Setor industrial pernambucano em busca da retomada
A Folha Finanças desta semana entrevistou Ricardo Essinger, diretor-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe). Ele foi entrevistado por Eduarda Haeckel, do Inspiração Invest, parceira deste blog, publicitária com MBA em Marketing e cofundadora da Editora Inspiração.
Na conversa, Essinger fala sobre a situação do segmento industrial em Pernambuco em meio à pandemia da Covid-19, os principais desafios enfrentados pelas indústrias durante este período, e como a Fiepe pode contribuir para que as empresas consigam se manter e buscar uma retomada econômica.
Ricardo é graduado em economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e além de atuar na Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco, é superintendente da Óxidos do Nordeste (Oxinor), fabricante de óxido de ferro para indústrias da construção, de borracha e de tintas. Essinger acumula ainda funções como diretor da Confederação Nacional da Indústria (CNI), diretor Regional do Sesi Pernambuco e presidente do Conselho Regional do Senai Pernambuco.
Confira a seguir a entrevista com o presidente da Fiepe, Ricardo Essinger.
A economia mundial está sofrendo os efeitos da pandemia. Como tem sido para o setor industrial em Pernambuco?
Quando a pandemia teve seu início no ano passado, aqui em Pernambuco, nos deparamos com o desconhecido. A paralisação das atividades prejudicou muito o setor e, naturalmente, os postos de trabalho gerados. E, mesmo um ano depois, essa realidade ainda está difícil para o setor. Dados mais recentes do Caged apontam que, no acumulado deste ano, ou seja, entre janeiro e fevereiro de 2021, a indústria pernambucana perdeu 8.123 vagas (incluindo apenas indústrias da transformação e extrativa).
Sabemos que, além de ter ceifado vidas, a pandemia gerou danos graves à economia e à saúde financeira dos negócios, sobretudo dos pequenos, que, dia após dia, lutam para sobreviver. Segundo recente levantamento feito pela Fiepe, 37,3% dos empresários ainda vão sofrer com queda de faturamento e outros 48,5% vão se manter estagnados, enquanto apenas 14,2% acreditam numa recuperação em curto prazo, mesmo um ano após a chegada da doença no Estado.
Como se observa, são muitas as lacunas deixadas pela crise da Covid-19, principalmente neste começo do ano, quando se esperava que tivéssemos uma realidade um pouco diferente e esperançosa. É isso o que nos mostra o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) de Pernambuco, que, em abril, se manteve estável. Isso significa dizer que o cenário ainda é visto com cautela pelos empresários locais, já que eles experimentaram uma queda brusca desse sentimento entre fevereiro e março de 2021, em razão da imposição de novas medidas restritivas.
Mesmo com o ICEI positivo com 53,4 pontos, o sinal é de alerta porque o cenário ainda está distante dos patamares alcançados antes da pandemia, sobretudo porque os novos casos de Covid-19 vêm assustando o mercado e fragilizando as condições atuais. Quanto ao futuro, ele sempre será esperançoso, desde que medidas contra a Covid-19 sejam tomadas para o bem da sociedade e também da economia.
A falta de matéria-prima e de insumos tem sido uma dificuldade para o setor e, consequentemente, para a sociedade, que vem sentindo o aumento nos preços dos produtos. Como tem sido para o setor produtivo fechar essa conta?
Não é fácil. Desde que esse assunto passou a ser uma dificuldade para o nosso setor, a Fiepe e a CNI vêm monitorando, pois perceberam que as dificuldades atuais são resultado das incertezas que a economia vem atravessando também nesta segunda onda, quando muitas empresas cancelaram a compra de insumos ou precisaram recorrer a fornecedores diante de um estoque esvaziado.
Em pesquisa recente, a CNI apontou que a escassez de insumos e matérias-primas nacionais para a produção atingiu 73% das indústrias em geral e 72% da indústria da construção. Para os empresários pernambucanos, a maior aflição está relacionada à dificuldade de encontrar os insumos e esse fato fica evidente, por exemplo, no caso do plástico e da celulose, que integram embalagens de diversos produtos da indústria de transformação, e dos insumos para a construção civil. Tanto que 70% deles ainda estavam sofrendo com a escassez de matéria-prima e com a alta nos preços, em março (quando a pesquisa foi feita), que, para 24,4% dos empresários, já ultrapassa 60% de aumento.
O reflexo para os consumidores, infelizmente, acontece, porque não há condições de as empresas suportarem todos os custos, e somado a isto temos a restrição do capital de giro e a dificuldade do acesso a crédito. Espera-se que este cenário mude, mas, agora diante desta nova onda, que mudou a cadeia global de suprimentos, a expectativa é que isso ocorra somente no segundo semestre.
Então, quais alternativas minimizariam os impactos para o setor industrial neste momento?
