A história do porco (2ª parte)
Semana passada, falamos da fábula A Revolução dos Bichos, de George Orwell. E das razões que o levaram a escolher um porco para liderar os outros animais naquela revolução. A história desse animal, bom lembrar, é marcada por amores e desamores.
Até nos textos sacros. O Levítico (11, 2 a 8) cristão ensinava aos judeus que “entre todos os animais da terra, eis os que podereis comer: podereis comer todo animal que tem a unha fendida e o casco dividido, e que rumina. Mas não comereis aqueles que só ruminam ou só têm a unha fendida... Como o porco que tem a unha fendida e o pé dividido, mas não rumina; tê-lo-eis por impuro. Não comereis da sua carne e não tocareis nos seus cadáveres...”.
O Alcorão (2, 168) mulçumano diz que “estas coisas Ele te proibiu: carniça, sangue e carne de porco”. Na Índia a deusa “Kali” é representada por uma enorme porca que cria, mata e engole seus filhotes doentes, perpetuando o ciclo da vida. Sem esquecer que, segundo as más línguas, Buda morreu de indigestão, empanturrado com carne de porco.
Homero se refere na Odisseia a Eumeu, o “divino porqueiro” (aquele que trata dos porcos); e foi em casa deste que Ulisses se abrigou, no retorno a Ítaca e à sua Penélope. Ainda na Odisseia, Circe transforma os companheiros de Ulisses em porcos. Hércules enfrenta o javali de Erimatéia. E Teseu, a porca de Crommyon. Aristóteles desce de sua filosofia para observar que, “bem alimentado, o porco está apto sexualmente em todas as horas, da noite e do dia”.
Aristófanes se deliciava com “fígado do porco cozido entre dois pratos, temperado com ervas”. Mas o prato presente nas mesas gregas, em todas as festas, era mesmo o koiridión - leitão (previamente alimentado com mosto de uva) recheado com ervas e assado no forno. Sem esquecer os enchidos - invenção dos povos bárbaros (celtas, godos, visigodos, ostrogodos e vândalos), que desenvolveram essa técnica de conservar carne durante o inverno. Sendo esses enchidos, na Grécia, feitos por allantaupolés - peritos na arte de corte e conservação do porco.
Romanos também eram grandes apreciadores de porcos. Tanto nobres (nobilis), quanto gentes do povo (ignobilis). Não havendo banquete, por lá, em que não se encontrasse vulvas e tetas de porcas - virgens, estéreis ou parideiras, segundo a importância do homenageado. O Imperador Heliogábalo, durante meses, se alimentou apenas desses manjares - segundo Plínio, o naturalista. Sugerindo este, em seus estudos, o “abate do leitão aos cinco dias, cordeiro aos oito e vitela aos trinta”. No capítulo denominado “Cozinha Suntuosa”, de sua Arte Culinária, Apícius fornece numerosas receitas de porco - molhos para acompanhar leitões assados, chouriços, presuntos, rabos guisados, recheios de pés de porco.
Petrônio descreve, em Satíricon, banquete de javali recheado com pássaros vivos, acompanhado de botulus (espécie de chouriço). Ainda referindo lugares fantásticos, em que era possível “encontrar porcos já assados passeando”. Ao porco chamavam então chacim - donde “chacinado”, nos primórdios, era só um porco defumado. Faltando apenas lembrar que, para os romanos, o mais nobre dos esportes era a caça ao javali.
Receita: costelinha de porco
Ingredientes:
3 kg de costelinha de porco
Sal
Pimenta-do-reino moída na hora
300g de manteiga sem sal gelada
100ml de azeite de oliva
50ml de mel
2 colheres de sopa de água
Preparo:
- Coloque as costelinhas (a peça inteira) bem secas em uma assadeira. Tempere com sal e pimenta. Corte metade da manteiga em cubos e disponha por cima da carne. Regue com azeite e cubra (vedando bem) a assadeira com papel-alumínio
- Asse em forno bem baixo (100º) por 5 horas. A cada hora, retire do forno e abra o papel-alumínio. Vire a costela, acrescente mais manteiga e azeite sempre que necessário. Feche novamente e volte ao forno
- Quando a carne estiver macia, retire o papel-alumínio e pincele a parte da gordura (que deverá estar virada para cima) com o mel dissolvido na água. Leve novamente ao forno, sem cobrir, até dourar por completo