Lendas, Mitos e Mentiras
Em Lendas, Mitos e Mentiras, Richard Shenkman revela que boa parte da história é “uma fábula sobre a qual as pessoas concordam”. Porque cada verdade tem sua própria versão. E a que aprendemos, quase sempre, é escrita pelos vitoriosos, “filtrada pelo prisma de seus preconceitos e interesses”. Para ele não é verdade, por exemplo, que Nero tocava harpa enquanto Roma queimava; ou que o rei Artur (se é que existiu) morava num castelo; muito menos que Cleópatra, a rainha egípcia (que nasceu na Grécia) era linda. Nem verdade que Maria Antonieta (mulher de Luís XVI, rei da França) teria dito a uma multidão faminta em frente ao palácio de Trianon: “Se o povo está com fome e não tem pão, que coma brioche”. Para Shenkman, ela nunca disse isso. “Receio que jamais tenha dito algo que merecesse ser citado”.
Verdade apenas, em toda essa história de Maria Antonieta, é que aqueles eram mesmo tempos difíceis. Aristocratas comiam brioches, feitos com trigo refinado. Enquanto o povo tinha que se contentar com pães de massa escura, rústica e grosseira. Feitos de vários jeitos: com bolotas de carvalho, sementes de uvas secas, casca de nozes e farinha de cevada (em certos casos, de aveia); ou juntando restos de farelo de vários cereais, que sobravam nos campos onde eram ceifados. Aquele protesto diante do Trianon, com certeza, não foi o primeiro. Pouco antes a população furiosa tomara de assalto a Boulangerie du Faubourg Saint-Antoine (Paris), exigindo que lhe servissem pão branco. Não atendidos, foram até o Palácio de Versalhes. Para que o rei trouxesse de volta, a Paris, todos os boulangers (padeiros) e petits mitrons (ajudantes de padeiro) então em serviço nos palácios dos nobres. Depois Maria Antonieta acabou presa na Conciergerie. E perdeu a cabeça numa estranha máquina que acabara de ser inventada por certo Dr. Guilhotin. Mas essa é outra história.
Os estudiosos quase sempre precisaram de tempo para encontrar a origem das frases. E essa dos brioches, a descobriram em as Confissões de Rousseau - que atribui o dito a uma jovem princesa. Sem que se saiba o nome dessa mulher desumana e sem sentimentos. Certo é que “não poderia ter sido Maria Antonieta, já que ela ainda não nascera à época em que a observação teria sido feita”. Sem contar que o brioche também nasceu bem antes dela. Sem consenso quanto a sua origem. Para uns, se deu na região da Bretagne, mais precisamente na cidade de Saint Brieuc, onde seus habitantes eram conhecidos como briochins. Daí teria vindo seu próprio nome, “brioche”. Para outros, veio das regiões de Champagne-Ardenne e Lorraine (nordeste da França).
Brioche é a mais antiga receita de massa fermentada que leva na sua composição açúcar. Além desse açúcar e de fermento, leva também farinha, manteiga, ovo e sal. O resultado é uma massa bem macia, nem salgada nem doce, do tamanho de uma empada grande, com bordas em gomos (por conta do formato da forma). Mais parece um cogumelo com duas bolas superpostas, uma pequena sobre outra maior. Em cada região da França ganha formato e recheio próprios. Além da receita clássica, recebe variações com adição de frutas, passas, queijo. Depois ganhou o mundo - na Itália é panettone ou pandoro; na Alemanha, stollen ou kugelhopf; na Espanha, pompes ou mouna; em Portugal e Brasil, é “brioche” mesmo.
Pronunciar frases desastrosas não é privilégio de princesa. Aqui mesmo outra mulher poderosa, a ex-ministra do Turismo Marta Suplicy, seguiu seu exemplo. Quando aconselhou passageiros, indignados com os repetidos atrasos dos aviões, a “relaxar e gozar”. Nem original foi. Que essa frase “se o estupro é inevitável, relaxe e goze” já havia sido dita antes, por Tex Antoine - o homem da previsão do tempo de uma televisão americana. Maria Antonieta perdeu a cabeça, literalmente. Tex Antoine, o emprego. Já a ministra paulista, a chance de não ser arrogante.
RECEITA: BRIOCHE
INGREDIENTES:
1 kg de farinha de trigo
150g de açúcar
20g de sal
35g de fermento biológico
12 ovos
600g de manteiga
PREPARO:
- Misture bem todos os ingredientes, até formar uma massa homogênea. Deixe
descansar por 20 minutos.
-Amasse novamente a massa por 5 minutos, divida em pedaços (formando bolas) e
deixe descansar outra vez, por 20 minutos.
-Coloque as bolas em forma de empada. Puxe a massa em cima, formando uma
bolinha (como na forma original).
-Deixe descansar mais uma vez, por 1 hora. Pincele com ovo e asse em forno pré-
aquecido a 180º
*É especialista em gastronomia e escreve quinzenalmente neste espaço