Sustentabilidade e tecnologia: confira as projeções do mercado automotivo para 2024

Aumento na produção e investimentos em veículos mais sustentáveis e tecnológicos

Procura por veículos híbridos deve aumentar em 2024 - Freepik

Nos últimos anos, o setor automotivo vem passado por grandes mudanças, principalmente quando o assunto é sustentabilidade e tecnologia. Esses dois pilares vão reger o mercado de autos, que, em 2023, sofreu com a crise da falta dos chips semicondutores, devido à guerra entre Ucrânia e Rússia. Em 2024, essa escassez tende a diminuir.

Conforme a Gartner, empresa voltada para tecnologia da informação, citada pela Infor Channel, a previsão é de um crescimento na receita global de semicondutores de 16,8% em 2024, totalizando US$624 bilhões. Isso contribui para o aumento da produção de veículos, já que, por exemplo, neste ano, foram deixados de fabricar 18 mil carros só na América do Sul devido à falta dos chips.

Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as projeções para o desempenho do setor em 2024 apontam um crescimento de 4,7% da produção. Isso corresponde a cerca de 2,47 milhões de veículos que devem ser produzidos pela indústria. Os números, no entanto, ainda estão abaixo do patamar superior a 2,9 milhões de unidades de antes da pandemia e da crise.

Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, acredita que a expectativa para a produção é de uma "pequena melhora" em relação a 2023 e se deve, principalmente, ao crescimento do mercado interno.

"É uma melhora que ocorre por uma projeção de alta na demanda do mercado interno, mas, na verdade, veremos uma produção estável no ano que vem, principalmente quando falamos de produção de leves", disse Leite.

Pelos prognósticos da Anfavea, para 2024, a expectativa é que tenha vendas de 2,450 milhões de autoveículos, sendo um aumento de 5,8% em comparação com 2023. O esperado é um aumento de 5,3% para automóveis e comerciais leves, e um expressivo crescimento de 14,1% para veículos pesados.

“Precisamos de todo o esforço conjunto das empresas e da sociedade para aumentar nossa produtividade, mas acredito que só em 2026 recuperaremos os níveis registrados antes da pandemia”, afirma o presidente da entidade.

Apesar do cenário ainda instável, as inovações tecnológicas e sustentáveis do setor tendem a animar o consumidor.

Confira as tendências do setor para 2024:

Veículos elétricos (VEs)

Carro elétricoCarro elétrico. Foto: Pexels

O ano continua na crescente da oferta e demanda por VEs devido a fatores como redução dos custos, melhoria de infraestrutura, além do apoio governamental para esse nicho de mercado. Muitas montadoras estão investindo em tecnologia de bateria mais avançada, aumentando a autonomia dos veículos e expandindo suas linhas de modelos elétricos.

Os dados da pesquisa da Webmotors, citada pela Mais Automotive, comprovam que 63% dos consumidores preferem os veículos híbridos e elétricos devido à essa perspectiva de economia.

Já 38% dizem que apostam nele devido ao apreço por experimentar novas tecnologias e 33% pela preocupação com o meio ambiente. A pesquisa também apontou que cerca de 61% deles estão dispostos a pagar um valor mais alto por modelos eletrificados.

Porém, vale destacar que a grande tendência é começar pelos carros híbridos para que o mercado consiga gradualmente fazer a transição para o elétrico. Esse tipo de modelo tem tido maior procura por estar também relacionado à sustentabilidade, já que reduz o trabalho do motor de combustão, diminuindo as emissões de carbono e poluentes, além de colaborar com a economia de combustível.

O vice-presidente de assuntos regulatórios da Stellantis na América do Sul, João Ireneu Medeiros, alerta para a necessidade de pensar que apesar do veículo elétrico não emitir C02 durante o uso, para ser produzido, ele demanda energia que emite o gás em grandes proporções.

O ideal seria que toda a cadeia passasse pelo processo de descarbonização. Ou seja, não é só eletrificar, é preciso mudar a fonte da produção do veículo para que se diminua a emissão e isso não só ocorra no escapamento durante o uso do carro.

Segundo João Ireneu, para essa transição acontecer, é preciso manter o equilíbrio econômico, social e ambiental, para que o contribuinte e a natureza não paguem pelo prejuízo que uma mudança drástica pode trazer.

