Uma produção de ignorantes precisa parar!

Estou em Portugal, numa série de agendas de reuniões, palestras e muitos aprendizados. Sair do ecossistema da Rede Muda Mundo (Transforma, Porto social, Casa zero, Fábrica do Bem e Novo Jeito) para beber em outras fontes faz a inovação social que fazemos no Brasil sempre se autoalimentar. A energia de fazer parte de novas redes fará com que este movimento de impacto cultural e socioambiental nunca pare. É a força e a energia da inovação sempre muito presente.

Poderia listar aqui as experiências que vivi ao longo dos últimos dias, nas terras lusitanas, ligadas a inovação de pessoas que estão promovendo laboratórios humanos através de programas colaborativos, movimentos na e para a sociedade, negócios sociais disruptivos ou até mesmo associações sem fins lucrativos, mas com um forte pegada do empreendedorismo social. Mas vou relatar três delas e, ao final, você vai perceber que o que há de mais valioso é a cultura do propósito. 

Estive muito próximo do Filipe Almeida,  presidente da Estrutura de Missão Portugal Inovação Social (EMPIS), entidade que assegura a coordenação e gestão da iniciativa pública Portugal Inovação Social, programa pioneiro na Europa que mobiliza cerca de 150 milhões de euros de fundos da União Europeia para promover a inovação e o empreendedorismo social e dinamizar o mercado de investimento social em Portugal.  Resumo: a maior inovação de tudo que já vi correndo o mundo é um programa de desenvolvimento econômico e social juntos para combater as mazelas sociais portuguesas. 

Não é possível fazer o bem em escala sem dinheiro, ouviu Recife, Pernambuco, Brasil? De nada adianta profissionalizar, acelerar, incubar milhares de líderes e iniciativas sociais no nosso País se eles não forem reconhecidos por gestões públicas como solução. Estamos falando mais do que ser citado ou receber um “parabéns” nas redes sociais. Eles precisam de acesso a fundos de investimento! 

Se temos foco no investimento da economia para crescimento do emprego da renda, dos salários também, temos que ter investimento no social e via iniciativas e líderes que já são soluções nos seus territórios. Isso promoverá um impacto em grande escala na vida de quem mais precisa, as classes C, D e E.  Além de construir uma melhor atmosfera social para todos. Vamos copiar Portugal? Prefeito, governadora, presidente? O mais caro já foi feito: a rede de impacto.

Passei dias me dividindo entre Lisboa e Coimbra, cidade dos poetas, dos estudantes, do fado e dos apaixonados. Quero destacar, para finalizar minhas observações, duas iniciativas vividas neste território. A da Universidade de Coimbra, junto com o Transforma (nossa solução de engajamento cívico, prática do voluntariado) que criou uma plataforma - o “match do bem” como um Uber, Tinder, só ligando quem precisa de ajuda com quem pode ajudar. A experiência de Coimbra precisa ser compartilhada. A cidade universitária, de 140 mil habitantes, abriga mais de 25 mil alunos vindos de 79 países diferentes. Isso significa que quase 20% das pessoas que vivem nela são estudantes e estrangeiros. Tem ideia da falta do pertencimento que isso pode causar numa cidade? A cidade pode não ser minha e nem de ninguém. 

Aí entra a vontade acadêmica de Coimbra, e muito através da sua vice-reitora, Cristina Albuquerque de um programa de voluntariado para a cidade com os alunos da universidade. Já temos quase 10 % dos alunos cadastrados na UC Transforma - o “match do bem” de Coimbra. Estamos assistindo ali o ser do humano do futuro sendo produzido, lapidado. Podemos enxergar o processo de transformação em tempo real. Um profissional do futuro com grande competência técnica - Coimbra é reconhecida como uma das mais importantes universidades do mundo - e agora com grande desenvolvimento humano, empático, sensível e antenadas às habilidades, as soft skills, competências pessoais relacionadas a comunicação e relacionamento interpessoal, tão importantes no mundo moderno. 

Vale a reflexão para o Brasil. Qual universidade pública no país tem hoje um programa referência de voluntariado para forjar esse profissional cidadão, este cidadão profissional do futuro? Com tristeza posso responder, sendo o principal empreendedor social brasileiro no mundo na área de soluções para o crescimento do voluntariado através da inovação social: nenhuma. E vou além,  nem no ensino técnico ou médio. Estamos focados na educação do passado - quase num mundo 4.0 vivendo período da sem os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, temas ligados aos assuntos climáticos, e sem o trabalho como propósito de vida e não apenas como sustento. 

É triste demais nossa realidade hoje, ainda sem solução para o futuro, produzindo um plantel de ignorantes - que ignoram o valor do engajamento, do voluntariado e da participação social e da capacidade de realizar mudanças quando todos trabalham juntos. Precisamos investir numa educação colaborativa e inovadora e que forme novos líderes sociais, que não precisam estar na política, mas trabalhando continuamente na inovação social

Empreendedor social e idealizador da Casa Zero


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