Brasil: processo de combustão à eletrificação exige cautela, diz vice-presidente da Stellantis

Comparativo de emissões de CO2 confirma vantagens do etanol para uma mobilidade mais sustentável

Apesar do veículo elétrico não emitir C02 durante o uso, para ser produzido, ele demanda energia que emite o gás em grandes proporções - Freepik

Muito se fala sobre a eletrificação da indústria automobilística, mas pouco se sabe sobre o que precisa ser feito para que essa realidade de fato aconteça. Desde o começo da cadeia de produção até o uso do veículo pelo consumidor, o processo precisa ser adaptado para uma reindustrialização. Mas, para isso, é preciso pensar em soluções de mobilidade sustentável e acessível para descarbonização.

Esse foi o assunto de coletiva de imprensa que ocorreu nesta terça-feira (11), no Recife, com o vice-presidente de assuntos regulatórios da Stellantis na América do Sul, João Ireneu Medeiros, que alertou para a necessidade de pensar que apesar do veículo elétrico não emitir C02 durante o uso, para ser produzido, ele demanda energia que emite o gás em grandes proporções.

O ideal seria que toda a cadeia passasse pelo processo de descarbonização. Ou seja, não é só eletrificar, é preciso mudar a fonte da produção do veículo para que se diminua a emissão e isso não só ocorra no escapamento durante o uso do carro.

É importante pensar em economia circular, na qual o desenvolvimento de produtos mais eficientes em termos de CO2 e na cadeia de fornecedores passa pela manufatura mais eficiente, pelo produto, pela rede de concessionários e pelo usuário. Ao fim do ciclo do produto, outro ciclo se abre, com a remanufatura, reuso e reciclagem.

Segundo João Ireneu, para essa transição acontecer, é preciso manter o equilíbrio econômico, social e ambiental, para que o contribuinte e a natureza não paguem pelo prejuízo que uma mudança drástica pode trazer.

“Não adianta investir numa tecnologia de descarbonização em um região que ainda não tem capacidade e recursos para a mudança. É preciso ser aos poucos para a cadeia produtiva não ser penalizada”, explica João Ireneu.

Perspectivas
O Brasil é o quarto país que mais emite CO2 no mundo, ficando atrás da China, EUA, União Europeia e Índia. Os dados mostram que 27% das emissões ocorrem por mudança de uso da terra e florestas; 35% agropecuária; 17% energia; 13% transporte; 2% em processos industriais; e 5% em resíduos.

No total são 72% de emissão de carbono pelos setores de energia e transporte

João Ireneu Medeiros, vice-presidente de assuntos regulatórios da Stellantis na América do SulJoão Ireneu Medeiros, vice-presidente de assuntos regulatórios da Stellantis na América do Sul | NTB Conteúdo/ Stellantis

A Stellantis, uma das principais fabricantes de automóveis e fornecedoras de mobilidade do mundo e responsável pelo Polo Automotivo de Goiana, em Pernambuco, trabalha num projeto que pretende reduzir as emissões de CO2 em 50% até 2030 e zerar até 2030.

Para isso, o grupo vem investindo em soluções de descarbonização graduais, estimulando o uso do etanol e de veículos híbridos enquanto a indústria brasileira se adapta às necessidades para sustentar a fabricação, comercialização e utilização de carros elétricos.

Teste
A empresa fez um teste dinâmico no qual simulou um veículo que foi alimentado com quatro fontes distintas de energia, a fim de mensurar a emissão total de CO2 em cada situação. O automóvel foi abastecido com etanol e comparado em tempo real com a mesma situação de rodagem em três alternativas simuladas: com gasolina tipo C (E27); 100% elétrico (BEV), abastecido na matriz energética brasileira, e 100% elétrico (BEV) abastecido na matriz energética europeia.