Neste momento, o caminho é a vacinação em massa da população brasileira. Diante de uma nova onda tão avassaladora, essa alternativa será fundamental para a melhoria do ambiente de negócios e para que a tão sonhada retomada da economia brasileira aconteça no longo prazo. Isso porque, a imunização permitirá o retorno seguro às atividades diárias dos cidadãos e ao trabalho, como também gerará uma maior confiança por parte dos mercados consumidor e investidor. A confiança trará um novo fôlego aos negócios e, naturalmente, ao consumo e à produção, que terá a chance de recuperar o que foi perdido desde que a crise se instalou.
Além da vacina, a Fiepe tem focado em medidas que defendam e protejam a saúde financeira das nossas indústrias. Desde março do ano passado para cá, mesmo com as dificuldades, buscamos alternativas para tornar o nosso segmento ainda mais forte e estruturado. Nesse período, conquistamos o diálogo com a sociedade, com as instituições e com os governos municipal e estadual pensando unicamente na recuperação da atividade produtiva do Estado.
Foram diversos pleitos encaminhados às gestões municipal e estadual, à Associação Municipalista de Pernambuco (AMUPE) e à Celpe, o que nos garantiram algumas conquistas. Recentemente, atendendo ao pleito da Fiepe, foi promulgada uma lei complementar 449 de 2021, estabelecendo o Refis estadual. A mesma abrange débitos com fato gerador até 31 de agosto de 2020 e estabelece as condições de redução de juros e multas, de acordo com o prazo de parcelamento. Devido à necessidade de adequação dos sistemas fazendários ao PERC, previsto na Lei Complementar nº 449, de 26 de março deste ano, a implementação das reduções de multa e juros deste programa só estarão disponíveis nos sistemas a partir de 1° de maio de 2021, sendo necessária a adesão até o dia 28 de junho de 2021. Sem dúvidas, essa e tantas outras iniciativas são importantes para a manutenção das mais de 14 mil indústrias pernambucanas.
No âmbito federal, defendemos a aprovação das reformas administrativa e tributária, a fim de termos menos burocracia, menos custos para investimentos, mais crescimento e mais renda e emprego para a população. Como se observa, o nosso objetivo maior sempre foi desenvolver e destravar pautas que possam beneficiar o mercado, principalmente em tempos de crise.
Com relação à infraestrutura, quais os maiores desafios que o setor tem enfrentado?
A infraestrutura é fundamental para a competitividade do nosso mercado. O Brasil tem um potencial imenso para estimular novos negócios, porém esse desenvolvimento passa por pautas fundamentais, como a Lei do Gás, a Ferrovia Transnordestina, o Arco Metropolitano e o Canal do Sertão. Entre essas iniciativas, existe uma que foi sancionada neste mês de abril e pela qual defendemos a sua regulamentação. É a Lei do Gás. Por que? Diante dos sucessivos aumentos da matéria-prima e dos insumos, que citei antes, contar com um mercado amplo e com concorrência, proporciona uma redução dos custos produtivos do setor industrial, principalmente agora, quando o segmento enfrenta dificuldades para escoar sua produção.
A abertura do mercado proporcionará uma queda no preço do gás natural de forma consistente, o que seria crucial para o País superar a crise da Covid-19. Assim, de acordo com a CNI, os investimentos no Brasil poderiam chegar a R$ 150 bilhões por ano em 2030, com importantes setores industriais substituindo insumos mais poluentes pelo gás, por ser o combustível fóssil de menor emissão de gases poluentes. São assuntos que estão caminhando para se concretizar e que, mais do que nunca, deixaram de ser importantes e passaram a ser cruciais para as indústrias do Nordeste.
No que compete à Fiepe, o que vem sendo feito para estimular essa competitividade e preparar as indústrias para o mercado?
A Fiepe está cada vez mais focada em desenvolver soluções para o negócio de Pernambuco, seja qual for o porte ou segmento da empresa. São iniciativas que buscam trazer mais eficiência ou estimular a inserção em novos mercados. No escopo do Senai, que integra ao Sistema Fiepe, por exemplo, temos o Minha Indústria Avançada (MInA), um projeto que busca alavancar a produtividade das indústrias por meio de tecnologias da Indústria 4.0, como computação em nuvem e internet das coisas, e da oferta de consultorias com profissionais especializados na melhoria contínua.
Para isso, implantamos sensores nas linhas de produção para mensurar e gerar indicadores importantes para a aferição da produtividade. É um projeto que foi desenvolvido em Pernambuco, pelos pesquisadores do Instituto Senai de Inovação para Tecnologias da Informação e Comunicação (ISI-TICs) e que está à disposição do mercado.
Além disso, a Fiepe faz missões comerciais, rodadas de negócios e, por meio do Centro Internacional de Negócios (CIN-PE), oferece serviços como a emissão de Certificado de Origem Digital e da Certidão de Atividade Industrial, além de, para os casos em que a empresa quiser começar a exportar, oferecer todo um trabalho que envolve a identificação do país e do destino, a adequação do produto para o mercado internacional e também na formação de preço. Como se pode ver, é uma seara de oportunidades para preparar e desenvolver o capital industrial do nosso Estado.