador”, afirmou o gestor.

Para o trabalho de inclusão não ficar somente no papel, a Thoughtworks, empresa de consultoria e desenvolvimento de software na área de TI, deu início a ações de desenvolvimento da diversidade a partir do olhar de mulheres que sentiram a necessidade de discutir a disparidade do público feminino em relação ao masculino em seu segmento. “A gente começou a ver que a área de tecnologia era muito dominada por homens brancos, era muito homogêneo. A medida em que a gente começou a trazer mulheres, elas trouxeram esses questionamentos. Percebemos, então, a necessidade de ter mulheres, pessoas negras, LGBTs na tecnologia”, relatou Renata Gusmão, diretora de Justiça Social e Econômica da empresa.

Renata Gusmão, diretora de Justiça Social e Econômica da Thoughtworks

Renata Gusmão, diretora de Justiça Social e Econômica da Thoughtworks - Crédito: Caio Danyalgil/Folha de Pernambuco



Segundo a líder, em 2017 a empresa realizou a ação Todas na Tecnologia, pensada com o objetivo de expandir, recrutar e formar mulheres para posições e pensamentos de liderança na empresa e na tecnologia. Um ano depois, a instituição criou o Enegrecer a Tecnologia, atividade desencadeada para a maior inserção de pessoas negras na entidade. “A gente fez uma campanha para recrutar pessoas negras, reconhecer e ter essas pessoas em lugares de representatividade dentro da Thoughtworks. Uma das ações foi o recrutamento expresso enegrecer e tivemos um resultado de 80% de contratações”, destacou.

Enquanto isso, também através da imersão de mulheres, outros programas encontram alternativas para diminuir a desigualdade de gênero no meio empresarial. O Minas, programa de equidade de gênero do Porto Digital, é um exemplo disso. Além de promover a qualificação, o programa conta com ações focadas em sensibilizar, atrair e fomentar projetos criados por mulheres. Além desse programa, o Porto Digital também conta com o Porto+, iniciativa idealizada para promover o empoderamento e inclusão de pessoas LGBTI+ no ecossistema de inovação e no mercado de trabalho.

“Para a gente conseguir promover esse protagonismo dentro das empresas, nossa porta de entrada são os departamentos de cultura e os de RH. A gente começou uma conversa com algumas empresas para tentar mudar a cultura empresarial delas. Ainda falta uma atenção das pessoas que não são parte da comunidade para a nossa comunidade, principalmente sobre a população trans. O debate é super importante. Que a gente da comunidade promova ele, mas que pessoas que não são estejam interessadas e dispostas a mudar”, concluiu Igor Caetano, coordenador do Porto+. Todos os integrantes do programa são pessoas LGBTI+. 


Todos os integrantes do programa são pessoas LGBTI+

Todos os integrantes do programa são pessoas LGBTI+ - Crédito: Caio Danyalgil/Folha de Pernambuco

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