Grandes nomes e os desafios do mundo atual
Certamente, um melhor conhecimento de história teria sido útil na negociação do Acordo de Sykes-Picot, de 16 de maio de 1916, considerando ainda que este foi um ajuste secreto entre os governos do Reino Unido e da França definindo as suas respectivas esferas de influência no Oriente Médio. Este acordo já levava em conta a hipótese de derrota do Império Otomano na Primeira Guerra Mundial, influenciando até hoje todas as grandes questões e disputas no oriente médio que acompanhamos, hoje, nos noticiários.
Ou ainda a Conferência de Paz de Paris (1919), agora já com os grandes vencedores da Primeira Guerra Mundial – Inglaterra, França, Itália e os Estados Unidos, negociando durante seis meses em Paris o Tratado de Versalhes e seus desdobramentos, os Tratado de Saint-Germain, Neuilly, Trianon e Sèvres que reverberaram profundamente na constituição social e da estabilidade das nações da Europa como conhecemos hoje.
Em contrapartida, temos tratados negociados por diplomatas e estadistas cuja a visão ampla de vida, o conhecimento da história e o uso da diplomacia, tornou possível a criação de um grande legado de estabilidade e paz para as futuras gerações. Alexandre Gusmão é uma grande exemplo disto. Após 148 anos de disputas entre Portugal, Espanha, Brasil e Argentina, com a importante e estratégica negociação realizada pelo diplomata, é assinado o Tratado de Paz de 27 de agosto de 1828.
“A paz, Senhor, é, depois da Constituição, a primeira necessidade do Brasil”- voto de graças, em 1828, dos deputados que resumiam nessa frase o anseio de acordo com Buenos Aires, objetivando resolver a disputa pela Cisplatina.
Woodrow Wilson, presidente dos Estados Unidos, em mensagem enviada ao Congresso americano em 8 de janeiro de 1918, resumiu sua plataforma com 14 pontos para a Conferência de Paz de Paris, entre os quais destaco:
• "Acordos públicos, negociados publicamente", ou seja a abolição da diplomacia secreta;
• Criação de uma Liga das Nações (futura ONU), órgão internacional que evitaria novos conflitos atuando como árbitro nas contendas entre os países.
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Mas, voltemos a Henri Kissinger. Após o período de ausência de quatro décadas da universidade de Harvard, quando indagado por um aluno quais matérias precisaria estudar para se tornar um grande estadista como Kissinger, obteve a reposta: “história e filosofia”.
Como Kissinger aplicou a “história e filosofia’? Questiona o historiador Niall Ferguson.
De forma sutil e com muita caução, reconhecendo que a sua aplicação correta requer imaginação e julgamento. Como Kissinger menciona “História não é... um livro de receitas oferecendo pratos prontos pré-testados. História ensina por analogia, não por máximas.” História “pode iluminar as consequências das ações em situações comparáveis.”
Mas existe um segredo para alcançar os objetivos: “cada geração precisa descobrir por si mesma quais situações são realmente comparáveis”, termina Herni Kisssinger.
Se tomarmos o devido tempo analisando e estudando o contexto e os fatos históricos do último século da Península Coreana, teremos claramente o pano de fundo de como chegamos nas últimas semanas, à escalada de acusações e tensões envolvendo o atual regime da Coréia do Norte de Kim Jong-um. Desde que assumiu o poder há 6 anos, este já realizou mais de oitenta testes de mísseis, inclusive lançando o Hwasong 12 que atravessou o céu da Ilha de Hokkaido, no Japão e, mais recentemente, testando um artefato termonuclear ou bomba H.
Será que a diplomacia já utilizou todos os argumentos possíveis antes de cairmos novamente em uma retórica bélica pelas partes envolvidas? Será que as pessoas que estão tomando as decisões conhecem a história de sua terra natal e dos países e regiões envolvidas?
Nikke Haley, embaixadora dos EUA na ONU, em recente discurso no conselho de segurança da ONU, diz: “É chegada a hora de utilizarmos e exaurirmos todas as opções diplomáticas de forma rápida”.
Eu termino a coluna desta semana com a frase de Jaqques Bousset:
“A história é o grande espelho da vida: instrui com a experiência e corrige com o exemplo”.
Empresário há 35 anos, Rainier Michael tem ampla experiência em trocas internacionais. O trabalho realizado por ele junto ao consulado esloveno, e designado “Diplomacia Econômica”, interpreta sob uma visão humana o desenvolvimento e o crescimento do Nordeste. Paulista de nascença, Michael se mudou para Pernambuco há dez anos, quando seus negócios no Estado cresceram de forma a tornar indispensável sua presença aqui. Seu comparecimento nos mercados pernambucanos, entretanto, é mais antigo do que isso. Antes de assumir o consulado, já era representante da Sociedade Brasil-Alemanha no Nordeste. É destacável, também, sua atuação enquanto presidente do Rotary Club Recife.
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