O impacto da reforma administrativa

Congresso Nacional - Valter Campanato/Agência Brasil
Mesmo antes de ser apresentada no Congresso Nacional e com informações repassadas apenas pela imprensa, a reforma administrativa tem provocado insegurança naqueles que temem que as carreiras que pretendem conquistar nos concursos públicos sejam afetadas. Ainda não há um documento oficial do governo sobre seu conteúdo e a matéria, que estava prevista para chegar ao parlamento em novembro, provavelmente só tramitará no próximo ano. Para esclarecer os pontos que devem ser mexidos pela proposta e ajudar a motivar o estudante a não desistir de seus objetivos, a Folha de Pernambuco procurou especialistas para comentar sobre o impacto dessas mudanças no serviço público.



Pelo que se sabe até o momento, a reforma administrativa do funcionalismo público pretende estabelecer novas regras para contratação de servidores, definir salários iniciais mais próximos aos do setor privado, endurecer os critérios para promoções, flexibilizar o processo de demissão de servidores e reduzir o número de carreiras. As mudanças vão na direção de uma maior austeridade fiscal e do equilíbrio das contas públicas. Para se ter uma ideia, as despesas com pessoal e encargos são a segunda maior do governo, ficando atrás apenas dos gas­tos com a Previdência. Segundo es­timativas do governo, em 2019 o custo com os salários do funcionalismo será de R$ 319 bilhões.

“Possivelmete é uma reforma que deve ser bastante discutida, não só no âmbito do Congresso Nacional, mas também com a sociedade civil. Entendo que uma reforma adminis­trativa precisa ser feita. Talvez não na maneira como vai ser proposta ini­calmente. Normalmente, quando os governos propõem reformas administrativas, trazem regras bastante rígidas, mas que servem de ponto de negociação”, prevê Robson Carvalho, professor de Direito Constitucional.

De todos os pontos que deverão ser propostos na reforma, o que chamou mais atenção foi o que afeta a estabilidade. Segundo a advogada Adriana Pessoa da Silva, essa medida deixaria o servidor público mais vulnerável. “O país vem sofren­do mudanças econômicas muito fortes nesse últimos governos. Veio a reforma Previdênciária e agora a reforma administrativa, que vem modificar a questão da merito­cracia no serviço público, que é a estabilidade, uma grande garantia do servidor em parmanecer no seu car­go e só ser exonerado por meio de um processo administrativo disciplinar em caso de falta grave, co­mo dispõe a Lei 8.112. Sem estabili­dade, o servidor ficaria de mãos ata­das quanto à segurança no serviço público”, avalia.

“O Brasil vem adotando essas me­didas tomando como modelo e pa­râmetros países da europa como In­glaterra e Portugal, onde o sistema de meritocracia funciona de uma forma diferente, não por meio de concurso público, mas de escolhas políticas. No Brasil esse modelo pode não dar certo, pode ser um ti­ro no pé”, alerta. O professor Robson Carvalho, no entanto, vê pontos po­­sitivos na flexibilização. “Vejo que a estabilidade, de fato, é neces­sá­­ria para o servidor público para e­vi­­tar as chamadas ingerências políti­cas que ocorrem com servidores ex­­clusivamente em cargos em comissão. Mas talvez não haja necessi­dade de estabilidade no serviço público onde servidores qualificados e servidores desqualificados ob­têm o mesmo tratamento, o que cau­sa uma certa injustiça e ineficiên­cia na prestação do serviço. Sem sombra de dúvida isso passa pela avaliação de desempenho”, pontua.

“O Problema é que nem sempre essas avaliações de desempenho são feitas como deveriam. Existe uma questão legal. A nossa Constituição definiu que os critérios dessa avaliação seriam estabelecidos por lei complementar, mas essa lei não foi editada até hoje, em que pe­se estar tramitando no Congresso há muito tempo. É necessário que os cri­térios sejam objetivos, para não cair na subjetividade que pode levar à ingerência política. Acho que é necessário flexibilizar para algumas car­­reiras, mas não podemos escantear a necessidade da estabilidade para algumas carreiras do Estado, co­­mo a do policial e a do fiscal”, pon­­dera Robson. “O que fal­ta no serviço público é uma mudan­ça de cultura. Não se tem a cultura de apurar quem são de fato os servidores que têm um desempenho satisfatório”, conclui o professor.

“Eu acho que o estudo é o melhor caminho e acredito que esses projetos virão de forma paulatina, trazendo um impacto para os concurseiros e para o país como um todo, mas não vai deixar de existir concurso público”, sugere Adriana.

“Entendo que a reforma adminis­trativa vai trazer um ponto positivio para o concurseiro, porque vai haver uma diminuição e aperfeiçoamento nas carreiras que devem ser mantidas. E com a redução com o salário inicial das carreiras, isso deve gerar mais vagas. O concurserio deve ficar atendo à reforma admi­nistrativa, mas deve ficar mais atento ainda a seu objetivo maior, que é a aprovação no concurso pú­blico”, orienta Robson Carvalho.

“O que fal­ta no serviço público é uma mudan­ça de cultura”, diz o professor de Direito Robson Carvalho

“O que fal­ta no serviço público é uma mudan­ça de cultura”, diz o professor de Direito Robson Carvalho - Crédito: Leo Malafaia / Folha de Pernambuco

Eu acho que o estudo é o melhor caminho e acredito que esses projetos virão de forma paulatina

Eu acho que o estudo é o melhor caminho e acredito que esses projetos virão de forma paulatina", sugere a advogada Adriana pessoa da Silva - Crédito: Leo Malafaia / Folha de Pernambuco

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