Do Fusca à Amarok: brasileiros adaptam carros como solução para viajar
O desejo de viajar é quase unânime entre as pessoas. Mas, diante dos custos com passagem aérea, alimentação e hospedagem, muitos desistem. Há, por outro lado, quem encontre uma forma de ultrapassar fronteiras e conhecer os mais diversos locais. Com algumas adaptações, é possível tirar o carro da garagem e ganhar o Brasil.
Ao fazer uma pesquisa rápida pelas páginas da internet, é possível encontrar brasileiros que optaram pelo caminho do motorhome - em livre tradução, seria o veículo com cara e aconchego de casa. É como o casal sergipano Cláudio Silva e Carol Mendonça resolveu fazer. Juntos há cerca de dois anos, os dois tinham um Fusca ano 1970 e largaram seus trabalhos para viver pela estrada. Carol tinha o sonho de conhecer o Peru, mas tinha que ir de carro. Cláudio, então, disse que só iria se fosse no Fusca.
“Fizemos algumas preparações e decidimos que iríamos fazer a volta em toda América do Sul com o Fusca. Tivemos a ideia de fazer um documentário, no caminho, para ajudar com os custos da viagem. Foram quase 400 dias na estrada e conhecemos Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina”, conta.
Inicialmente, as adaptações do Fusca, chamado carinhosamente de Lindomar, incluíram a troca do banco traseiro por um armário. O xodó do casal também ganhou uma barraca de teto e um bagageiro no fundo.
A aventura, que, no início, seria de poucos meses, durou mais de um ano. “No meio do caminho, a gente estava muito feliz. Vimos que, na estrada, um ano seria muito pouco. Nosso roteiro não era bem definido, no meio do caminho, a gente escolhia onde queria ir”, revela Carol.
"Por outro lado, por ser um carro antigo, é bem difícil. Pouco espaço requer muita manutenção, tem o tempo dele. Mas acho que no nosso caso foi muito mais vantajoso estar com o Fusca”, explica a viajante.
Com a chegada da pandemia, os planos de viajar precisaram ser adiados. Mas a ansiedade para retornar é grande e os fusconautas (como se autointitulam) continuarão as viagens com o Fusca 1970 quando a pandemia passar. O destino já é certo. O casal pretende mostrar a região Nordeste na próxima aventura.
E, antes da pandemia de Covid-19 ter início, o casal João Mileski e Carina Furlanetto, do Rio Grande do Sul, tiraram um Renault Sandero da garagem e viajaram por toda América do Sul sem nenhuma adaptação. Eles apenas deitavam os bancos da frente e, ali mesmo, dormiam durante as viagens.
Foram 50 mil quilômetros rodados e 168 noites de sono sem adaptações no Sandero. “Era a maneira que encontramos para viabilizar a viagem”, explica Mileski.
A aventura rendeu um livro ao casal, no qual a viagem pela América do Sul é detalhada. João e Carina também criaram uma loja online para ajudar nas receitas. Mas a vontade em seguir pela estrada é grande. O casal resolveu adaptar o Sandero de uma forma que desse mais comodidade e agora a meta é viajar o Brasil em dois anos.
“Nessa adaptação, gastamos cerca de R$ 200 com madeira para construir um baú e guardar itens. Ganhamos um colchão terapêutico que está ajudando muito em nossas noites de sono, que estão sendo maravilhosas”, comemora o casal em áudio enviado à reportagem.
"Antes não tinha adaptação, mas priorizamos lugares em que não precisava pagar. Já dormimos em ruas residenciais, beira de lago, na beira de estrada, praças. Fomos aprendendo a nos virar no dia a dia. Temos uma bateria extra para uma panela elétrica que utilizamos para cozinhar nossas refeições e economizar. Mas não deixávamos de provar algumas iguarias para conhecer a cultura local”, explica Carina.
Após tantos quilômetros na estrada e muitas vivências, Mileski ressalta que um ponto importante é a autonomia que o carro proporciona. “Pela América do Sul, buscamos casas de pessoas ou parcerias com estabelecimentos Mas se, porventura, não tivéssemos nada, tínhamos a garantia de ter um teto. O carro te proporciona isso”, destaca.
Viajar com conforto requer mais investimentos
Mesmo que seja para viajar esporadicamente, há quem invista pesado para ter todo o conforto possível durante os dias na estrada. Nayra Lucheli e Bruno Carminati, ambos do Paraná, têm uma Amarok V6 e fizeram uma transformação radical no veículo. O casal contratou uma empresa para construir um motorhome direto no chassi da picape.
Nayra e Bruno geralmente viajam por cerca de, no máximo, duas semanas a cada 40 ou 60 dias. Mas o plano do casal é passar mais tempo na estrada. “Muitos perguntam se moramos na estrada ou se temos vontade, mas nossas aventuras são apenas hobby”, explicam.
Juntos, já conseguiram conhecer Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás e Bahia. Sobre o investimento, sem especificar, Nayra ressalta que um projeto como o que foi feito na Amarok do casal parte de R$ 230 mil.
O motorhome tem cozinha, área gourmet, chuveiro a gás, vaso sanitário, armazenamento de água potável, tudo encanado. Além disso, ainda tem espaço para cama de casal, sofá, mesa, televisão, ar-condicionado e guarda-roupas.
“Mexemos na suspensão, pneus, rodas, colocamos snorkel, tudo à parte. A pintura foi criação minha e do Bruno. Mesmo com a pandemia, respeitamos todas as normas, mas, como estamos com nossa casa, tudo fica mais fácil”, explica Nayra.
Como a Amarok V6 tem uma tração 4x4, Nayra e Bruno conseguem fazer uma viagem com mais aventuras, estradas de chão, entre outros obstáculos. Com base numa viagem de dois mil quilômetros, durante oito dias na estrada, o casal estima que entre combustível, alimentação e possíveis pedágios, o custo fica em média R$ 2.200.
E as viagens de carro se tornaram tão divertidas para o casal que o avião só é uma opção quando não é possível chegar com a Amarok V6. “Para nós, a jornada, as risadas, o percurso, as paradas é a melhor parte. Quando vimos um lugar legal, temos a liberdade de parar, essa parte é demais. Outro ponto positivo é que Bruno gosta demais de dirigir. Não adianta querer viajar assim e não gostar”, pondera Nayra.