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Um bigode, o Carnaval e a diplomacia

Rainier Michael, Cônsul da Eslovênia - Rafael Furtado/Folha de Pernambuco

Em pleno Século XXI, o resgate de demonstrações regionais e tradicionais ganham força (e como!) em Pernambuco. Essas demonstrações, como o Carnaval, considerado ‘Soft Power” na diplomacia, são fundamentais para mantermos a nossa identidade e unidade como pessoas e como país, em um mundo globalizado.

Os fatores emocionais e financeiros são decisivos na construção de uma ação diplomática de um país, com todas as complexidades intrínsecas, dentre todos os outros fatores e interesses envolvidos.

Podemos citar a União Europeia como ilustração. Trata-se de um desdobramento da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (23 de julho de 1952), tendo sido essa a primeira organização supranacional no âmbito europeu que se concretizou para, mais tarde, dar origem à integração europeia.

Poucas pessoas sabem que a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço surgiu como consequência do conflito fronteiriço entre a Alemanha Ocidental e a França pós-Segunda Guerra Mundial. Foi um período de recursos escassos, e o domínio do carvão e minérios de ferro era de suma importância para o desenvolvimento industrial.

Ou seja, nesse caso, nasceu não pela herança cultural em comum, mas, simplesmente, pela necessidade de um acordo entre os dois países e suas respectivas indústrias de carvão. Outra questão que vale lembrar é que, se fôssemos desenhar os países baseados na origem étnica, cultural e linguística, o mapa seria completamente diferente. Qual será o futuro de uma comunidade gerada dentro de uma visão de “identidade financeira”? Esse “experimento” está em andamento e não existe uma simples reposta, apenas já podemos ter uma ideia pelos desdobramentos do “Brexit”.

Outra reflexão que trago é o Carnaval, festa existente em vários países, com origens distintas, mas que tem sido politizado, o que é lamentável, pois tira, justamente, a pluralidade de uma importante festa popular que emana por exemplo: de raízes religiosas e culturais de variadas matrizes, formando a identidade de um país.

Ao introduzir uma ação ou mensagem política, estamos limitando e até decapitando a verdadeira demonstração cultural e suas raízes regionais ou o que chamamos de “Soft Power” de um país, tão importantes para o Turismo e a nossa identidade nacional. Vale lembrar que a identidade nacional de um país deveria estar acima de qualquer visão político partidária.

Se nós não valorizarmos o que é regional e nosso, não devemos esperar dos outros. Termino aqui com a história do Bigode do Abhinandan, pois, hoje, todos na Índia querem um bigode como o do piloto do avião abatido no conflito aéreo da semana passada, entre Índia e Paquistão.

Após ter sido abatido no Paquistão e capturado pelas autoridades, o tenente-coronel Abhinandan Varthaman tornou-se símbolo da tensão entre os dois países. Libertado, virou herói junto com seu bigode.

Quantas vezes um freio de arrumação nos ajudou a valorizar nossas raízes?

Empresário há 35 anos e Presidente do Iperid (primeiro THINK TANK do Nordeste) – Instituto de Pesquisa Estratégica em Relações Internacionais e Diplomacia, Rainier Michael tem ampla experiência em trocas internacionais. O trabalho realizado por ele junto ao consulado esloveno, e designado “Diplomacia Econômica”, interpreta sob uma visão humana o desenvolvimento e o crescimento do Nordeste. Paulista de nascença, Michael se mudou para Pernambuco há dez anos, quando seus negócios no Estado cresceram de forma a tornar indispensável sua presença aqui. Seu comparecimento nos mercados pernambucanos, entretanto, é mais antigo do que isso. Antes de assumir o consulado, já era representante da DBG - Sociedade Brasil-Alemanha no Nordeste. É destacável, também, sua atuação enquanto presidente do Rotary Club Recife Boa Viagem. ([email protected])

* A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas.

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