“Não adianta investir numa tecnologia de descarbonização em uma região que ainda não tem capacidade e recursos para a mudança. É preciso ser aos poucos para a cadeia produtiva não ser penalizada”, explica João Ireneu.

Sustentabilidade

Sustentabilidade
Foto: Freepik

O mercado automotivo é um dos grandes causadores da poluição atmosférica, efeito estufa e aquecimento global. Em 2024, a busca e discussão sobre carros mais sustentáveis, como os híbridos e movidos a hidrogênio, devem ganhar engajamento.

Além da redução do carbono, vão ganhar destaque temas como energias renováveis, uso de materiais mais leves, duráveis, recicláveis e menos poluentes na fabricação dos veículos, sistema de gestão de resíduos e implementação de práticas de produção mais ecológicas, contribuindo para veículos mais eficientes em termos de combustível e melhor desempenho.

Segundo João Irineu, a matriz energética brasileira, em que se destacam os biocombustíveis e a energia elétrica gerada por meios renováveis, é uma vantagem comparativa do País, que pode ser usada para promover uma mobilidade mais sustentável.

“A descarbonização precisa ser iniciada o quanto antes e é a nossa alternativa do momento, mas pensando, é claro, no 100% de eletrificação como o principal caminho que a mobilidade sustentável precisa trilhar. O emprego do etanol combinado com eletrificação é hoje a opção mais rápida e viável do ponto de vista social, econômico e ambiental para uma crescente eletrificação da frota brasileira”, explica Ireneu.

A combinação do etanol com a eletrificação em propulsão híbrida, que combina motor a combustão e motor elétrico, seria uma alternativa adequada para o país como transição para uma mobilidade sustentável de baixo carbono, pois pode permitir o acesso de faixas maiores do mercado consumidor a tecnologias de baixa emissão.

Automatização

Automatização. Ferramentas automatizadas vão ganhar mais atenção e investimento das montadoras. Foto: Freepik

A automatização já é presente nos carros. Alguns veículos já aderiram ao aviso de colisão e detecção de pedestres ou sistema de freio automático, por exemplo.

Porém, a tendência é que esses tipos de ferramentas automatizadas, que, por exemplo, detectam pontos e realizam o monitoramento de alerta do condutor e estacionar por meio de um aplicativo, ganhem mais atenção e investimento do mercado nos próximos anos.

De acordo com o relatório “Mobilidade do futuro”, da Allianz Partners, será possível zerar mortes no trânsito com ajuda desses tipos de tecnologia até 2040.

O estudo mostra, ainda, que empresas de tecnologia como Apple, Google e Uber poderão competir no futuro do transporte com os atuais fabricantes automotivos, já que os carros serão construídos em torno de TI e software.

No estudo, Claudius Leibfritz, CEO da Allianz Automotive e Membro do Conselho de Administração da Allianz Partners, reconhece que diferentes desenvolvimentos na sociedade, negócios e tecnologia estão provocando mudanças no cenário da mobilidade.

“Este relatório destaca o impacto que o aumento da urbanização, as preocupações ambientais, a tecnologia, os padrões de mudança na propriedade de carros e o comportamento do motorista terão a longo prazo na indústria automotiva. Para as seguradoras, isso significa uma mudança de paradigma – mas algo encorajador, levando a um futuro em que a mobilidade será mais limpa, mais segura e mais eficiente”, diz.

Contudo, apesar do avanço desse cenário, um veículo 100% autônomo ainda é uma realidade um pouco distante.

Conectividade e digitalização

Conectividade. Conectividade dos veículos vai estar interligada por meio da Inteligência Artificial para melhorar a segurança e conforto do motorista e passageiros. Foto: Freepik

Conectividade e a digitalização são mais mudanças do setor que é para se ficar de olho e podem ser impulsionadas em 2024.

No quesito conectividade, os carros vão ser cada vez mais interligados por meio de Inteligência Artificial, gerando dados mais assertivos e promovendo mais segurança embarcada e melhoria no desempenho.

A integração de tecnologias conectadas em veículos, como sistemas de entretenimento, assistência ao motorista e conectividade 5G, continua a ser uma prioridade.

Além disso, a tecnologia blockchain – mecanismo de banco de dados avançado que permite o compartilhamento transparente de informações na rede de uma empresa – está sendo explorada para melhorar a segurança e a transparência em cadeias de suprimentos e transações relacionadas a veículos.

