Tempo de Natal
Natal é mesa farta. Deveria ser para todos. Disso falamos todos os anos, aqui. Mas é também alimento para a alma. Por isso deixei os sabores de lado, para dizer algumas palavras ao coração dos queridos leitores. E faço isso pela voz de dois grandes poetas. Um da terra e outro do além-mar. Um é Carlos Pena Filho, o poeta do azul, um dos maiores da língua portuguesa.
POEMA DE NATAL
(Carlos Pena Filho)
- Sino, claro sino,
Tocas para quem?
- Para o Deus menino
que de longe vem.
- Pois se o encontrares
Traze-o ao meu amor.
- E que lhe ofereces,
Velho pecador?
- Minha fé cansada,
meu vinho, meu pão,
meu silêncio limpo,
minha solidão.
O outro é o padre Tolentino Mendonça, ensaísta e poeta português, especialista em estudos bíblicos. Recentemente foi nomeado consultor do Pontifício Conselho para a Cultura, no Vaticano.
O NATAL NÃO É ORNAMENTO
O Natal não é ornamento: é fermento
É um impulso divino que irrompe pelo interior da história
Uma expectativa de semente lançada
Um alvoroço que nos acorda
para a dicção surpreendente que Deus faz
da nossa humanidade
O Natal não é ornamento: é fermento
Dentro de nós recria, amplia, expande
O Natal não se confunde com o tráfico sonolento dos símbolos
nem se deixa aprisionar ao consumismo sonoro de ocasião
A simplicidade que nos propõe
não é o simplismo ágil das frases-feitas
Os gestos que melhor o desenham
não são os da coreografia previsível das convenções
O Natal não é ornamento: é movimento
Teremos sempre de caminhar para o encontrar!
Entre a noite e o dia
Entre a tarefa e o dom
Entre o nosso conhecimento e o nosso desejo
Entre a palavra e o silêncio que buscamos
Uma estrela nos guiará
O Natal não é ornamento.
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