Retalhos de Carnaval
Trechos de artigos sobre a Festa de Momo publicados no Caderno Sabores e uma receita especial
E o Carnaval já passou. Nesses poucos dias, é como se o mundo parasse. Como se uma alegria diferente tomasse conta do coração de todos e de cada um. Carnaval é saborear o presente, sem remorsos ou ilusões. Também sentir o gosto bom do futuro, na esperança de dias melhores e novos encontros. Mas é, sobretudo, voltar ao passado. “Recordar é viver” segundo aquela marchinha de Aldacir Louro, Aloysio Marins e Adolfo Macedo. Pensando nisso, decidi recordar alguns trechos de artigos sobre essa festa - já publicados, ao longo dos anos, aqui no Caderno Sabores. De alguns, o leitor lembrará, de outros talvez não. Como rostos que passam por nós, ao som do frevo, e logo se vão como fantasmas.
· Carnaval não tem data certa no calendário. A cada ano é marcado em função da primeira lua cheia da primavera europeia - que começa em 21 de março. O domingo seguinte é o da Páscoa; e, 40 dias antes, a Quarta-Feira de Cinzas (artigo escrito em 03.02.07). Nesse ano, só para lembrar, cinzas caiu em 22, e domingo de Carnaval no dia 19 de fevereiro
· O frevo nasceu pelas ruas do bairro de São José, no Recife. E meio por acaso. É que havia, no início do século passado, grande rivalidade entre as duas mais famosas bandas de música militar da cidade: a do 4º Batalhão de Artilharia - conhecida como “o Quarto”; e a da Guarda Nacional - “Espanha”, por ter como mestre o músico espanhol Pedro Garrido. Nos desfiles, essas bandas saiam pelas ruas tocando dobrados, marchas e polcas, e sempre acompanhadas por capoeiristas, para proteger seus músicos. Disfarçados, claro; que praticar capoeira, por essa época, era crime. Surgiram assim os primeiros clubes de carnaval - entre eles Vassourinha e Lenhadores, que se serviam daquelas bandas. E dos capoeiristas também, claro. Só que, para disfarçar, trocaram bengalas ou cacetes (da duríssima madeira de quiri) por sombrinhas que balançavam ao ritmo da música. Trocaram também os golpes de sua luta por piruetas - “passos”, assim se passou a dizer. Como ensina Câmara Cascudo, “no mar do frevo cada peixinho nada de seu jeito” (em 02.02.2008).
· Pitombeira é nome de nossa mais famosa troça de Carnaval - que sai nas segundas-feiras do Largo do Guadalupe, em Olinda. Foi fundada em 1947 por um grupo de rapazes que, empunhando galhos de pitombeira, pelas ruas da cidade, seguiam os blocos que desfilavam. Três anos depois Alex Caldas compôs o hino da Pitombeira, talvez a música mais tocada no Carnaval pernambucano: “Nós somos da Pitombeira,/ não brincamos muito mal,/ Se a turma não saísse,/ Não havia Carnaval...”(em 17.02.07)
· A culinária de carnaval é muito especial. Depende da disposição das pessoas. Para os que preferem não brincar, melhor reunir amigos, de preferência nas praias, em volta de pratos fortes e completos - baião de dois, carne-de-sol, cozido, crustáceos ensopados no molho de coco, feijoada, peixada, sarapatel. Em muitos casos, mantendo ainda a tradição portuguesa de comer bacalhau, carneiro e porco. Mas para os que brincam, melhor comida é sempre qualquer uma e ligeira - de preferência compradas em barracas, para não se perder tempo. Tudo regado a muita cerveja, batida e todas as outras bebidas. (em 03.02.07).
· Em qualquer caso, e seja qual for o prato, recomenda-se arrematar sempre com filhós - que o português chama também de velhoz ou, simplesmente, fritos. “Nos dias de Carnaval, o velho filhós com mel...”, escreveu Gilberto Freyre (em Açúcar). Presente em todas as casas tradicionais de Pernambuco. Um costume introduzido, aqui, pelo colonizador. Só que, à receita original portuguesa, acabamos acrescentando uma calda. É o mais típico dos pratos de carnaval. (em 02.02.2008).
RECEITA: FILHÓS
INGREDIENTES:
1 xícara (de chá) de água
½ colher (de sopa) de manteiga
½ colher (de sopa) de sal
¾ de xícara (de chá) de farinha de trigo
3 ovos
Óleo para fritar
PREPARO:
· Leve ao fogo a água. Quando levantar fervura, junte manteiga e sal. Deixe novamente ferver. Diminua o fogo e jogue o trigo (de uma só vez). Mexa rápido (para não embolar), até fazer uma bola de massa consistente. Desligue o fogo. Continue mexendo. Quando estiver morno, junte os ovos inteiros (um a um). Bata vigorosamente por meia hora.
· Tampe a panela e deixe a massa descansar por aproximadamente duas horas, em lugar fechado.
· Coloque três dedos de óleo em uma panela. Quando aquecer o óleo (fogo médio), jogue colheradas da massa para fritar. Quando a massa começar a crescer no fogo tampe a panela, balançando e rodando, para que a massa cresça ainda mais. Quando estiver dourada, retire do fogo, seque e coloque em compoteira.
· Sirva acompanhado de uma calda rala feita com um copo americano de água, uma xícara (de chá) de açúcar e gotas de limão.