Entenda como a crise dos chips está afetando as vendas de carros no Brasil
Os semicondutores vêm dando o que falar no mundo automotivo. Com a falta do produto no mercado, as fabricantes estão sofrendo para produzir os automóveis, que dependem (e muito) desse componente. No Brasil, a planta da Chevrolet que produz o carro mais vendido do país, o Onix, está fechada desde março e só deve retornar à normalidade em agosto. Volkswagen, Nissan e outras montadoras também já anunciaram paralisações nas linhas de produção.
Para se ter noção da importância dessa “pecinha”, em um único veículo podem ter até 600 semicondutores em seus sistemas eletrônicos de motorização, câmbio, segurança, conforto e entretenimento.
De acordo com a Chevrolet, os semicondutores estão distribuídos da seguinte maneira em carros mais tecnológicos a combustão: 30% entre os sistemas de segurança, 30% entre os sistemas de conforto e conveniência, 25% entre os sistemas de conectividade e 15% entre os sistemas de propulsão.
“Quanto mais avançada é a arquitetura de um veículo, melhores são seus aspectos de dirigibilidade, proteção aos ocupantes e comodidade a bordo. E são os sistemas eletrônicos que maximizam tudo isso”, explica o líder de Engenharia Elétrica da GM América do Sul, Plinio Cabral Jr.
Um exemplo prático para entender o funcionamento dos semicondutores é o assistente de permanência na faixa. Ele atua quando o carro começa a mudar de faixa, por distração do condutor. Ela gera um alerta e esterça levemente o volante para tentar devolver o veículo de volta ao rumo. Para tudo isso, é necessário um semicondutor.
PREÇO DA MODERNIDADE
Para o especialista técnico em Elétrica do Senai-PE Frederico Cézar, o semicondutor é de extrema importância para a fabricação de veículos modernos. “Ar-condicionado digital, Wi-Fi, injeção eletrônica, botão de partida: essas comodidades e toda a parte elétrica dos carros dependem dos semicondutores”, detalha.
Sendo assim, os carros modernos não conseguiriam nem mesmo ligar por conta da falta do componente. No entanto, seria necessário abrir mão da tecnologia para o carro funcionar, na medida em que os carros mais antigos não precisavam do componente para ligar ou andar. “Os carros até funcionam sem, mas não seria viável, na medida em que perderiam toda a tecnologia embarcada”, conclui.
A grande questão é que a falta dos semicondutores está gerando um gargalo na produção dos automóveis e tantos outros produtos que dependem do fornecimento desse componente.
De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) desde janeiro, o nível de produção fica entre 190 mil e 200 mil, o que revela uma espécie de “teto técnico” provocado não pela falta de demanda, mas pela crise global de fornecimento de semicondutores. Segundo o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, esse problema deve se alongar até os primeiros meses de 2022.
FÁBRICAS FECHADAS
Com boa parte da produção de semicondutores concentrada no continente asiático, as montadoras enfrentam um desafio e sofrem com a paralisação da produção de carros. Alguns deles chegam a ter mais de 600 semicondutores em apenas um carro.
Para se ter uma ideia da falta que o componente faz, no último dia 11, a Volkswagen resolveu paralisar a produção em três fábricas (São Bernardo do Campo e São Carlos, em São Paulo, e de São José dos Pinhais, no Paraná), por falta de semicondutor.
Outra montadora que sofre é a Chevrolet. A fabricante interrompeu a produção de Onix e Onix Plus em Gravataí (RS) no mês de março. Recentemente, chegou a paralisar também a fábrica de São Caetano do Sul (SP) que faz o Tracker.
Além dessas fábricas, Mercedes-Benz, Nissan, Renault, Volvo e Scania são outros exemplos de fábricas que resolveram paralisar as atividades. Além da pandemia da Covid-19, as montadoras sofrem com a falta de peças. A Hyundai também anunciou que vai suspender um turno de sua fábrica em Piracicapa (SP), entre 21 e 30 deste mês, reduzindo assim a produção para apenas 1 turno nestes dias.
Para o presidente Anfavea, é preciso investir na produção local desses componentes. “Estados Unidos e países da Europa captaram o sinal de alerta e já estão desenvolvendo políticas industriais no sentido de produzir localmente esses componentes eletrônicos, que são a base de toda a revolução tecnológica do 5G, internet das coisas, automação e outras já em curso”, afirma.