Saiba como evitar a ressaca financeira após o Carnaval
Com o fim da Festa de Momo, agora é o momento de rever o orçamento e organizar as finanças
Com o alto índice de endividamento da população brasileira, as grandes festividades, como o Carnaval, podem afetar diretamente o bolso do consumidor. Com o fim da Festa de Momo, agora é o momento de rever o orçamento e organizar as finanças para muitos foliões que ultrapassaram o limite de gastos.
Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em dezembro de 2024, 76,7% da população estava endividada.
Apesar do número representar uma queda de 0,9 ponto percentual, na comparação com dezembro de 2023, saindo de 77,6% para 76,7%, o índice ainda significa um comprometimento do orçamento de boa parte das famílias.
Orçamento
De acordo com a professora e mestra em economia, Lytiene Rodrigues, para que o folião não fique ainda mais endividado, é necessário colocar na ponta do lápis todas as despesas feitas no período e resgatar o planejamento financeiro construído para o ano.
“Primeiro, é necessário fazer um levantamento do que foi gasto nesse período de Carnaval e puxar também o planejamento financeiro que havia sido feito para o ano, para que você possa avaliar como fica o enquadramento desses gastos realizados durante a festividade dentro do orçamento que estava previsto. E, a partir daí, tentar analisar se existe uma forma de você parcelar o que você ainda tem de orçamento a ser executado e avaliar a possibilidade de retirar gastos surpérfluos do orçamento que existia”, destacou a especialista.
Ela também destaca que o folião pode tentar reorganizar os grandes gastos que estavam previstos no orçamento, como viagens ou a compra de um patrimônio.
“Se você gastou um valor que vai comprometer uma viagem que você queria fazer, de repente pode jogar essa viagem mais para a frente, ou a compra de um bem, de um patrimônio maior que você vai ver que o custo vai comprometer o seu orçamento financeiro do ano, deixar para o final do ano”, orientou.
Para Lytiene, o momento é ideal para fazer uma revisão a partir do que foi executado e ajustar a partir do planejamento feito até o final do ano.
“Se fugiu ao que estava previsto, mas na realização faz o ajuste, você consegue trabalhar uma compensação para que isso não venha a causar um transtorno financeiro”, reiterou.
Segundo pesquisa realizada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Pernambuco (Fecomércio-PE), realizada em parceria com o Sebrae, antes da festividade, os foliões pernambucanos estavam planejando gastar, em média, R$ 632 durante os dias de folia.
Leia Também
• Entenda as diferenças entre Simples Nacional, Lucro Presumido e Lucro Real
• Especialista dá 5 dicas para proteger e fortalecer os investimentos em 2025
• Imposto de Renda 2025: o que fazer quando a fonte pagadora não recolhe o IRRF devido
Foliões
Porém, nem todos extrapolaram o orçamento durante a festividade. Para o jornalista Rodrigo Lambert, de 26 anos, folião assíduo de todos os Carnavais, a economia é fator essencial para conseguir aproveitar outras experiências ao longo do ano.
“Brincar Carnaval em Pernambuco dá ao folião inúmeras possibilidades, como estar na rua, pulando, me divertindo e o melhor: sem pagar nada. Claro que aquela cervejinha e água para hidratar não podem faltar. Lembrando que também tenho outros eventos que considero super importantes pra mim, como o show de Lady Gaga no Rio de Janeiro e viagens no São João. Minha maior motivação é conseguir fazer tudo sem comprometer minha renda”, afirmou.

Gastos
Por outro lado, a estudante de design Clara Oliveira, de 24 anos, admite que se deixou levar pelo clima da festa e gastou além do planejado.
“Acho que o maior gasto que tive no Carnaval foi com bebida, além de outras coisas. Me planejei para gastar pouco, mas no fim das contas, você se empolga querendo viver a festa ao máximo. Eu realmente acabei gastando mais do que o previsto. No momento, a festa parecia não ter fim, e foi difícil resistir à tentação de aproveitar ao máximo. Eu sei que me deixei levar, mas acho que isso faz parte da experiência de quem realmente quer aproveitar o Carnaval”.
Ela também destaca que o transporte pesou no orçamento.
“Na hora de voltar para casa, eu não queria depender de transporte público, e o Uber ficava muito caro de madrugada”.
Já Rodrigo adotou uma estratégia diferente, planejando seus gastos e dividindo despesas com amigos.
“Sempre costumo dividir bebidas com amigos, o famoso ‘bora rachar?’, assim gasto menos. Outro truque é sair com cédulas trocadas no valor exato do que posso gastar, incluindo transporte, alimentação e bebidas.”
A estudante Clara foi enfática e afirmou que não realizou cortes de gastos durante a folia.
“Acho que o Carnaval é o momento de se jogar, só acontece uma vez no ano e a gente tem que aproveitar”.
Apesar de ter gastado além do esperado, ela não se arrepende totalmente.
“Me arrependi de uma coisa ou outra, e das ressacas, mas o restante faz parte da experiência”.
Carnaval 2026
Com menos de 350 dias para o próximo Carnaval, que ocorrerá em fevereiro de 2026, Lytiene Rodrigues já dá algumas dicas para os foliões que não querem passar dificuldades financeiras após a festividade. Ela recomenda um planejamento antecipado para curtir a folia com tranquilidade.
“Inicialmente, é importante definir quantos dias de Carnaval você quer aproveitar e os eventos que deseja participar. Estabelecer um limite de gastos e priorizar pagamentos à vista pode ajudar no controle. Para despesas maiores, o cartão de crédito pode ser uma opção, mas sempre dentro de um limite planejado. Com um planejamento antecipado, é possível manter o equilíbrio financeiro e curtir o Carnaval sem preocupações futuras”, pontuou.
O jornalista Rodrigo Lambert segue essa linha de organização e estabelece limites antes de cair na folia.
“Defino previamente o quanto posso gastar e me mantenho dentro desse valor. Como já sou folião há bastante tempo, sei quanto preciso para curtir sem comprometer meu orçamento nos meses seguintes”. Para ele, é totalmente possível curtir a folia sem comprometer o orçamento.
“Hoje existem muitos meios para chegar aos locais de folia, transporte particular, aplicativos e até mesmo os expressos com taxas previamente estabelecidas. Outro ponto é que o Carnaval é muito plural. Em tempos de Festa do Momo, toda esquina com um batuque vira Carnaval. Bebidas existem para todos os tipos de gostos e bolsos, e, no caso do Carnaval de rua, uma bolsa térmica já resolve grande parte do problema para quem quer beber, sem gastar muito", ressaltou.
Cenário ideal
Lytiene reforça que o ideal é que os gastos com a festividade carnavalesca já estejam previstos no planejamento anual.
“O ideal é que essas despesas já façam parte do orçamento financeiro. Mas sabemos que a instabilidade econômica pesa no bolso de muitas famílias. Por isso, o planejamento é essencial para evitar dívidas e manter a saúde financeira”, reiterou.