A digitalização, no entanto, é muito esperada pelo mercado, principalmente nos estabelecimentos responsáveis pela comercialização dos carros. A prática ajuda na otimização dos processos e aprimoramento da experiência do cliente.

Carros usados

Carros
Carros usados vão continuar em alta em 2024. Foto: Freepik

De acordo com pesquisa da Webmotors, a perspectiva é de que, em 2024, 61% dos brasileiros queiram adquirir carros usados. Isso se deve a fatores já citados, como crise de semicondutores, que causaram queda na produção e aumento do valor dos carros novos.

Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 2023, a venda de carros usados no país passou a ser cinco vezes maior que a de carros novos.

Conforme os dados da pesquisa, em 2019 o valor médio desse tipo de veículo era de R$30 mil. Nesse caso, era preciso desembolsar 30 salários mínimos da época. Em 2022, o mesmo carro passou a custar quase 70% a mais, correspondendo a 41 salários mínimos. Já em 2023, o preço aumentou mais uma vez para R$67 mil.

“Foi uma inflação muito atípica nesses últimos dois anos por conta tanto de custos do carro zero, quanto pelo lado de demanda e a partir de 2021, com esse problema todo, isso saltou a níveis estratosféricos”, explica Matheus Peçanha, economista da FGV Ibre.

Mobilidade compartilhada

O trânsito interfere no bem-estar das pessoasNova geração tem optado por não tirar habilitação e utilizar outros tipos de veículos e maneiras para se locomover. Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco 

Impulsionada pela mudança de comportamento, principalmente a dos jovens, a mobilidade compartilhada é mais uma das tendências para o próximo ano.

De acordo com dados do Departamento Estadual de Trânsito de Pernambuco (Detran-PE), houve redução de 37,9% na procura pela primeira carteira de habilitação nos últimos anos. Fatores econômicos, sociais e preocupações com o meio ambiente têm regido as escolhas da nova geração, que tem optado por carros de aplicativos, transporte coletivo ou até mesmo a bicicleta.

As empresas estão começando a pensar em soluções para atender a necessidades desse novo público. Nessa pegada, crescem modelos de assinaturas que permitem o acesso a uma variedade de veículos de uma maneira mais flexível e mais em conta.

O relatório de análise de mercado da mobilidade partilhada, intitulado Shared Mobility Market Size, Share & Trends Analysis Reportrealizado pela consultoria Grand View Researchestima que o mercado da mobilidade compartilhada cresça cerca de 25% até 2025.

Design e personalização

PersonalizaçãoFoto: Freepik

Para atrair os consumidores, os fabricantes de automóveis investem em designs inovadores e opções de personalização e acessórios que possam deixar os veículos mais funcionais e confortáveis para os condutores.

Modelos mais aerodinâmicos, leves e que usem material recicláveis que potencializem a autonomia e minimizem o impacto ambiental são a tendência para os próximos anos.

Já na parte interna, a busca é por recursos avançados de conectividade, integração de tecnologias inteligentes que permitam configurações personalizadas e conectividade com outros dispositivos e aprimorem a dirigibilidade.

No quesito cor, de acordo com os designers da divisão Coatings da BASF, que todos os anos criam nova coleção para inspirar os designers de automóveis em todo o mundo, a cor-chave para América do Sul é a Graça Calma, um cinzento sólido quente não metálico com uma forte textura cremosa, que, de acordo com eles, transmite a procura pelo bem-estar e equilíbrio com uma perspectiva otimista e resiliente para o futuro, que são características das personalidades das pessoas que vivem na região, segundo estudos de mercado como Euromonitor e Deloitte.

Graça Calma, a cor-chave para a América do Sul: a busca pelo equilíbrio e bem-estar, com perspectiva otimista para o futuro
Graça Calma, a cor-chave para a América do Sul: a busca pelo equilíbrio e bem-estar, com perspectiva otimista para o futuro. Foto: Divulgação/BASF

“Essas características aliadas às tendências nas artes, moda e decoração, trazem a renovação para a cor da América do Sul, que segue acromática, mas com uma aparência elegante e não convencional”, explica Marcos Fernandes, diretor de Tintas Automotivas da BASF para a América do Sul, a partir do estudo de Liz Hoffman, responsável pelo design de cores para automóveis nas Américas.

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