Logo Folha de Pernambuco

Leonardo e os guardanapos

Leonardo e os guardanapos - Editoria de Arte

Os primeiros antepassados do guardanapo surgiram no século XI, quando ainda não se usava talheres nas refeições. Para limpar as mãos, sujas de comida, recorria-se a pêlos de animais vivos (sobretudo coelhos e cães, amarrados nas cadeiras) ou ao cabelo dos escravos. Depois vieram as toalhas, sempre bem compridas e derramadas no colo dos comensais, servindo também para limpar a gordura de mãos e bocas. Guardanapo, como hoje o conhecemos, parece ter sido mesmo invenção de Leonardo da Vinci (1452-1519). Nada a estranhar, que o florentino passou 30 anos de sua conturbada vida servindo a Ludovico Sforza, em Milão, como “Conselheiro de Fortificações” e sobretudo “Mestre de Banquetes”. São muitas as suas invenções culinárias, nem todas exitosas: assador automático, lâmina misturadora, saca-rolhas, quebra-nozes, moinhos de pimenta (que ganharam o mesmo desenho do farol de La Spezia), espremedor de alho (que na Itália é chamado de Leonardo, em homenagem ao inventor, dispositivo para eliminar rãs dos barris de água potável, um gigantesco triturador de vacas, além de engenhocas para fins muito variados - suspender ovos, cortar ovos em rodelas ou fazer spaghetti. Acabou demitido quando um bolo de casamento, por ele concebido para ser o maior já visto no mundo, acabou destruído por milhares de pássaros e ratos - tantos que provocaram, na cidade, uma epidemia. Mas essa é outra história.

Certo é que mestre Leonardo, um belo dia, anotou sob o título “Uma alternativa às toalhas de mesa sujas”, no seu caderno de notas de cozinha (Codex Romanoff): “Inspecionando as toalhas de mesa do Senhor Ludovico, meu Amo, depois de seus comensais terem abandonado a sala do repasto, deparou-se-me uma cena de caos e depravação tais (semelhante ao rescaldo de uma batalha) que considero prioridade, antes de qualquer cavalo ou retábulo, encontrar alternativa. Já disponho de uma. Creio que deveria ser dado a cada um dos convidados um pedaço de pano individual que, depois de sujo pelas mãos e pelas facas, poderia ser dobrado, de forma que não conspurcasse a aparência da mesa com suas imundices”.

Pietro Alemanni, embaixador de Florença em Milão (à época ainda não existia a Itália, que nasceu como país entre 1859 e 1870), menciona essa invenção em um de seus relatórios (julho de 1491): “Ontem à noite Mestre Leonardo apresentou à mesa solução para o problema, consistindo em pano individual colocado diante de cada conviva, o qual deveria ser ensujentado no lugar da tolha de mesa”. Só que não foi fácil convencer a nobreza das conveniências no uso desse pano, como atesta o mesmo Alemanni: “Para sua grande perturbação, ninguém achou modo de o utilizar ou soube o que fazer com ele. Alguns foram ao ponto de se lhe sentar em cima. Outros assoaram-se nele. Outros, ainda, serviram-se dele para o atirarem em tom de brincadeira a outros comensais. Mas houve também quem o utilizasse para envolver os víveres e a ocultar na bolsa ou no bolso. Mestre Leonardo confiou-me a sua angustia de que o invento nunca chegasse a ter aceitação”. Estava errado, o mestre, posto que aos poucos acabou reconhecido como um grande sucesso. Apresentado em forma de flor, pássaro ou palácio, como ele mesmo sugeriu em desenho no seu caderno de anotação.

Ao fim do texto, se pergunta da Vinci:“Mas que nome hei de dar a estes panos? E como apresentá-los?”. Seu artefato acabou adotado com o nome de “mantile”, dada sua semelhança com as mantilhas. Mais tarde, Catarina de Médice levou alguns para a França, quando foi casar com Henrique II. Só que, por lá, passaram a ser chamados de “garde-nappe” (guarda toalha) - por proteger essa toalha de mesa dos molhos e outros restos de comida. O nome foi mudando, com o tempo e os lugares. Na língua portuguesa, por exemplo, dada a influência do francesismo, depois de guarda-napo (1536) e guardenapo (1538), acabou mesmo guardanapo (1570). Enquanto na própria França, doce ironia, passaram esses mesmos guardanapos a serem chamados de “serviette”. Acontece.

Na edição portuguesa de “Manual Prático de Etiqueta ou Arte de Saber Viver”, sem data (posto que, à época, não era comum referir o ano da edição dos livros) mas seguramente de fins do século XIX, seu autor, Felix Scapardini (que se intitulava “professor d’etiqueta das principais famílias italianas”), aconselha o uso correto desse guardanapo: “Não se desdobre o guardanapo antes dos donos da casa o terem feito. E nunca se desdobre inteiramente, limitando-se a colocá-lo, dobrado em três partes sobre os joelhos. Às senhoras é porem permitido prende-lo ao peito com alfinetes bonitos, se quiserem fazê-lo”. Foram-se os alfinetes, ficou o guardanapo.

ALGUMAS REGRAS BÁSICAS DE ETIQUETA, PARA USO DOS GUARDANAPOS:

· Logo que sentar à mesa, desdobre o guardanapo (sem sacudir, para abri-lo) e coloque-o sobre as coxas, protegendo a roupa durante a refeição.
· Se tiver que levantar da mesa, deixe-o à esquerda de seu prato e nunca na cadeira. Ao final da refeição, faça a mesma coisa, sem jamais dobrá-lo novamente.
· O guardanapo deve ser usado com leves pancadinhas na boca, nunca para esfregá-la.
· Depois de comer algum alimento com as mãos, molhe as pontas dos dedos na água da lavanda e enxugue-os no guardanapo.
· Se o guardanapo cair, em um restaurante, espere que o garçom volte à mesa e peça para que seja trocado. Em casa, não precisa ir tão longe; nesse caso, apenas coloque-o de novo no colo. Discretamente, se possível.
· Guardanapos descartáveis, usados para proteger a mão do copo com a bebida gelada ou junto com canapés, salgadinhos e doces, depois de usados, devem ser colocados em um pratinho próximo ou na própria bandeja em que são servidos.

Veja também

Mart'nália lança novo álbum cantando clássicos do pagode dos anos 1990
LANÇAMENTO

Mart'nália lança novo álbum cantando clássicos do pagode dos anos 1990

Jungle Fight, maior evento de MMA da América Latina, chega ao Recife para fomentar cenário local
Luta

Jungle Fight, maior evento de MMA da América Latina, chega ao Recife para fomentar cenário local

Newsletter