Para meu pai, com carinho
Na próxima segunda é aniversário de meu pai. Já escrevi sobre ele, aqui. Muitas vezes. Para os que não o conhecem é alto, bonito e charmoso. Fala baixinho, sem nunca alterar a voz. É generoso, justo, solidário e amigo. Doce, firme, carinhoso e forte. Simples e altivo. Entre muitas outras qualidades. É também sempre muito correto na maneira de proceder. Reto. E fiel a todos os seus princípios. Sempre. Das lições que nos deu, uma é especial - a da confiança no tempo que passa, irremediavelmente. Daí a importância de aprender com acertos e erros do passado. Aceitando, em toda sua plenitude, as dádivas do presente. Mas, sobretudo, compreendendo as promessas generosas do futuro.
Passou sua infância no Engenho Ubaca, onde cedo aprendeu as contradições do açúcar. Doce, mas ao mesmo tempo amargo. Pelas diferenças sociais que sempre estiveram, historicamente, à sua volta. Estudou engenharia. Foi Secretário de Viação e Obras Públicas. Construiu estradas. E sempre esteve a favor da democracia. Contra golpes que viu e viveu. “Do Estado Novo. Da guerra. Contra Getúlio. Contra Juscelino. Contra Jango. Resistiu. Venceu”, segundo o jornalista Mario Helio (em Foi Assim). Deputado três vezes - uma, estadual e duas, federal. Perdeu e ganhou eleições. Foi Ministro da Agricultura no governo João Goulart, quando fez um generoso projeto de reforma agrária. É empresário. Mas o que gosta mesmo é da vida pública. Quem o conhece lembra sempre uma frase que vive repetindo: “Não quero mais saber de política, embora não pense noutra coisa”. Mesmo sem mandato participa dos problemas de seu estado e de seu país. José Paulo escreveu, um dia, que “Dr. Armando é prova de que se pode ter vida pública sem um mandato; e que se pode fazer política com ética”. A mais pura e translúcida verdade. Razão pela qual ser sua filha é mesmo um grande privilégio.
Filhos herdam dos pais olhos, crenças, jeitos, sonhos, sentimentos e gostos. De meu pai, herdei tudo isso. Dos seus filhos (perdoem meus irmãos), tenho orgulho de ser a mais parecida com ele. Sem jamais conseguir ser sua cópia perfeita. Somos, ele e eu, iguais até mesmo na preferência dos sabores. Gostamos dos mesmos pratos. Especialmente cozido, feijoada, mão de vaca, sarapatel. Das mesmas frutas - abacate, banana maçã, grape-fruit, laranja baia, mamão, melão, manga (cortada em pedaços e bem gelada). E doces - de leite, banana em rodelas, caju, goiaba, laranja-da-terra. Sem esquecer iogurte ou coalhada, antes de dormir. E todas as comidas de milho - angu, canjica, pamonha.
Tudo que faz é com grande entusiasmo e paixão. Com muito otimismo e bom humor. Como diz Rousseau, “O homem que mais viveu não é aquele que mais anos completou, mas aquele que mais experimentou a vida”. Parabéns meu pai. Por tudo. Principalmente por ter escolhido como companheira minha mãe, seu verdadeiro anjo da guarda. E, quando falo em você, lembro sempre verso de Fernando Pessoa: “De meu pai sei o nome, disseram-me que se chamava Deus”.
Receita >
Mão de vaca
Ingredientes
4 mãos de vaca (mocotó)
2 limões
Sal e pimenta do reino3 dentes de alho amassados
½ xícara de azeite
3 cebolas picadas
4 tomates
1 pimentão
Coentro e cebolinho
1 paio em rodelas
Preparo
- Lave bem os mocotós. Passe água fervendo. Esfregue limão e tempere com sal, pimenta e alho.
- Em panela grande, refogue azeite, cebolas, tomates, pimentão, coentro e cebolinho. Também paio e toucinho. Junte os mocotós. Refogue bem. Acrescente água, até cobrir tudo. Deixe cozinhar em fogo forte por 2 horas, colocando mais água sempre que necessário. Sirva acompanhado com farinha ou pirão mexido.