Hábito de poupar segue tímido no País
Criado para conscientizar a população sobre a importância de ter reservas financeiras, o Dia da Poupança é celebrado nesta quarta-feira (31) com um grande desafio. Afinal, devido à recessão, são poucos os que ainda conseguem poupar algum dinheiro no País. Em agosto, por exemplo, só 16% dos brasileiros fizeram isso, segundo a CNDL/SPC Brasil. E a maior parte dessa pequena parcela da população colocou o dinheiro na caderneta de poupança, que já não rende mais tanto quanto antes e pode ter a rentabilidade novamente reduzida nesta quarta caso o Copom volte a cortar a taxa básica de juros (Selic).
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Na pesquisa da CNDL/SPC Brasil, a maior parte dos não poupadores (45%) explicou que não guardou dinheiro porque não teve renda suficiente. Outros 15% reforçaram essa situação dizendo que estão desempregados. Já o restante admitiu imprevistos (15%) e descontrole financeiro (12%). “O contexto econômico afetou o orçamento. Mas, mesmo com algumas melhorias na economia, os brasileiros seguem sem poupar, porque não têm uma cultura de poupança”, avaliou o financista Arthur Lemos, dizendo que, por isso, é importante escolher bem o destino do que for poupado. “Já é tão desafiador fazer sobrar dinheiro no fim do mês que, quando sobra, deveríamos buscar o investimento que entrega o maior retorno possível”, afirmou.
Não há consenso, porém, quanto à melhor fonte de investimento. Até a poupança, que é usada pela maioria dos poupadores (59%), é alvo de discussões. É que a caderneta perde rentabilidade quando a Selic fica menor que 8,5%, como acontece hoje. Diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Oliveira explicou que, com juros acima de 8,5%, a poupança rende 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR). Quando os juros estão menores, porém, essa rentabilidade reduz para o equivalente a 70% da Selic mais a TR. Atualmente, como a TR está zerada e a Selic bate 6,5%, a poupança rende 0,37% ao mês ou 4,55% ao ano.
“Já a rentabilidade do Tesouro Direto entrega, ao menos, a Selic”, afirmou Lemos, que, por isso, recomenda o investimento nesse título público. “É preciso ficar atento, porém, às taxas de administração cobradas pelos bancos. Muitas são altas para um pequeno investidor. Então, a poupança pode ser boa para pequenos investimentos”, frisou Oliveira.
Com a dúvida, os poupadores têm começado a diversificar os investimentos. O Tesouro Direto, por exemplo, nunca teve tantos investidores ativos: foram 697 mil em setembro. Outra aplicação que tem crescido é a previdência privada, porque, como explicou a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, com a possibilidade da Reforma da Previdência, “a preocupação com a aposentadoria começa a entrar no radar do poupador brasileiro”. Segundo o SPC Brasil, o número de poupadores que recorre a esse instrumento subiu de 9% para 19% neste ano.