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O presépio somos nós

Lecticia Cavalcanti - Cortesia

São muitos os símbolos do Natal, presentes, nesta época do ano, por toda parte. Árvore de Natal, estrela, sino, Papai Noel, Reis Magos. A mesa com castanha portuguesa, amêndoas, nozes, passas. E, sobretudo, o presépio - uma representação do nascimento de Jesus, em Belém. Numa pequena gruta, que servia como curral, junto à uma estalagem. Em latim, curral é praesepiu - presépio. Aproveitaram pequeno buraco cavado no piso da rocha, em que os animais se alimentavam - a manjedoura (manjedoura é lugar de manjar, de comer). Forraram aquele espaço com palha. E ali, naquele berço improvisado, Maria “deu à luz seu filho primogênito” (Lucas 2, 7).
Aos poucos, aquele presépio passou a ser venerado pelos cristãos. Ali, precisamente, Santa Helena (mãe do imperador Constantino), mandou erguer, no ano de 325, a Basílica da Natividade - a mais antiga igreja do mundo. Mais tarde, em Greccio (Itália), no ano de 1223, um frade nascido Giovanni di Pietro (nome do pai) di Bernardone (nome do avô), depois conhecido como São Francisco de Assis, quis que as crianças compreendessem melhor como se deu o nascimento de Jesus. E decidiu representar a cena usando personagens vivos, usando como cenário pequena gruta que havia num bosque próximo. Essa primeira representação acabou se repetindo, todos os Natais, nas igrejas franciscanas. Em Portugal, esse presépio acabou conhecido por outro nome, que também designa gruta pequena - “lapinha”. Por lá, as encenações começaram em 1391, no convento das freiras do Salvador (Lisboa). A partir de 1478, em Nápoles, os atores foram substituídos por bonecos. Primeiro, em tamanho real. Depois, aos poucos, reduzidos a miniaturas. Em Pernambuco tudo começou com Frei Gaspar de Santo Antônio, a quem chamavam de “o primogênito” - por ser “o primeiro religioso que tomou o hábito no Brasil, em 1585”, palavras de Pereira da Costa (Folk-lore Pernambucano). Tendo lugar a festa no convento dos Franciscanos, em Olinda.
Sobre o presépio escreveu o padre José Tolentino de Mendonça, da Capela do Rato, onde vamos sempre à missa, quando estamos em Lisboa. Palavras que tocam todos nós. Os crentes e aqueles que, por qualquer razão, não têm fé. Com esse seu belo poema, que nos fala do verdadeiro sentido do Natal, desejo a todos uma feliz festa.

O Presépio somos nós
É dentro de nós que Jesus nasce
Dentro destes gestos que em igual medida
a esperança e a sombra revestem
Dentro das nossas palavras e do seu tráfego sonâmbulo
Dentro do riso e da hesitação
Dentro do dom e da demora
Dentro do redemoinho e da prece
Dentro daquilo que não soubemos ou ainda não tentamos
O Presépio somos nós
É dentro de nós que Jesus nasce
Dentro de cada idade e estação
Dentro de cada encontro e de cada perda
Dentro do que cresce e do que se derruba
Dentro da pedra e do voo
Dentro do que em nós atravessa a água ou atravessa o fogo
Dentro da viagem e do caminho que sem saída parece
O Presépio somos nós
É dentro de nós que Jesus nasce
Dentro da alegria e da nudez do tempo
Dentro do calor da casa e do relento imprevisto
Dentro do declive e da planura
Dentro da lâmpada e do grito
Dentro da sede e da fonte
Dentro do agora e dentro do eterno

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