Bananas de laboratório

Bananas - Greg/Arte Folha de Pernambuco

A Holanda produziu, pela primeira vez, bananas em laboratório. A ideia foi do cientista Gert Kema – professor de patologia de plantas tropicais da Universidade de Wageningen (Holanda). Tudo começou quando ele descobriu que o fungo fusarium oxysporum era a causa da morte de plantações de bananas, em todo o mundo. A variedade Gros Michel (campeã de exportação nos anos 1950) foi quase extinta.  E a produção de banana maçã, no Brasil, diminuiu consideravelmente. “Uma ameaça à produção mundial da fruta”, disse ele à BBC espanhola.  O problema é que o fungo é de difícil combate. Rapidamente se desenvolve na terra. E em pouco tempo mata a planta, causando o que ficou conhecido como Mal do Panamá – por ter sido detectada, primeiro, naquele país. Os sintomas aparecem logo. Folhas amareladas e murchas; caule rachado.  A ideia de Kema foi plantar as mudas em estufas. Substituir terra, por fibras de coco (obtidas da casca do coco). Isolar tudo com lã mineral ou de rochas (fibras retiradas da rocha basáltica). E “acrescentar nutrientes através de irrigação, por conta gotas”, explicou ele. Deu certo. Tanto que a Fundação Bill e Melinda Gates está agora apoiando cientistas da Universidade de Tecnologia de Queensland (Australia) que estão produzindo bananas com alto teor de vitamina A e Ferro, sobretudo para os países do leste africano.

Bom lembrar que a banana foi trazida, para o Brasil, pelo colonizador português das Ilhas Canárias. Mas já havia aqui uma espécie nativa brasileira – pa’kowa (pacova), a que os brancos chamaram banana-da-terra, depois, pelo Nordeste, mais conhecida como banana-comprida. Mas, em verdade, nunca foi alimento de prestígio para nossos índios.  Não a consumiam cruas − só como bebida, caldo ou mingau. Diversas tribos sequer a conheciam. E sua presença (ou não), na dieta alimentar das comunidades indígenas, chegou a ser indicador antropológico do seu grau de isolamento. O geógrafo Karl von den Steinen (em Entre os povos nativos do Brasil Central), em expedição ao Xingu, assim escreveu: “Não há metais, nem cães, nem bebidas embriagadoras, nem bananas! Eis a verdadeira idade da pedra”. 

São vários seus nomes científicos: Musa sapientum, por conta da crença de que tornaria sábios aqueles que dela se servissem; Musa acumulata, por que rica em açúcar; Musa paradisíaca, em prestígio à lenda de que alimentou o primeiro homem e a primeira mulher no Paraíso. Não por acaso, na Índia, ainda hoje é conhecida como figueira-de-Adão.  E vêm de lá, do vale quente e úmido do Rio Indo, os mais antigos registros de seu cultivo. Passou pela mesa de Buda (563–483 a.C.); andou pelo antigo Ceilão (500 a.C.); acompanhou Alexandre (356–323a.C.), o Grande, quando conduziu suas tropas pelas montanhas Hindukush, atravessou o vale do Rio Indo e conquistou a Índia (327 a.C.); frequentou banquetes gregos e romanos (a partir de 300 a.C.); e teve sua primeira plantação organizada na China (200). A partir daí, por mãos árabes, difundiu-se por toda a África. 

Desses árabes nos veio, também, a própria origem do nome − banan (dedos). Uma palavra que mudou pouco, nas suas andanças pelo mundo. Em português, inglês e italiano, é banana mesmo; em francês e alemão, banane; em espanhol, plátano ou banana. Mudou mais o sentido que se dá ao nome, no falar. No folclore é sinônimo de pessoa covarde ou submissa. “Plantar bananeira” é nome de golpe de capoeira – em que o lutador apoia as mãos no chão e ergue o corpo, de cabeça para baixo. “República de Banana” é país subdesenvolvido. Faltando só dizer que o gesto ofensivo feito com a mão fechada – democraticamente usado por trabalhadores, ladrões de galinha e presidentes da República – não é (como poderia parecer) uma invenção brasileira, mas hábito importado da Europa, especialmente França, Itália e Portugal. 

São conhecidas, hoje, cerca de 400 variedades, atendendo a todos os gostos. Para comer ao natural, recomendam-se maçã, ouro, prata ou nanica (o nome se deve não à fruta, que aliás é grande, mas à baixa altura da planta) – no Sul também conhecida como banana-d’água. Para assar, fritar ou cozinhar, banana-da-terra (banana-comprida) ou nanica. Para fazer banana chips, novidade que vem do norte do Brasil, pacovã (hoje mais conhecida como pacova, uma variedade da banana-da-terra).  Para fazer passa, prata. Para compotas e bananadas, prata ou nanica.  Para farinha, quase todas − desde que verdes, ricas em amido e água. Para o Cozido, banana-da-terra ou nanica. Para sopa, nenhuma – que o costume paraguaio de fazer sopa, com banana verde, não pegou por aqui. Apenas prata, e bem madura, para a Cartola − sobremesa que leva também queijo de manteiga derretido por cima, mais açúcar e canela. Para salada de frutas, também prata – mas só a partir do começo do século XIX; até então, misturá-la com outras frutas era heresia. 

Difícil acreditar que as bananas de laboratório tenham o sabor das nossas. Plantadas em terras tropicais. É rezar, então, para que o tal fungo emigre para a Holanda. E nos deixe em paz.  
 

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