Na comparação, foram utilizadas uma combinação da metodologia de cálculo e simulação da Stellantis com a tecnologia de conectividade desenvolvidas pela Bosch, que consideram não apenas a emissão de CO2 associada à propulsão do veículo durante o uso, mas as emissões correspondentes à produção do combustível ou geração da energia utilizada, considerando o ciclo de vida do veículo.

Nesta metodologia de análise, está incluído o conceito ‘do poço à roda’ (well-to-wheel), que se refere especificamente ao ciclo do combustível ou energia.

Durante o teste comparativo realizado, o veículo percorreu 240,49 km e foram obtidos os seguintes resultados de emissões de CO2, via simulação, durante o trajeto:

Gasolina (E27): 60,64 kg CO2eq

100% elétrico (BEV) com energia europeia: 30,41 kg CO2eq

Etanol (E100): 25,79 kg CO2eq

100% elétrico (BEV) com energia brasileira: 21,45 kg CO2eq

O saldo final mostra que, na comparação entre os dois combustíveis, o uso do etanol evitou a emissão de 34,85 kg de CO2eq no trajeto, o equivalente a 144 gramas de CO2eq por quilômetro rodado. O veículo abastecido com etanol reduz mais de 60% a pegada de carbono.

Para o Brasil, o caminho seria começar com o híbrido?
Para fazer o processo de eletrificação dos veículos brasileiros, é preciso, antes, passar por etapas de descarbonização de toda a cadeia e de incentivos governamentais para que toda uma indústria possa se renovar. Um dos caminhos apontados é começar pelo investimento em veículos híbridos.

A matriz energética brasileira, em que se destacam os biocombustíveis e a energia elétrica gerada por meios renováveis, é uma vantagem comparativa do país, que pode ser usada para promover uma mobilidade mais sustentável.

A Stellantis trabalha a opção estratégica de desenvolver no Brasil soluções, tecnologias e componentes para veículos híbridos que combinem etanol e eletrificação. Para organizar estes esforços, a empresa lançou a plataforma BIO-ELECTRO, que, junto com parcerias estratégicas, visa a acelerar o desenvolvimento e implementação de novas soluções de motopropulsão e de descarbonização da mobilidade com objetivo estratégico de nacionalizar soluções, tecnologia e produção, impulsionando uma onda setorial de reindustrialização.

Na América do Sul, a Stellantis busca a múltipla matriz energética, a fim de aproveitar as vantagens competitivas regionais para tornar a propulsão mais limpa e eficiente. A análise regionalizada mostra que a necessidade de descarbonização do Brasil se dá em uma realidade específica e distinta de outras regiões do planeta.

“Quando considerado no conceito well-to-wheel (no caso, do campo à roda), o etanol é altamente eficiente quanto às emissões, porque a cana-de-açúcar em seu ciclo de desenvolvimento vegetal absorve de 70% a 80% do CO2 liberado na produção e queima do etanol combustível”, diz o vice-presidente de assuntos regulatórios da Stellantis.

A combinação do etanol com a eletrificação em propulsão híbrida, que combina motor a combustão e motor elétrico, seria uma alternativa adequada para o país como transição para uma mobilidade sustentável de baixo carbono, pois pode permitir o acesso de faixas maiores do mercado consumidor a tecnologias de baixa emissão.

Os elétricos, embora sejam eficientes no processo de descarbonização, têm um custo muito elevado, que impede sua aquisição por amplas faixas de consumidores. A solução 100% elétrica ainda não tem a escala necessária e precisa ser desenvolvida e aprimorada, para que possa entrar como alternativa de massa em uma estratégia efetiva de descarbonização em um país em desenvolvimento com características de renda como as do Brasil.

“A descarbonização precisa ser iniciada o quanto antes e é a nossa alternativa do momento, mas pensando, é claro, no 100% de eletrificação como o principal caminho que a mobilidade sustentável precisa trilhar. O emprego do etanol combinado com eletrificação é hoje a opção mais rápida e viável do ponto de vista social, econômico e ambiental para uma crescente eletrificação da frota brasileira”, explica João Ireneu Medeiros.

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