Burle Marx, o artista de muitos dons
Arquiteto, paisagista, tapeceiro, escultor, pintor, ceramista, design (de joias, azulejos, vitrais). Fez litografias e estamparias. Cenários e figurinos para o teatro. Tocava piano e gostava de cantar óperas (era barítono). Falava sete idiomas. Como se fosse pouco, era também um grande cozinheiro. Gostava de receber os amigos.
“Eles nos completam e ficam sendo uma parte de nós”, dizia ele. A grande arquiteta Janete Costa, amiga dele e minha também (com muito orgulho), teve o privilégio de participar desses encontros, no sítio Santo Antônio da Bica, em Barra de Guaratiba (Rio de Janeiro). Ele próprio cuidava de tudo.
Da decoração da mesa - com toalhas pintadas por ele e arranjos com flores de seu próprio jardim. Da preparação dos pratos. “O contraste das cores, das texturas e sabores (sensações) ente os diferentes pratos é o que valoriza a refeição. O mesmo acontece com a pintura e a arquitetura.
Eu não entendo essa cozinha que só usa alho, cebola e sal para todos os pratos (feijão, arroz, bife) fica tudo com o mesmo gosto. É isso que chamo falta de criatividade”. Entre as entradas de sua preferência: Sopa de feijão verde, Salada de lagosta, Torta de camarão e alho-poró.
Pratos como: Mariscada, Lula recheada com arroz e camarão, Cherne assado ou cozido na manteiga com camarão e pirão, Lagarto com molho de vinho, Codornas assadas, Pato com laranja. Acompanhados de purês variados: de batata baroa, de abóbora, de fruta pão. Na sobremesa: Tortas (de pera, abacaxi, maçã, banana), Manjar e Mousse de coco, Quindão. Mais compotas de caju, jaca, laranja da terra, melancia com leite de coco, de coco com laranja, de ameixa com carambola.
Roberto Burle Marx (1909 - 1994) apesar de tantos dons, acabou mais conhecido como paisagista. Cercado de botânicos e agrônomos organizava expedições para conhecer as plantas em seu habitat natural. Trazia mudas e as plantava nos muitos jardins que projetou pelo mundo. “Um jardim bem realizado revela o amor à natureza. Com um papel muito importante na preservação de numerosas espécies, condenadas ao desaparecimento”.
Seu primeiro trabalho foi feito a pedido do arquiteto e amigo Lúcio Costa, no início dos anos 30. Projetou, então, um jardim revolucionário. O governador de Pernambuco, Carlos de Lima Cavalcanti, sabendo disso, o convidou para assumir a chefia de Setor de Parques e Jardins da Diretoria de Arquitetura e Construção (DAC) do estado de Pernambuco (1934). Sua missão seria embelezar a cidade.
le aceitou o desafio. Nossa terra não era, para ele, estranha. Sua mãe, Cecília Burle, nasceu em Pernambuco. Foi ela quem despertou, no filho, o gosto pelas plantas. Muito jovem, casou-se com o alemão, comerciante de couro, Wilhelm Marx. Acabou indo morar em São Paulo, onde nasceu o filho ilustre. Só depois, passaram a viver no Rio de Janeiro, em uma casa no Leme.
Minha sogra, D. Maria Lia, o conheceu nesta época: “Na casa enorme dos Burle Marx, Roberto tinha um quartinho fora, no jardim da casa, como seu ateliê - onde vi alguns projetos, em desenho, dos primeiros jardins projetados por ele”, escreveu ela no seu livro de memórias (Recordar é viver).
Seu primeiro projeto de jardim público foi o da Praça de Casa Forte (1934). Depois o da praça Euclides da Cunha, defronte do Clube Internacional (1935), da Praça da República e do Palácio do Campo das Princesas (1936), da Praça do Derby (1937). Deixou seu posto na chefia de Parques e Jardins, mas continuou fazendo projetos para o Estado.
Praça Salgado Filho, em frente ao antigo aeroporto (1957); Praça Faria Neves, em Dois Irmãos, (1958). Todos tombados pelo IPHAN. Foram, ao todo, mais de 40 projetos por aqui. “Minha experiência no Recife foi fundamental para o rumo que, posteriormente, tomou minha atividade profissional” disse em um Seminário de Tropicologia (1985), realizado na Fundação Joaquim Nabuco. Muitos outros projetos se seguiram.
Mais de dois mil. No Brasil - Parque do Flamengo (Rio de Janeiro), Parque do Ibirapuera (São Paulo), Parque Pampulha (Belo Horizonte), Jardim do Palácio da Alvorada e do Itamarati (Brasilia). E no exterior: Parque Del Este (Caracas), Jardim das Nações (Austria), Praça Peru (Buenos Aires). Foi reconhecido pelo Royal College of Art, de Londres, como o maior paisagista do mundo.
A prefeitura do Recife, em reconhecimento à importância do seu trabalho para a cidade, todos os anos (desde 2009, na ocasião do seu centenário) celebra a semana Burle Marx. Sempre no início de agosto. Este ano, ocorreu entre os dias 6 e 15.
Com passeios pelos parques projetados por ele, atividades culturais, oficinas, cursos, peças de teatro, exposições, palestras. Faltando, aqui, só uma oficina com os sabores de sua preferência. Fica a sugestão, para o próximo ano.
RECEITA
Torta aberta de camarão com alho-poró
(Receita do livro À Meda com Burle Marx)
INGREDIENTES
MASSA: 250 g de trigo, 250 g de manteiga, 1 gema, 3 colheres de sopa de água fria, sal
RECHEIO: 500 g de camarão pequeno, 500 g de camarão grande, 1 cebola picada, 1 dente de alho amassado, 1 tomate (sem semente e sem pele) picado, 1 talo de alho-poró (parte branca) fatiado fino, 1 colher de sopa de manteiga, 1 colher de sopa de azeite, 200 ml de creme de leite fresco, 1 gema, suco de meio limão, sal e pimenta-do-reino a gosto
PREPARO
MASSA
Misture todos os ingredientes até formar uma bola. Deixe descansar por 1 hora. Abra a massa com um rolo e forre uma forma de aro redonda. Reserve
RECHEIO
Em uma panela, coloque azeite e manteiga. Refogue cebola, alho, alho-poró. Acrescente tomate. Junte os camarões pequenos. Acrescente o creme de leite misturado à gema. Tempere com limão, sal e pimenta
MONTAGEM
Preaqueça o forno em 180º C. Despeje o recheio na massa e distribua os camarões grandes inteiros em cima. Leve ao forno até que os camarões estejam cozidos e a superfície dourada
*É especialista em Gastronomia e escreve semanalmente neste espaço