O doce mel I (os primórdios)
A história do mel começa bem antes dos homens. Porque abelhas já habitavam a terra muitos séculos antes deles. Os primeiros homens ainda não sabiam que o néctar (líquido secretado pelos vegetais) poderiam se transformar em mel. A compreensão científica dessa mudança veio só bem mais tarde, em 1922, com estudos que valeram um Nobel de Medicina ao austríaco Karl von Frisch (em Vida e Costume das Abelhas). Cada colônia se estrutura, desde aqueles primórdios, a partir de um mesmo e imutável modelo - com uma rainha e cerca de dois mil zangões dedicados apenas à reprodução. A rainha vive até cinco anos e produz, nos meses de postura, em média dois mil ovos/dia. As operárias são aproximadamente 60 mil e vivem no máximo 45 dias. A elas são destinadas todas as demais tarefas - transporte do néctar, produção do mel e sua maturação. Até três dias passam batendo as asas, para ventilar a colméia e mantê-la na temperatura ideal.
Na pré-história, esse mel era utilizado apenas puro. Em seu estado natural. É dessa época uma gravura rupestre da caverna de La Araña, próximo de Valencia (Espanha), representando a colheita do mel num ninho de abelhas silvestres. Depois, passou a ser utilizado também como bebida, misturado com água (hidromel) ou vinho. Estando presente em quase todos os rituais religiosos. Segundo a mitologia grega, Zeus foi deixado por sua mãe, Rea, na ilha de Creta, e se valeu dele para sobreviver - em agradecimento, concedendo-lhe propriedades especiais. De “abelhas” eram chamadas as sacerdotisas gregas, com seu nome significando “palavra” ou “verdade” - aquelas que, pela palavra, revelam a verdade. No Egito, era usado para embalsamar mortos ilustres. Também sendo postos nos lábios das crianças que acabavam de nascer, para adoçar-lhes a vida que começava. Em Roma, Virgilio dedica às abelhas o canto IV das Geórgicas: “O aéreo mel agora!/ o celestial presente!”. E há referências dele nos principais livros religiosos - Tora, Corão e sobretudo na Bíblia. Sem esquecer que Canaã, a terra prometida, era então conhecida como a “terra onde corre leite e mel”. (Continua no próximo sábado).
* É especialista em Gastronomia. Escreve toda semana neste espaço.