Forró, poesia e dieta sertaneja
Semana passada, fomos a Gravatá. Ouvindo, no carro, Nos passos do Sertão - do grande poeta Marcos Passos. Nesse CD, ele fala daquela que é a mais castigada de todas as nossas regiões - o Sertão. Fala da seca, da força do povo, de sua cultura. Com destaque para os sabores. Presente em quase todos os poemas, a maioria do próprio Marcos Passo. Mas em nenhum deles se revelam tão presentes como em Dieta sertaneja (de outro poeta, Carlos Severiano Cavalcanti), que transcrevo a seguir:
No sertão nós comemos tapioca
Jerimum, feijão-gordo e milho assado
Maxixada e farofa com guisado
Carne seca moída na paçoca
Milho quente dançando na pipoca
O tutano a brilhar sobre o pirão
Mamão verde no falso camarão
Carne assada comida com angu
Café quente tomado com beiju
Logo após de um gostoso rubacão.
Saboroso cuscuz, ralando o milho
E depois, borrifado em leite quente
A comida legal de nossa gente
As espigas ligadas pelo atilho
Sobremesa crocante do sequilho
Mel de abelha por cima do cará
A terrina esborrando mungunzá
No domingo a famosa panelada
Manhã cedo a tigela de umbuzada
Mel de furo, castanha e corrumbá.
Mariola, jabá e macaxeira
O pirão degustado na buchada
O sabor destacado da cocada
Água doce apanhada na biqueira
Goma pura e farinha sem crueira
Bode assado, e também raspa de queijo
Deixa a boca repleta de desejo
Nessa vasta dieta do sertão
Sem falar na panela de capão
Mesa farta a do nosso sertanejo!
A famosa galinha cabidela
O gostoso feijão baião de dois
Onde a carne cozida com arroz
Faz o cheiro emanar lá da panela
A banana adoçada e com canela
Fava branca cozida e temperada
Jerimum machucado na coalhada
Sem deixar de comer queijo de coalho
A batata assadinha no borralho
Leite cru no curral, de madrugada.
A farinha de milho no feijão
A canjica e a pamonha no jantar
Bolo preto, o melhor do paladar
Café forte batido no pilão
Charque assada e farofa de bolão
O sabor dessa mesa é inconteste
Essa nossa dieta se reveste
Das melhores riquezas naturais
Nossas frutas e nossos vegetais
São manjares na mesa do Nordeste.
Neste poema, está uma descrição minuciosa de todos os sabores do Sertão. Café da manhã é a refeição mais forte. A que dá força para enfrentar o dia. No almoço, pratos pesados. E, no fim do dia, ceia servida cedo, na “boca da noite”, como se diz por lá. Em todas as refeições se revelando uma culinária simples, afirmativa e generosa. Como sua gente.