O estranho sabor do voto
Em campanha eleitoral vale tudo. Até amor sincero por pratos que, longe das eleições, nenhum candidato teria coragem de provar. É o preço para ter voto. Fernando Henrique Cardoso, em sua eleição para Presidente, até buchada experimentou no interior de Pernambuco. E disse que gostou.
Algo difícil de acreditar, aqui pra nós, por ser prato que só se gosta quando se prova ainda criança. Com isso, candidatos tentam fazer o eleitor pensar que comem como eles. Que gostam do que eles gostam. Tomam cafezinho em copo de bar, comem pasteis de padaria, coxinha e água de coco na praia. E pratos típicos em cada lugar.
As especiais relações entre políticos e sabores não ocorrem só por aqui. Basta lembrar das Areperas Socialistas, criadas por Hugo Chaves e incrementadas por Nicolás Maduro. Com a arepa (mais popular comida venezuelana) posta a serviço da ideologia. E não apenas dita arepa, outros pratos também. Com preços bem populares.
Ainda prometendo, à sua gente, geladeiras socialistas made in China. Tudo para não perder a oportunidade de dizer que os empresários, segundo as boas regras do populismo, são exploradores do povo. “A instalação de uma Arepera Socialista permitirá demonstrar aos comerciantes capitalistas que é possível ter um local onde se pode vender o alimento a preço solidários” - disse Eduardo Sáman, que respondia pelo Ministerio del Poder Popular del Comercio Interior.
A primeira dessas areperas populares foi inaugurada em uma galeria comercial de Caracas, o Conjunto Parque Central. Tendo, nas paredes, frases de propaganda do governo. O preço fortemente subsidiado, no dia da inauguração, era 5 bolívares - “justo e acessível ao povo venezuelano”, completou o ministro.
Não foi assim por muito tempo, que logo passou a custar o dobro Por conta de uma inflação que é a mais alta do continente. E não existe arepa, mesmo solidária, que resista a tanta inflação.
Arepa, só para lembrar, é prato típico da Venezuela. E da Colômbia, também. Elaborado a partir da farinha de milho. Tem forma circular e achatada, com cerca de 10 a 20 centímetros de diâmetro. E pode, indistintamente, ser acompanhamento ou prato principal de uma refeição.
Mais famosa delas é a Reina Pepeada - recheada com salada de galinha, abacate e maionese. Para alguns, a palavra deriva de erepa - nome que os índios Cumanagotos dão ao milho. Já para outros, vem de aripo - placa de barro onde esses índios cozinham milho.
Amanhã é dia de votar. De escolher aqueles que conduzirão os destinos do país, e de nosso Estado, pelos próximos quatro anos. Tempo de dizer NÃO à corrupção, à incompetência, ao autoritarismo, ao populismo. Porque se a gente não mudar, fica tudo como está.
Antigamente, candidatos davam almoço e jantar a seus eleitores. Hoje não pode mais, é crime eleitoral. Nem mesmo lanche. Vira ficha suja. Pela importância do momento não custa lembrar, caro leitor, que nossa arma é o voto. Amanhã é dia de usar essa arma com fé no futuro. E de dar vivas à democracia! Apesar de tudo.
RECEITA: AREPA
INGREDIENTES
1 xícara (de chá) de farinha de milho amarela
½ colher (de sopa) de sal
1 colher (de café) de pimenta-do-reino branca moída
1 colher (de sopa) de alho em pó
½ colher (de sopa) de fermento químico em pó
1 ovo
1 xícara (de chá) de água fervente
Muçarela ralada
Manteiga
PREPARO
· Em uma tigela, misture farinha, milho, sal, pimenta e fermento. Junte o ovo e misture bem. Amasse a massa com as mãos, até formar uma bola
· Molde pequenos pedaços da massa, em forma de hambúrgueres
· Em panela antiaderente, aqueça um pouco de manteiga e coloque as arepas. Até que fiquem douradas nos dois lados
· Sirva quente, com molho de tomate ou creme azedo, e queijo ralado
*Especialista em Gastronomia. Escreve quinzenalmente neste espaço