Dia do trabalhador
Segunda próxima é 1o de maio. A tentação de escrever sobre essa data é grande. “E por que não escreve?” - perguntou José Paulo, meu marido. “Porque já escrevi antes”. Ele riu e disse: “Escreva de novo, que memória de leitor é como na piada do computador português. Uma vaga memória”. Segundo ele, quem não leu vai gostar. E, quem leu, só no fim vai lembrar que já lera algo assim, antes. Sem saber onde. “Escreva”, sugeriu. Vou aceitar o conselho.
E já começo dizendo que tudo começou em um 1º de maio no distante ano de 1886; quando, em Chicago (EUA), um grupo de operários iniciou greve por melhores salários e redução da jornada de trabalho - de 13 para 8 horas. O saldo foi trágico: 6 corpos no chão, mais de 50 feridos e muitas prisões. O resultado é que, por conta dos protestos, foram condenados à forca os principais líderes trabalhistas americanos - Engel, Fisher, Parsons, Spies. Mais tarde, a Internacional Socialista, em Bruxelas, elegeu 1º de maio como “dia de festa dos trabalhadores de todos os países, durante o qual eles devem manifestar os objetivos comuns de suas reivindicações, bem como sua solidariedade”.
Alguns países celebram em datas diferentes. Nos Estados Unidos (afinal foi lá que se deu a matança) e Canadá, é na primeira segunda-feira de Setembro. Na Austrália varia o dia, segundo a região. É um costume deles. Senadores, por exemplo, a depender da região, podem ser 2 ou 4 ou 6, por estado. No resto do mundo, ficou mesmo 1º de maio. Em Portugal, começou a ser comemorado só depois da revolução dos Cravos (25 de Abril de 1974). E, no Brasil, a partir do Governo Vargas.
Em homenagem a esses trabalhadores, hoje vamos falar de um instrumento que acompanha todos eles, quando seguem para seus ofícios - a marmita. Ledo Ivo até deu esse título a um belo poema: “Em sua marmita/ não leva o operário/ qualquer metafísica./ Dentro dela tudo/ tem lugar marcado./ Tudo é limitado/ E nada é infinito”. As primeiras surgiram no Japão. Por esse tempo, eram apenas caixas rudimentares de madeira, com tampa. Na Índia eram pesadas maletas de ferro. Na França, usava-se conjunto de panelas que se encaixavam, umas nas outras. Redondas, largas, sem cabo e com tampa. De alumínio ou de barro. Usadas, inclusive, para preparar pratos que necessitavam longos cozimentos (como o cassoulet e o pot-au-feu), depois transportados para outros lugares. De lá vem o próprio nome do objeto, marmite.
Por aqui, marmitas são quase sempre de alumínio - invariavelmente amassadas, redondas ou retangulares. E pequenas. “Igual à boca do estômago/ Feita sob medida/ para a sua fome”, ainda segundo Ledo Ivo. Na hora do almoço, os operários buscam algum lugar sombreado e ventilado, em grupos de 2 ou 3. Servem-se na própria marmita. Sem esquentar, claro, que nem sempre há fogo disponível. Daí vem a expressão boia-fria - depois usada, sobretudo, para designar trabalhadores da zona rural. “Leva peixe frito/ Arroz e feijão”, continua Ledo Ivo. Não só isso. Também farinha, macarrão e, às vezes, pequenos pedaços de carne, galinha ou charque. Comida pouca e fria. Às vezes preparada de véspera, usando o que se tem em casa. Apesar de tudo, bem visto, talvez esses até tenham sorte. Que ainda há muitos homens e mulheres, desse Brasil, para quem a vida é sobretudo um exercício diário de sobrevivência. E, esses, nem marmita têm. Sem contar aqueles a quem também falta tudo. Até a esperança.
Bacalhau à Brás
Ingredientes:
400 g de bacalhau
3 colheres de sopa de azeite
500 g de batata
6 ovos
3 cebolas
1 dente de alho
salsa
sal
pimenta
óleo
azeitonas pretas
Demolhe o bacalhau, retire espinhas e pele, desfie.
Corte as batatas (em palha), frite em óleo bem quente e seque em papel absorvente.
Coloque em uma panela o azeite, as cebolas (cortadas em rodelas bem finas) e o alho (picado). Acrescente o bacalhau desfiado e deixe refogar, lentamente. Junte a batata palha e os ovos (batidos com sal e pimenta). Mexa cuidadosamente até que os ovos estejam cozidos.
Coloque tudo em uma travessa. Polvilhe com salsa picada e azeitonas pretas. E sirva logo.