Cheiro de goiaba
Goiabeira é planta nativa da América tropical - sul da América Central e norte da América do Sul. O colonizador português não a conhecia. Mas foi como amor à primeira vista. E logo passou a fazer parte do seu cardápio. Engraçado é que nossos índios, até essa época da colonização, quase não faziam distinção entre goiaba e araçá. Por (alguma) semelhança, na árvore e na fruta. Daí chamarem, essa goiaba, indistintamente, de araçaíba, araçá-guaçu, acoya ou, apenas, cayhab (em tupi, fruta com muitas sementes). Em cada região das Américas, tem um nome indígena diferente: xalxocotl (México), guajavos ou guajava (Peru e São Domingos), guava ou guayaba (Antilhas). A árvore, quase um arbusto, se adapta bem a todos os tipos de solo. Não é frondosa e raramente atinge os seis metros. A fruta varia no gosto, a partir de como se consome. Ao natural, melhor inchadas - mais duras e mais gostosas. Fora daí - doce, refresco, sorvete ou suco - recomendam-se as maduras. Por fora, são quase sempre iguais; mas, na cor da polpa, variam muito - do branco ao rosa escuro, do amarelo ao laranja-avermelhado.
Também os animais são irresistivelmente atraídos por seu cheiro forte - o que explica ter se propagado, rapidamente, por todo o continente. George Marcgrave (1610- 1648) assim escreveu, em Historia Naturalis Brasilae (1648): “Aqui as aves comem esses frutos. E os grãos que se achavam nos excrementos medraram e daí procriaram muitas árvores e se propagaram indefinidamente, não havendo plantação em que não seja encontrada essa árvore”. Depois, navegantes a levaram para colônias africanas e asiáticas. E logo se espalhou por todas as regiões tropicais do globo. Só que, e sem que se saiba por que, em nenhum lugar são tão doces quanto por aqui. Não é possível pensar no Recife sem imaginar suas goiabeiras. Em todos os bairros. Em todos os lugares. Enfeitando o território de nossa infância.
Da goiabeira, tudo se aproveita. É remédio eficiente para muitos males: raízes para diarreia; folhas para dor de garganta, gengivite, úlcera de pele; botões florais para combater salmonela e shiguella; casca contra sangramentos e inflamações. Tem grande valor nutritivo: vitamina A para pele, mucosa, vista; vitamina B para o aparelho digestivo; vitamina C para evitar hemorragias, infecções e ajudar nas cicatrizações. Mais cálcio, ferro e fósforo para a formação de ossos, dentes e sangue. Mas é, sobretudo, comida perfeita para quem quer boa saúde. Por ter pouco açúcar e caloria, para quem está condenado ao martírio (no caso doce) de emagrecer.
Seu sabor marcante logo a transformou em símbolo da arte dos doces pernambucanos: de corte, em calda, compotas, geléias, em pasta. Também está nos recheios do bolo-de-rolo, do bem-casado e do pastelzinho Lolita, todos nascidos nas casas-grandes dos engenhos de açúcar. Faltando só falar do casamento entre goiabada e queijo, uma combinação definida por Gilberto Freyre (em Açúcar) como “saborosamente brasileira”. Acabou apresentada ao mundo como “sobremesa dos deuses”, por Assis Chateubriand, durante sua atribulada passagem como embaixador do Brasil em Londres. É, de longe, nossa sobremesa mais popular, por aqui conhecida como Romeu (o queijo) e Julieta (a goiabada). Só que neste nosso romance culinário tropical, e bem diferente da tragédia inglesa, nesse casamento tudo acaba bem. Muito bem.
Receita >
Torta de goiaba - receita de Claude Troisgros
Ingredientes
Para a massa: 160 g de biscoito maisena (passado no processador), 80 g de manteiga, 80 g de açúcar, ½ colher de chá de canela, sal.
Para o recheio: 600 g de cream cheese Philadelphia, 220 g de creme de leite fresco, 120 g de açúcar refinado, 3 ovos
Para a calda de goiaba: 500 g de goiaba madura, 200 g de açúcar, suco de um limão.
Preparo
Massa: misture tudo com a mão. Coloque no fundo de uma forma de aro removível e deixe na geladeira por uma hora.
Recheio: Bata o creme cheese na batedeira, junte o creme de leite e o açúcar, aos poucos. Acrescente os ovos e bata até que fique um creme homogêneo. Despeje na forma forrada com a massa e leve para assar a 100º , por uma hora e meia. Depois leve à geladeira.
Calda de goiaba: Descasque a goiaba e fatie. Leve ao fogo brando junto com o açúcar e o suco de limão. Deixe cozinhar até ficar com uma consistência pastosa. Espere esfriar e bata no liquidificador, peneirando em seguida.
Montagem: Cubra com a calda de goiaba, decore com fatias de goiaba e folhas de hortelã.