Do carro de passeio à van preparada, mulheres comandam motorhome na estrada

Mulheres são exemplos, pegam a estrada sem medo e encaram as rodovias explorando novos lugares

As amigas Lionela Marques e Annelise Streich resolveram adaptar um Fiat Idea - Cortesia

Viajar sozinho em um motorhome é um desafio que vai muito além da coragem. É pegar a estrada sem medo, encarar as rodovias e explorar novos lugares sem hora pra voltar. E isso pode ser feito com ou sem um roteiro definido. Mas, para isso, é preciso adquirir um veículo ou então adaptar um automóvel já existente. 

Para uma mulher, especificamente, é um desafio ainda maior. Levantamento recente do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) aponta que violência e assédio são as principais causas de preocupação entre mulheres no Brasil. 

Fechando o mês de março, dedicado à reivindicação de pautas femininas, reunimos histórias inspiradoras de mulheres que decidiram se aventurar pelas estradas do Brasil em um motorhome.

“Com a Malvina, sinto que ganhei mais tempo”, afirma Gilka Reinert Ribas, de 60 anos, que, após a aposentadoria, viu uma oportunidade de viajar Brasil afora a bordo de uma Kombi ano 2013. Passados anos de trabalho, no momento de se afastar definitivamente, Gilka decidiu que iria reformar sua casa. Contratou um arquiteto para fazer o projeto. Depois de pronto, avaliou que não ficaria satisfeita em ficar dentro de casa sem “fazer nada”. 

Tenho que aproveitar a vida, né?! Em uma viagem ao Rio de Janeiro, fui ao morro do Vidigal e desci de Kombi. Achei um barato! Nesse momento, deu um estalo de comprar uma Kombi e montar uma casa nela. Por que não?!, pensou Gilka. 
 

Com chave da Kombi em mãos, o projeto levou cerca de seis meses para ficar pronto. A Kombi foi batizada de Malvina -nome da avó materna de Gilka. “Era uma mulher extremamente forte, fora dos padrões para a época. Era até engraçada, de tão determinada e independente. Eu sempre fui muito apegada a ela e daí o nome”, explica. 
 

Na foto, Gilka sentada ao lado da cachorrinha Anny e da filha, Sara, na Kombi Malvina 

A Kombi 2013 é equipada com cama de casal, fogão, microondas, TV, chuveiro, porta-potti (vaso sanitário), climatizador, toldo, água quente, além de armários. A primeira viagem de Gilka no comando da Malvina foi para um camping na praia de Itamambuca, no litoral norte de São Paulo. 
 

 

“Queria sentir o funcionamento da Malvina e choveu todos os dias, mas, mesmo assim, amei a experiência. Depois viajei de São Paulo a Florianópolis e também foi espetacular. Tudo deu certo”, conta. Foram cerca de 1.600 quilômetros entre o trajeto de ida e volta.
 

Mas a sua viagem inesquecível foi para uma feira de motorhome. “Tive a chance de conhecer várias pessoas com as mais diversas histórias, trocar experiências e entender, embora já um pouco tarde, que a vida é muito mais simples e que não se precisa de muito pra ser feliz”, acrescenta.

Com uma filosofia de vida semelhante, as amigas Lionela Marques e Annelise Streich resolveram adaptar a forma de trabalhar para conciliar com as viagens de motorhome. Com um investimento de R$ 3,5 mil, elas fizeram adaptações em um Fiat Idea. As mudanças levaram cerca de sete meses para ficarem prontas . “A gente sempre gostou muito de viajar e uma viagem de carro, fazendo nosso próprio roteiro, sem data pra terminar era um sonho e foi esse o motivo”, conta Lionela, que ficou responsável em passar as informações à reportagem. 

“Tiramos o banco de trás e fizemos umas caixas que servem como armários e base para o colchão. Temos, também, as lonas para o banho, que prendemos com velcro no porta-malas. Fizemos, também, uma caixa d'água para uso exclusivo de banho e louça”, explica Lionela.
 

 As amigas Lionela e Annelise e o mascote Sakê

Sem roteiro pré-definido, as amigas procuram ler um pouco mais sobre as cidades antes de viajar e aproveitam as redes sociais para conseguirem dicas com os seguidores. Juntas, as duas já percorreram oito estados brasileiros: Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. O percurso tem cerca de 2,3 mil quilômetros de distância. 

“Começamos a viagem de carro recentemente, mas, mais para frente, pretendemos fazer outros países da América do Sul”, revela. Das viagens preferidas, o Sertão de Pernambuco foi um dos locais que certamente ficará guardado na memória das amigas. 

O Vale do Catimbau, em Pernambuco, por exemplo. Não postamos em tempo real, então ainda não mostramos nada sobre Catimbau, mas amamos, porque foi nosso primeiro contato com o Sertão e, além de ter paisagens incríveis, foram cidades que nos sentimos seguras, diz Lionela.

E, por falar em segurança, com viagens a diversos locais desconhecidos, há que se ter preocupação mesmo. “Hoje, toda vez que mudamos de cidade, ainda temos essa preocupação, porém, até aqui, não tivemos nenhum problema em relação à nossa segurança, e tem sido mais tranquilo do que imaginávamos. Claro que priorizamos dormir em cidades com poucos habitantes e isso faz muita diferença”, diz Lionela. 

O Fiat Idea usado pelas amigas tem um nome curioso: Dea. “A Anne brinca chamando o carro de 'Dea', porque caiu a letra I do nome”. Além das amigas, um outro companheiro viaja a bordo do Fiat “Dea”. Aos 11 anos de idade, Sakê é o cachorro viajante mascote das amigas Lionela e Annelise. 
 

De motorhome, é possível ter mais liberdade para viajar por onde bem entender. Com um veículo adaptado que supre as necessidades, a estrada é apenas o percurso de um destino que pode mudar todos os dias. “De carro, temos a liberdade de ir e vir para onde e quando queremos. Além disso, não temos custo com hospedagem e alimentação já que o carro tem sido nossa casa”, afirma Lionela.

Mais liberdade, segurança e descobertas. É dessa forma que Heloisa Velloso, aos 56 anos, enxerga a vida a bordo de um motorhome. Com investimento de aproximadamente R$ 220 mil, Heloisa adaptou às suas necessidades uma Mercedes Sprinter.  
 

Sempre quis ter motorhome e nunca tive experiência. Morando nos EUA nos últimos quatro anos, consegui fazer uma viagem e tomei a decisão que, de fato, é um novo estilo de vida, explica Heloisa. 

A lista de itens de Gita, nome dado ao motorhome, é extensa. O veículo dispõe de energia 100% em baterias, painel solar, aquecedor a diesel, manta protetora para não congelar reservatório de água, sistema de monitoramento, máquina de lavar roupa, toalheiro aquecido, fogão de indução, forno elétrico, refrigerador, cama com alargador, smart TV, entre outros itens.

“Não é só uma viagem de fim de semana. Resolvi encorpar esse modelo de viagem”, diz Heloisa, que já pretende viajar pelo Brasil com planos para iniciar neste semestre. Além do país, ela revela que tem planos de também viajar com Gita por outros países da América do Sul. 

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