Inadimplência reduz, mas famílias continuam comprometendo grande parte da renda para as dívidas
20,8% das famílias ainda destinam mais da metade da renda às dívidas, afirma CNC
Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) registra baixa na inadimplência pelo segundo mês consecutivo, caindo de 78,1% para 76,1%. Para a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a melhora demonstra um esforço maior dos consumidores para manter a regularidade nos pagamentos, refletindo uma maior cautela no uso do crédito em um momento de juros elevados.
“Os juros elevados e a seletividade do crédito fazem com que os consumidores procurem fazer menos dívidas e, como efeito adverso, aumentam sua percepção de endividamento. A leve melhora da inadimplência indica que houve um esforço nas casas brasileiras para equilibrar suas finanças, mas o comprometimento crescente da renda acende um sinal de alerta para a economia em 2025”, avalia o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros.
Em contra-partida, 20,8% das famílias ainda direcionam mais da metade da sua renda para o pagamento das dívidas. Na mesma linha, a percepção de endividamento também apresentou aumento, com 15,9% das famílias se enquadrando como “muito endividadas”, alcançando o maior nível desde setembro de 2024.
“Apesar da queda do endividamento, as dívidas estão consumindo uma parcela maior da renda das famílias brasileiras, especialmente por causa dos juros altos e prazos mais curtos. Esse cenário pode manter a inadimplência em patamares elevados nos próximos meses”, explica o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares.
Em janeiro, o percentual médio da renda comprometido com dívidas chegou a 30%, registrando um aumento de 0,2 ponto percentual em comparação ao mês anterior. O estudo também revelou que o cartão de crédito continua sendo a principal forma de endividamento, utilizado por 83,9% dos consumidores.
Entretanto, a análise registrou uma queda 2,9 pontos percentuais no uso do cartão, quando comparado a janeiro de 2024. Já o crédito pessoal apresentou incremento, se tornando uma alternativa para quem busca financiamento em um cenário de juros altos.
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Outro dado positivo foi a redução das dívidas em atraso, que passaram de 29,3% em dezembro de 2024 para 29,1% em janeiro de 2025. O número de famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas atrasadas também caiu, chegando a 12,7%.
Projeções
Sobre o que esperar das taxas de endividamento para 2025, a CNC afirma que a tendência é que os níveis voltem a crescer durante o ano. Isso se dá porque muitas famílias precisarão recorrer ao crédito para sustentar o consumo, afirma a confederação. Esse movimento pode impactar diretamente a inadimplência, que deve se manter como um desafio para a economia brasileira em 2025.
A pesquisa reforça que, embora as famílias estejam conseguindo reduzir o volume total de dívidas e atrasos, o peso dos compromissos financeiros no orçamento segue crescendo, tornando o planejamento financeiro cada vez mais essencial para evitar dificuldades futuras.
“A necessidade de recorrer ao crédito para consumo, somada à manutenção de juros elevados, deve tornar a gestão financeira um desafio ainda maior para os consumidores brasileiros”, disse o economista Felipe Tavares.