Alice no País das Maravilhas
Esse é o mais fascinante dos contos de fadas. Com ele homenageio hoje, 12 de outubro (Dia das Crianças) todas as crianças. Sobretudo meus filhos e netos. Tudo começou em um passeio de barco pelo rio Tâmisa. Charles Lutwidge Dodgson – reverendo, matemático e famoso professor de Oxford, junto com um amigo, inventa histórias para entreter as três irmãs que também estavam no barco – Lorina, Edith e Alice Liddell (filhas do vice-diretor da mesma universidade e, também, decano da Christ Church). A história agradou muito às meninas. Especialmente Alice. Dois anos depois, Dodgson ofereceu, à mesma Alice, aquela história, agora no papel. Um ano mais, em 4 de julho de 1865, publicou o livro. Sob o pseudônimo de Lewis Carroll, e com ilustrações de John Tenniel. Era Alice in Wonderland (Alice no país das maravilhas). “Um dia memorável na história da literatura”, segundo W.H. Auden. Convertendo Alice em seu personagem principal. Só para lembrar, Alice é o próprio som, em inglês, das letras L e C. As mesmas do pseudônimo que escolheu, Lewis Carroll. Num anagrama invertido do seu próprio nome (Charles Lutwidge, C L). O livro, já se vê por isso, é pleno de ambiguidades intencionais. Tudo começa com um poema descrevendo aquele passeio:
Juntos naquela tarde dourada
Deslizamos em doce vagar,
Pois eram braços pequenos, ineptos,
Que iam os remos a manobrar,
Enquanto mãozinhas fingiam apenas
O percurso do barco determinar.
Esse livro tem grande prestígio na literatura universal. Trata-se de um conto de fadas moderno. Escrito para crianças e, também, para adultos. Daí vem seu encanto e seus mistérios. Todo mundo gosta. São muitas as referências culinárias, no livro. Já no começo, a pobre Alice, ao cair num poço, passou por um vidro de geleia de laranja vazio; e, quando chegou ao chão, encontrou sobre a mesa uma garrafa com rótulo “Beba-me”. Bebeu. O sabor do líquido, segundo ela, era “uma mistura de torta de cereja, creme de leite, suco de abacaxi, peru assado, doce puxa-puxa e torradas quentes com manteiga”. Problema é que essa bebida, mesmo saborosa, a fez ir encolhendo até ficar “com uns vinte e cinco centímetros”. Na mesma mesa, junto à garrafa, havia um bolo com a indicação “Coma-me”. Comeu. E aconteceu o contrário, foi crescendo, crescendo, tanto “que quase perdeu os pés de vista”. A conclusão, para ela, era simples: “Sei que alguma coisa interessante vai acontecer cada vez que eu beber ou comer qualquer coisa”. E assim fez, degustando até “seixos que se transformavam em bolos espalhados pelo chão”. E “cogumelo, que tinha uma lagarta sentada”.
Em outra passagem, quando Alice vai à casa da Duquesa, vê a cozinha “cheia de fumaça de um lado a outro. A cozinheira estava inclinada sobre o fogão, mexendo um caldeirão enorme que parecia cheio de sopa”. Foi quando pensou: “Tem pimenta demais naquela sopa”, porque “pelo menos no ar havia muita pimenta”. Isso fazia com que todos espirrassem sem parar – “menos a cozinheira e um gato enorme, sentado junto ao forno”. Após o que sai dizendo frases filosóficas, como “A pimenta torna as pessoas belicosas; vinagre as torna acres; camomila as torna amargas; e o açúcar e coisas parecidas tornam as crianças doces e suaves”. Concluindo, “Gostaria que as pessoas grandes soubessem disso: não seriam tão sovinas com doces e coisas assim”. Outra sopa surge num instigante diálogo – que será entendido de um jeito por crianças; e de outro, por adultos.
Rainha: – “Você já viu a Falsa Tartaruga?
Alice: – “Não. Nem sei o que é uma Falsa Tartaruga”
Rainha: – “É aquilo de que se faz a falsa sopa de tartaruga”.
Um diálogo surrealista; até porque a sopa, na realidade, era feita com carne de vitela:
“Que bela sopa, de osso ou aveia,
A ferver na panela cheia”!
Depois, a Rainha de Copas fez umas tortas. “E, certo dia de verão, o Valete de Copas roubou as tortas”. Então organizaram um tribunal para julgar o Valete. O juiz era o próprio Rei de Copas. “No meio do tribunal havia uma mesa, com uma grande travessa cheia de tortas”. E tão apetitosas eram que Alice, morrendo de fome, pensou: “Quem me dera que esse julgamento acabasse logo e eles distribuíssem o lanche”. Faltando lembrar o chá na casa do Chapeleiro Maluco, com seus convidados – a Lebre de Março e um sonolento Leirão (tipo de roedor europeu) – que tomavam chá “diante da casa, sob uma árvore”. Havia, naquele lugar, “uma mesa posta – com chá, torradas e a melhor manteiga que tinha”. E por aí vai.
“Penso que devo ir embora agora. Até logo”, disse Alice ao marimbondo. “Até logo e obrigado” disse o marimbondo. E Alice lá se foi de novo, morro abaixo... Assim termina a genial história de Alice no país das maravilhas. Depois viria, em continuação, Alice através do espelho. Mas essa é outra história.