O doce sabor da manga (Parte II)
Manga, no começo dos tempos, era privilégio dos deuses. E mangueira, árvore sagrada. Veio da Índia e correu mundo, com os portugueses, no tempo das grandes navegações. Primeiro na África. Ao Brasil, as primeiras mudas chegaram por volta de 1.700, na Bahia. Foi “a árvore asiática que melhor se adaptou ao clima brasileiro, tornando-se quase obrigatória na paisagem do Norte e Nordeste do país”, observou Pio Corrêa (1844–1934). Daqui, foram levadas para a América espanhola.
Da Índia veio, também, o próprio nome manga. Com origem no tâmil (língua falada pelos tâmeis – habitantes da Índia meridional) – para quem era mankay. Deles não copiamos, entretanto, os jeitos de preparar – por lá, usada indistintamente como fruta ou legume. Verde ou madura. Em pratos salgados ou doces. Como ingrediente principal ou condimento (pó de manga). “Em conserva de açúcares, em conserva de vinagre, em azeite e sal; recheadas com gengibre verde e alhos; salgadas, cozidas; e de todas estas maneiras as vistes já, e provastes nesta casa”, como consta no capítulo “Das Mangas”, no livro de Garcia da Orta (1499–1568). Entre os muitos pratos de prestígio, merecem destaque, Aamchur (creme de manga com amêndoas picadas) e Chanti (compota agridoce, muito apreciada pelos ingleses – o mango chutney – para acompanhamento de carnes e grelhados). Por aqui é comum usar essa manga em compota, doce, gelatina, mousse, sorvete, suco ou ingrediente obrigatório nas saladas de frutas. Ainda grelhadas, acompanhando filé, peru, presunto. Recentemente, começou também a ser usada nas saladas de folhas, sempre com muito sucesso. Mas nada se compara ao seu sabor natural. Devendo ser consumida sempre madura, claro.
Muitos remédios vêm da mangueira. Resina, extraída de caule e galhos, é eficiente no tratamento da diarreia crônica e vermes. Chá das folhas alivia sintomas da asma. Chá da casca do fruto combate hemorragia uterina. Manga hoje faz parte de nossa cultura. Dizem ser veneno, quando misturada com leite ou cachaça. “Cuidado com a manga”, lembra o ditado popular. Mas podem ficar descansados os que se dispuserem a enfrentar esta mistura, por não haver nenhuma evidência científica da crendice. Também pode causar erupção na pele, se diz. Só que “as borbulhas desse tempo são pela quentura demasiada que há por aqui. As mangas não são causa das borbulhas”, já comprovava Garcia da Orta. Com o tempo, passou a também estar presente inclusive em nossa língua. É “parte do vestuário onde se enfia o braço”, lembra mestre Mário Souto Maior (1920–2001). E peça dos candeeiros. “Ter cor de manga-rosa” é ser corado. “Botar as mangas de fora” é mostrar sua verdadeira natureza. “Mangar” de alguém é zombar. “Arregaçar mangas” é ter disposição para o trabalho. “Manga-rosa”, assim dizem os apreciadores da maconha de boa qualidade. E até raça de cavalo é, pequeno e de passo macio – o “Mangalarga”. Como se tudo isso não bastasse, Mangueira é também nome de bairro, de parada de trem e da mais importante escola de samba do Rio de Janeiro – a verde e rosa, Estação Primeira de Mangueira. Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito homenagearam para sempre a árvore que inundava o bairro com suas sombras, seu perfume e suas folhas secas:
Quando eu piso em folhas secas
Caídas de uma mangueira
Penso na minha escola
E nos poetas da minha Estação Primeira.
CHUTNEY DE MANGA
INGREDIENTES:
1 xícara de vinagre de vinho branco
3 colheres de sopa de suco de limão
½ xícara de água
1 xícara de açúcar mascavo ou comum
2 colheres de chá de sal
3 paus de canela
1 colher de chá de mostarda
5 mangas grandes cortadas em cubos
½ xícara de passa
3 pimentas dedo de moça picadas
1 colher de sopa de gengibre fresco ralado
PREPARO:
Coloque todos os ingredientes no fogo (menos a manga e a mostarda).
Quando ferver junte a manga.
Deixe no fogo por 30 minutos.
Quando tirar junte a mostarda.