Ensinar no Brasil

Ensinar no Brasil - Greg Vieira

Rubem Alves (15 de setembro de 1933 – 19 de julho de 2014) foi, com toda certeza, um dos maiores pensadores do seu tempo. Escritor, filósofo, psicanalista, teólogo e, sobretudo, educador. Ensinar, segundo suas próprias palavras, “deve ser um ato de alegria, um ofício que deve ser exercido com paixão e arte”. E foi sempre muito preocupado com a qualidade de nossa educação. “Há escolas que são gaiolas e escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte de voo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que eles amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar”.
Nas últimas semanas acompanhamos a tramitação, no Congresso Nacional, do projeto de lei que deverá orientar a política do Novo Ensino Médio no Brasil. “O debate foi ampliado pelas questões políticas e corporativas, em vez de se centrar nos jovens, na escola que eles vão realmente precisar para viver no século XXI”, segundo Mozart Neves Ramos (em importante artigo publicado no JC, em 1 de abril passado). Para ele, “o ensino Médio que estamos aprovando é do tamanho da (i)maturidade da educação brasileira”. E ainda fornece dados alarmantes: de cada 100 jovens que concluem este Ensino Médio na rede pública, apenas 5 aprenderam o que seria esperado em matemática; e 31, em língua portuguesa. Em 2022, com base no Censo Escolar, cerca de 450 mil jovens abandonaram o Ensino Médio. E, de cada 100 que concluem este Ensino Médio, apenas 22 conseguem ingressar no Superior. Temos apenas 11% deles em cursos técnicos profissionalizantes, enquanto a média dos países da OCDE chega a 42%; sem contar que países como Áustria, Finlândia e Suíça chegam a 60%. 
Só para lembrar, Rubem Alves, além de educador, gostaria de ter sido muitas outras coisas. “Gostaria de ser pianista, jardineiro, artista de ferro e vidro, talvez monge. E, sobretudo, de ser um cozinheiro”. Como dizia, “é que tenho um fascínio enorme pelas panelas, pelo fogo, pelos temperos e por toda a bruxaria que acontece nas cozinhas”. Até sugeria “No processo de aprendizagem tanto aluno como professor deveriam fazer estágio em uma cozinha, ali teriam lições preciosas de botânica, biologia, química, física, economia e matemática. Em nenhum lugar se aprende tanto a somar, diminuir, multiplicar e dividir”.  Dizia, também, “Sinto-me feliz cozinhando. Não sou cozinheiro. Preparo pratos simples. Gosto de inventar. O que mais gosto de fazer são sopas. Vaca atolada, sopa de fubá, sopa de coentro. A culinária leva a gente bem próximo das feiticeiras. Como a Babette (em Festa de Babette) e a Tita (em Como água para chocolate)...”  
Quando alguém como Rubem Alves morre, todos nós empobrecemos um pouco. Pouco antes de morrer, cansado de escrever como dever todas as semanas, fez uma crônica de despedida. “A velhice é o tempo do cansaço de todas as coisas. Estou velho. Estou cansado. Já escrevi muito. E como acontece com as estrelas, há sempre a obrigação de brilhar”. Só que, para seus leitores devotos, ele será para sempre uma estrela brilhando. Nos lembrando, com palavras, qual o melhor caminho para resolver os problemas. Como agora, com esses debates sobre educação. Viva Rubem Alves!   
 

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