Hambúrguer virou moda
Hambúrguer virou moda. Com sabores variados. Para todos os gostos. No final do mês passado, fábrica, em Igarassu, até começou a produzir “hambúrgueres com tempero exclusivo para o paladar nordestino”. A primeira com “DNA local desse tipo de alimento no Norte e Nordeste”, segundo matéria do Diario de Pernambuco (26 de janeiro).
A fábrica começou com salsichão, mortadela, calabresa, salsicha e embutidos cozidos. Agora “temos capacidade de produzir 500 toneladas por mês somente de hambúrguer”, disse um dos sócios. Enquanto que, o outro, completa: “Não existia uma empresa com hambúrguer com esse sabor e preço competitivo”.
Destacando o segredo do sucesso. Todos os produtos são feitos “de acordo com pesquisas qualitativas de sabor pra identificar o que o nordestino mais gosta”. Não só aqui no Nordeste. No Sul, também. As escolas da rede pública municipal de São Paulo vão começar a servir na merenda hambúrgueres de feijão preto.
Bom lembrar que a receita original do hambúrguer nasceu aos poucos. Juntando experiências de muitas culturas. Desde a mais remota antiguidade, os homens começaram a picar as carnes antes de comê-las. No século XIII, cavaleiros tártaros sofisticaram o processo.
Passando a amaciar carnes cruas e duras, pondo-as até sob suas selas, durante as longas cavalgadas. Em seguida, aprenderam a temperar (com ervas, pimenta e sal) essas carnes, para que se conservassem por mais tempo.
Assim nasceu o bife tártaro (carne crua temperada), ainda hoje um prato de enorme prestígio no mundo todo. A receita foi levada ao norte da Alemanha por marinheiros que navegavam no mar Báltico. E, lá, passaram a fritar aquele bife de carne moída crua que “no século XVIII era servido nas refeições acompanhado de cebolas e batatas”, como descreve Maria Lucia Gomensoro (em Pequeno dicionário de gastronomia). O sucesso foi tão grande que logo virou prato típico da culinária alemã.
O hambúrguer chegou aos Estados Unidos no início do século XIX. Para historiadores, levado por imigrantes alemães que partiram do porto de Hamburgo. Segundo outros, por judeus russos que chegaram, a esse novo mundo, em cargueiros da companhia de navegação Hamburgo-América.
Entre eles o lituano Al Jolson (Asa Yoelson) - que, pintado como se fosse um negro americano, cantou Mammy de smoking e luvas brancas, no primeiro filme sonoro americano, O Cantor de Jazz. Só que teriam, esses russos, preferido chamar seu bitok (uma carne moída frita na manteiga) de Hamburg steak - e não, como seria natural, bitok steak. Por razões apenas de marketing. Já naquele tempo!
Para vender melhor seu sanduíche aos americanos. E deu certo. Um caso de amor à primeira vista. Em 1904 foi vendido na feira mundial de St. Louis, como uma refeição prática e rápida. E, de lá para cá, sua fama só fez crescer. O crítico gastronômico Jeffrey Steingarten (em O homem que comeu de tudo) considera, ainda hoje, “a perfeita comida americana, pois permite que você coma tendo uma mão livre para dirigir o carro”.
Aos poucos, os americanos foram aperfeiçoando a receita. Acrescentaram alface, bacon frito, picles e tomate. E passaram a servir essa carne entre duas fatias de pão. Primeiro, apenas pelas ruas. Mas logo começou a ganhar prestígio, de verdade, ao aparecer no cardápio do restaurante Delmonico’s (Nova York).
E se popularizou quando, em 1929, apareceu nas tiras (de histórias em quadrinhos) de Popeye, um personagem criado por E.C. Segar. Só que, enquanto Popeye comia espinafre (para ter força), Wimpy (no Brasil, Dudu) preferia hambúrguer, dizendo sempre a mesma frase - “Pagarei com prazer, amanhã, por um hambúrguer hoje”. Depois, Wimpy virou uma cadeia de fast food que vendia apenas hambúrguer.
Ao Brasil, esse hambúrguer chegou com Robert Falkenburg. Um campeão de tênis que ganhou o torneio de Wimbledon, em 1948. E que abriu, em 1952, no Rio de Janeiro, a primeira lanchonete nos moldes americanos - a Bob’s (diminutivo de Robert). Faltando só dizer que, nessa lanchonete, também passamos a conhecer o milk-shake e o sundae. Hoje o hambúrguer é tratado, pelos gourmets, como coisa séria.
A parte principal é a carne (com alguma gordura) - coxão mole ou duro, fraldinha, patinho, picanha, maminha. István Wessel (em Homeburger - feito em casa é mais gostoso) dá conselhos: “A carne não deve nunca ser triturada ao ponto de parecer um patê”; ao contrário, o ideal é “encontrar pedaços de carne mais granuladas” e, na hora “de moldar, não comprimir demais”.
Temperar, “só na hora”. Especial atenção, também, com o pão - que deve ser macio, mas firme, para segurar o suco que se desprende da carne. Sem esquecer que o queijo deverá ser, sempre, de boa qualidade - gruyère, gouda, muçarela (de vaca ou de búfala) ou prato.
RECEITA: HAMBÚRGUER
INGREDIENTES
PARA A CARNE:
400g de carne - 80% de carne magra (patinho) e 20% com mais gordura (picanha), sal e pimenta-do-reino, 2 pães de hambúrguer, 2 fatias de queijo gruyère, 1 tomate maduro em rodelas, 2 folhas de alface americana, 2 colheres (de sobremesa) de maionese, 1 colher (de sobremesa) de mostarda Dijon, 6 fatias de bacon, 2 fatias de cebola roxa, manteiga
PREPARO:
· Com uma faca afiada, pique as carnes em pequenos cubos. Forme um disco de aproximadamente 1,5 cm de espessura. Tempere com sal e pimenta. Reserve
·Aqueça a chapa (ou frigideira antiaderente) e frite o bacon até que fique crocante. Com papel absorvente retire o excesso de gordura. Reserve. Frite a carne dois minutos de cada lado. Ponha o queijo em cima e deixe derreter
· Passe manteiga no pão e coloque na chapa, até que fiquem douradas.
· Passe maionese na parte interna dos pães, ponha em cada um - a alface, o hambúrguer, uma fatia de cebola, três fatias de bacon e uma rodela de tomate. Passe mostarda na outra metade do pão. Feche e sirva logo
*É especialista em Gastronomia e escreve quinzenalmente neste espaço