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Será que temos o que comemorar no Dia das Crianças?

Dia das Crianças - Freepik

Por Fábio Silva, CEO da Rede Muda Mundo

A cada ano, no Dia das Crianças, somos convidados a refletir sobre o que realmente temos a comemorar. No Brasil, o que deveria ser uma celebração da infância muitas vezes se torna um dia de consumo e festividades superficiais. Mas será que estamos de fato garantindo o bem-estar das nossas crianças?

Sou pai de duas meninas. Sofia tem 16 anos, e Nina tem 12. Elas nasceram em um ambiente de tranquilidade, onde puderam ser crianças, estudar, se alimentar e ter onde dormir. Além disso, tiveram acesso a aulas de balé, inglês, lazer, boas relações, uma ótima escola e plano de saúde, graças às oportunidades e ao esforço familiar. Esse é o retrato de uma parte privilegiada do Brasil, onde há o que comemorar no Dia das Crianças: dar presentes, celebrar e fazer postagens nas redes sociais. No entanto, essa não é a realidade da maioria das crianças brasileiras.

Nos últimos 12 anos, à frente da Rede Muda Mundo, tenho trabalhado para incentivar as pessoas a olharem além de suas próprias bolhas, cultivando a solidariedade, generosidade e o engajamento social. O Dia das Crianças, assim como todos os dias, deve ser um momento de reflexão sobre como o nosso país tem cuidado de suas crianças, principalmente das que vivem em situação de vulnerabilidade. Quais são as políticas públicas voltadas para elas? Como estamos preparando essas crianças, desde a infância até a adolescência, para terem oportunidades de crescer e se desenvolver?

A realidade é que a maioria das crianças no Brasil não tem acesso aos mesmos privilégios que minhas filhas. Elas dependem de uma educação pública muitas vezes precária, e as oportunidades de lazer e cultura são limitadas, especialmente nas periferias. Se o futuro do Brasil está nas crianças, como sempre ouvimos dizer, esse futuro precisa estar conectado com uma educação de qualidade, com oportunidades reais e com o direito de sonhar.

Um ponto crucial dessa discussão é o papel das empresas. Como o empresariado está olhando para essas crianças, que não ingressarão no mercado de trabalho tão cedo, mas que já fazem parte do contexto social em que suas empresas estão inseridas? Quantas empresas possuem programas em suas comunidades, nos bairros onde estão localizadas, para cuidar dessas crianças? O investimento em projetos voltados para a infância, dentro das estratégias de responsabilidade social e ISG (Environmental, Social, and Governance), é essencial.

Em minhas visitas a várias comunidades pelo Brasil, de Norte a Sul, percebo algo que me preocupa. As crianças ainda amam futebol, mas já não vestem camisas de clubes brasileiros, nem idolatram atletas nacionais. Isso me faz questionar: por que os ídolos do esporte no Brasil não inspiram mais as crianças das periferias, de onde muitos deles vieram? Será que o baixo engajamento do país com o esporte, com a educação e com a própria juventude está contribuindo para essa desconexão?

Um país que verdadeiramente se preocupa com suas crianças precisa de políticas públicas consistentes, que transcendam governos e se consolidem como um projeto de nação. Essas políticas devem garantir acesso a uma educação de qualidade, ao lazer e à cultura, principalmente para as crianças das periferias, onde estão concentradas as maiores desigualdades.

Além disso, precisamos de mais engajamento por parte de todos os setores da sociedade. Empresas, organizações sociais e governos precisam medir e melhorar a qualidade de vida das crianças no Brasil, garantindo que todas tenham oportunidades iguais. Somente assim podemos começar a construir um futuro melhor para o país.

Se quisermos ser uma nação que verdadeiramente ama suas crianças, precisamos agir todos os dias, e não apenas em uma data comemorativa. Afinal, todo dia é Dia das Crianças, e o futuro do Brasil depende das ações que tomarmos agora.

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