Logo Folha de Pernambuco

Escassez de talentos ou dificuldade da liderança? 

Leia Também

• O perigo de confundir proximidade com intimidade

• Endividamento pessoal: uma ameaça às organizações

• Conflitos na empresa: qual a melhor postura?

A escassez de mão de obra qualificada tem se tornado uma barreira significativa para as empresas nos últimos tempos. O cenário atual expõe não apenas a dificuldade de preencher vagas disponíveis, mas também a falha estrutural em formar e desenvolver talentos internamente. Este é um desafio que ultrapassa os limites do setor de Recursos Humanos (RH) e atinge diretamente as lideranças, exigindo uma mudança urgente de postura e estratégias. 

Muitas empresas enfrentam uma contradição: ao mesmo tempo que lutam para encontrar profissionais qualificados, mostram-se pouco dispostas ou preparadas para investir na formação daqueles que já estão na equipe. Na pressão para preencher as posições, contratam pessoas que não possuem parte das competências necessárias, e ainda não investem em programas estruturados para capacitá-las adequadamente. Isso resulta em ciclos de insatisfação, onde os líderes, impacientes com as dificuldades apresentadas pelos empregados, optam por reclamar, substituir ou focar em pequenos problemas, sem atacar a raiz da questão. 

Esse ciclo é insustentável. A solução não está em simplesmente buscar no mercado o "profissional ideal" — que muitas vezes não existe — mas também em desenvolver internamente as habilidades e competências de quem já faz parte do quadro operacional. É preciso compreender que formar pessoas demanda paciência, planejamento e visão de longo médio e prazo. 

 

Expectativas

Outro ponto crítico nesse cenário é o choque de expectativas entre líderes e uma nova geração de trabalhadores. Os jovens de hoje valorizam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e colocam questões como propósito e bem-estar acima de salários elevados ou benefícios tradicionais. Esta geração também requer um tratamento mais empático e sensível, o que muitas lideranças ainda têm dificuldade em oferecer. Tentativas de endurecer regras ou intensificar a pressão nas cobranças e punições apenas agravam a desconexão entre empregadores e empregados, reforçando o desconforto e o desalinhamento. 

A abordagem deve ser diferente. As lideranças precisam compreender o cenário atual e mudar a forma de enxergar o trabalho e as relações com as pessoas. Modelos punitivos e de intolerância já não têm lugar no mercado contemporâneo. A alternativa está em construir relações de confiança, estimular compromisso com trabalho, responsabilidade com as entregas e atitudes de colaboração, além de promover um ambiente onde as pessoas se sintam valorizadas e apoiadas. 

 

Atuação do RH

O RH, por sua vez, tem um papel estratégico nesse processo. É essencial que este setor implemente programas de integração, acompanhe de perto os novos profissionais, assessore as lideranças no desenvolvimento de suas equipes e faça a mediação dos conflitos. Porém, o peso da transformação não pode recair apenas sobre os ombros do RH. As lideranças precisam ser conscientizadas e preparadas para lidar com as dificuldades – posicionando-se com firmeza e fazendo concessões sempre que necessário - e promover mudanças positivas no ambiente de trabalho. 

Liderar é, acima de tudo, lidar com pessoas. É um papel que exige paciência, empatia e dedicação. Não adianta focar apenas em números e entregas se as equipes não estão motivadas ou capacitadas para alcançar resultados. É fundamental que os gestores assumam uma postura ativa na formação de seus times, compreendendo que capacitar e orientar é uma responsabilidade contínua, e não um esforço isolado. 

O momento atual, embora desafiador, representa uma oportunidade de transformação para as empresas e suas lideranças. É hora de abandonar velhos paradigmas e adotar uma visão mais humanizada do trabalho, o que não significa, de hipótese alguma, colocar em segundo plano os resultados pretendidos pela instituição. Investir em pessoas não é apenas um caminho para preencher lacunas de competências, mas também uma estratégia essencial para construir organizações competitivas, mais fortes, resilientes e alinhadas às demandas de um mercado em constante evolução. 

Veja também

Newsletter