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Pernambuco tem uma dança que nenhuma terra tem...

Lecticia Cavalcanti - Cortesia

“Pernambuco tem uma dan­ça/ Que nenhuma ter­ra tem/ Quando a gen­te entra na dança/ Não se lembra de ninguém”, assim escreveu Capiba (em É Frevo, meu bem), o maior compositor de frevo do mundo. O nome vem de fre­ver, corruptela de ferver, para designar aquela algazarra das ruas. Lembrando a fervura de uma cidade em ebulição; ou a fervura do sangue quente do pernambuca­no; ou a fervura doce do tacho de mel de nossos engenhos de açúcar. O primeiro registro da pala­vra aconteceu no vespertino “Jornal Pequeno”, as­si­nada pelo jornalista Oswaldo Oliveira, anunciando um ensaio do clube Empalhadores do Feitosa (do Hipódromo), em cujo repertório es­tava marcha intitulada “O Frevo”. Em 9 de fevereiro de 1907. Estamos celebrando este ano, portanto, 110 anos do nascimento oficial do ritmo.
Bom lembrar que o ritmo nasceu pelas ruas do bairro de São José, no Recife. E meio por acaso. É que havia, no início do século passado, grande rivalidade entre as duas mais famosas bandas militares da cidade: a do 4º Batalhão de Artilha­ria - conhecida com o Quarto; e a da Guarda Nacional - Espanha, por ter como regente o músico es­panhol Pedro Garrido. Nos desfiles, essas bandas saíam pelas ruas tocando dobrados, marchas e pol­cas, acompanhadas por capoeiristas. Para proteger seus músicos. Disfarçados, claro; que praticar capoeira, por essa época, era crime. Aos poucos, os capoeiristas foram trocando bengalas ou cacetes (da duríssima madeira de quiri) por sombrinhas que balançavam ao ritmo da música. Trocaram também golpes de sua luta por pirue­tas - “passos”, assim se passou a dizer. Hoje, são mais de 120 cata­logados. Entre eles: abanando, cain­do-nas-molas, canguru, dobradiça, ferrolho, locomotiva, para­fuso (ou saca-rolha), pernada, pon­­­­ta de pé e calcanhar, Saci-Pere­­­rê, tesoura (cruzada, no ar, passan­­­do a sombrinha). Como ensina Câmara Cascudo, “no mar do frevo, cada peixinho nada de seu jeito”. É, segundo Reinaldo de Olivei­ra (artigo publicado neste jornal, em 9 de fevereiro), “a dança mais ar­bitrária que se conhece. Nela não há parce­rias. Tudo é improvisa­­ção, criatividade”. Compreendendo sua grande importância pa­ra a nossa cultura, o ritmo foi esco­lhido pela Unesco (em 2012) patrimônio imaterial da humanidade.
Hoje, sábado de Carnaval, é também dia de celebrar o Galo da Madrugada - o maior bloco de Carnaval do mundo, segundo o Guinness Book (1995). Fundado em 24 de janeiro de 1978, por Enéas Freire, na Rua Padre Floriano nº 43, no bairro de São José. A concentração começa assim que o dia clareia, hora em que os galos começam a cantar.
  
No caso, anunciando a alvorada do carnaval pernambucano. Mas o can­to desses galos nem sempre fizeram sucesso. Em Ro­ma, só para lembrar, certo Caio Canio conseguiu que o Senado aprovasse, em 19 a.C., lei proibindo galos barulhentos que o acordavam de madrugada. Com os criadores logo descobrindo que, castrados, paravam de cantar.

Capões passaram, então, a ser iguaria muito apreciada. Por conta disso eram vigiados por pullarios. “Galinha de Capoeira” vem daí. Por serem guardadas junto a esses capões em gaiolas - conhecidas em Portu­gal por “capoeiras”. Aquelas galinhas de capoeira eram alimentadas com anis e especiarias, para dar gosto à carne e aumentar a produção de ovos. As refeições começavam com esses ovos - “ex ovo omnia”(todas as coisas nascem do ovo), assim se dizia. No Nordeste é diferente. Galinha de capoeira é a que vive solta. A Língua tem dessas coisas.
Pernambuco é mesmo um lugar muito especial. Tem o frevo - uma dança que nenhuma terra tem. Tem Capiba - o maior compositor de frevo do mundo. Tem o Galo da Madrugada - o maior bloco de carnaval do planeta. Isso me faz lembrar uma Senhora que, quando foi se despedir do filho, que ia pa­ra Paris fazer doutorado, lhe disse: “Meu filho, não diga a ninguém que é pernambucano”. O filho não entendeu, e ela explicou: “É que contar grandeza é muito feio”. Cumprindo agora, só desejar aos foliões um carnaval animado. Em paz. Dançando o Frevo, comendo filhós, e cantando o hino do Galo, claro: Ei pessoal, vem moçada/ Carnaval começa no Galo da Madrugada.

Receita> Capão Guisado

Ingredientes

1 capão
Suco de 2 limões
Para temperar - 4 dentes de alho socados, 1 folha de louro, ½ xícara de vinho branco, 1 colher de sopa de vinagre, sal e pimenta a gosto
Azeite
2 cebolas picadas
2 paios
200g de toucinho defumado
3 tomates
1 pimentão
Coentro e cebolinho

Preparo
l Lave o capão, passe limão, água fervendo e corte em pedaços grandes. Junte todos
os temperos e deixe por seis horas

l Faça um refogado com azeite, cebolas, paios e toucinho defumado. Junte tomates picados, pimentão, coentro, cebolinho e o capão.

Deixe refogar bem. Acrescente água até que cubra tudo. Quando estiver
cozido, apague o fogo. Sirva com baião-de-dois e farofa de batata-doce


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