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À mesa com Renato Carneiro Campos

Renato Carneiro Campos - Arte/Folha de Pernambuco

Ele foi um dos mais importantes intelectuais brasileiros – ensaísta, poeta, antropólogo, sociólogo, jornalista, professor de Literatura (na UFPE), diretor do Departamento de Sociologia da Fundação Joaquim Nabuco e, sobretudo, escritor. Um grande escritor. Durante muitos anos, assinou coluna no Diário de Pernambuco. Sempre aos domingos. Com forte compromisso com a sua terra, especialmente o Recife. “Sinto-me preso ao Recife, com a resignação de um condenado à prisão perpétua. Pés de chumbo, asas cortadas. Lar e exílio ao mesmo tempo. Sinto que há alguma coisa de conquista na minha permanência” – escreveu em uma de suas crônicas. Segundo seu irmão, Maximiano Campos, “Um verdadeiro escritor do seu tempo e da sua terra, captando, com grande sensibilidade, o que de eterno pode existir no cotidiano”.

Nasceu em Pernambuco, em 8 de março de 1931. Portanto, se vivo fosse teria feito, este mês, 86 anos. Compreendia, muito bem, o espírito de nossa gente. “Se tivesse que escolher um Estado da Federação para representar Don Quixote, este seria Pernambuco – não lhe faltam magreza, loucura e sonho para tanto” – assim escreveu numa conferência sobre Joaquim Nabuco (em 1974). “Pernambuco do mar, do massapê, dos canaviais, da Zona da Mata, sobretudo do Recife”. O próprio mapa de Pernambuco, talvez tenha percebido, imita um corpo que se deitou reto. Por não ter aprendido a se curvar perante ninguém. Mais parecendo uma estrada quase sem curvas, chão de retirantes partindo das areias secas dos interiores, em direção à amplidão do mar azul e profundo.

Em seus escritos, valorizou sempre nossa cultura. Compreendendo a importância dos conhecimentos produzidos e transmitidos pelo homem – artesanato, canto, dança, pintura, festas populares, superstições. E, também, sabores. “Acredito que se possa morrer muito mais pela boca falando do que comendo. Em certas épocas, todos sabem, falar mata muito mais”. Esses sabores estão presentes em muitas de suas crônicas. Nelas, refere a “inefável carne-de-sol com molho de ferrugem preparada, com engenho e arte, por Raul de Souza Leão”.

As “feijoadas incomparáveis, para homem nenhum botar defeito, magicamente cozinhadas por dona Esmeralda Rabello”. “As dobradinhas e os sarapatéis imbatíveis de dona Madalena Freyre, na grande mesa de Apipucos”. “O aferventado de peru da cozinha de minha parenta Milinha Carneiro Campos, capaz de fazer reconciliar com a vida a mais triste das criaturas”. “O vatapá que tive o privilégio de comer na casa da minha parenta Helena Martins”. “As peixadas homéricas preparadas por nossa amiga dona Maria Guimarães”.

“A buchada, nosso prato mais tradicional, que requer cuidados especialíssimos – deve ser lavada com centenas de limões”. Sem esquecer pitu, fritada de siri, camarão, peixada de coco, casquinho de caranguejo, mão de vaca, chambaril, galinha guisada e de cabidela, lombos de molho-ferrugem com macaxeira espapaçada. Mais cozido, “acompanhado de pirões macios e dourados”. E sobremesas – especialmente as “saídas do forno da cozinha de dona Carmem Souza Leão, assessorada por Odete e Hilda” – com “bolos leves e de sabor demorado”.

Pratos que apreciava não só nas mesas tradicionais patriarcais; mas, também, nos “restaurantes humildes, os chamados da madrugada, em casa de amigos dignamente pobres, modestos no vestir, no mobiliário das casas, mas que não admitem a cozinha de fogo-morto, apegados heroicamente à tradição da boa mesa, fidalgos na arte de receber”. Pratos que revelam o nosso jeito de ser – afirmativos, fortes, generosos. Como nossa gente. Como Renato Carneiro Campos.

Bolo de laranja

Ingredientes:

300g de açúcar
300g de manteiga
300g de farinha de trigo
1 copo de suco de laranja
1 colher (de sobremesa) de fermento
Raspa de laranja
6 ovos

Preparo:

· Bata bem a manteiga com o açúcar, até formar um creme. Junte gemas, farinha de trigo com fermento, alternando com suco de laranja e, por último, as claras em neve

Recheio de cobertura

200g de manteiga
250g de açúcar
32 laranjas grandes e doces

Preparo:

· Bata bem a manteiga com o açúcar, até ficar esbranquiçado. Descasque as laranjas sem as peles, tire os bagos e esfarele com um garfo de dentes grandes, com cuidado para que o caldo não saia

· Junte a laranja esfarelada, cuidadosamente, à mistura da manteiga com o açúcar

· Coloque o recheio entre as camadas e faça a cobertura do bolo. Enfeite com bagos de laranja

* é especialista em Gastronomia. Escreve toda semana neste espaço.

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