Pai empreendedor x filho empreendedor
Continuamos em nossa série abordando algumas temáticas fundamentais neste tempo de grandes mudanças aceleradas pela pandemia COVID19 como: Gestão de Riqueza, Filantropia de Impacto, Responsabilidade Social Corporativa - Corporate Social Responsibility (CSR)/Governaça Socioambiental - Environmental, Social, and Governance (ESG), Governança e Sucessão Familiar e finalmente Internacionalização de Start-ups .
Como manter o espírito empreendedor do fundador nas gerações futuras?
Thomas Lanz: Muitas coisas são explicadas pela ciência em relação à hereditariedade. Outras não. E uma delas diz respeito ao temperamento dos filhos. Há irmãos com naturezas totalmente diversas que nos fazem questionar se realmente são irmãos. Temos filhos totalmente diferentes dos pais e também presenciamos filhos que são muito parecidos com eles em muitos aspectos ligados ao temperamento.
Um deles é o espírito empreendedor. Já presenciamos junto às famílias empresárias que não temos apenas um membro com perfil arrojado, proativo, fazedor e criativo, mas sim dois. Por exemplo, pai e filho.
Em muitos casos, quando o filho está ingressando na empresa familiar, vai se formando um ambiente de desgaste. Tendo o filho temperamento semelhante ao do pai, ele não encontrará espaço para dar vazão às suas ideias e impulsos.
O pai se torna uma barreira. Já ocupa os espaços, manda no negócio e tem todo o direito de impor suas vontades. O filho precisa obedecer e seguir as orientações dos mais velhos. Ele se rebela em muitos casos.
O que fazer? Diversos caminhos podem ser trilhados para que todos continuem felizes e que o desgaste não leve a conflitos mais sérios e danosos para a organização.
Antes de mais nada os pais precisam acompanhar e observar de perto quais são os perfis de personalidade dos filhos. Detectando situações que preveem choques de personalidade, caminhos profissionais alternativos devem ser traçados para o futuro herdeiro.
Em primeiro lugar é muito importante que ele possa aprender na prática, ou seja, estagiar e trabalhar em outras empresas. Rapidamente esse filho irá observar o que faria ou não se tivesse seu próprio negócio. Não pode interferir pois o negócio não é seu. Se situação semelhante ocorresse na empresa da família, já tentaria mudar por conta própria ou discutiria com seu pai ou tio a questão de forma agressiva. Pronto, o mal estar e conflito pode estar armado.
Outra alternativa, seria elaborar um plano de carreira para o filho no próprio negócio da família com um acompanhamento bem próximo de um gestor. Haveria a ideia, trazida pelo próprio filho ou existente na empresa para um novo negócio ou uma nova atividade num campo de atuação já existente. Por exemplo criar uma área de Tecnologia da Inovação, montar um negócio de exportação ou formar parcerias estratégicas. A responsabilidade do desenvolvimento e colocação em prática dessas novas atividades deveriam ser passadas à filha ou filho empreendedor. É claro que no início com o devido cuidado e respaldo até de consultores ou mentores externos. O pai e tio se for o caso, continuariam a tocar os negócios usuais e acompanhando via conselho por exemplo as novas atividades.
Outros herdeiros se sentindo infelizes nos negócios familiares decidem se afastar e criar os seus próprios negócios. Acompanhamos casos de muito sucesso. Para buscarem o capital necessário às novas atividades recorrem a investidores externos. Esses poderão ser apenas sócios capitalistas ou parceiros de negócios. Em muitos casos o investidor poderá ser a própria família empresária.
Como visto, existem inúmeras possibilidades e oportunidades que podem ser criadas para que o negócio da família prospere e cresça sem necessariamente se criar terreno para atritos.
O que em todo caso é muito importante é que os filhos que eventualmente se afastarem da operação do negócio familiar estejam do outro lado muito presentes na governança da empresa. A sua presença no conselho e comitês pode ser de muita valia, assegurando igualmente as bases para a perpetuação do negócio familiar.