Viva Ângela Maria - A sapoti
Ela foi a maior cantora brasileira. Nasceu em Macaé (Rio de Janeiro), em 1928. Seus pais lhe deram o nome de Abelim Maria da Cunha. Foi operária tecelã. Inspetora de lâmpadas, em uma fábrica da General Eletric. Mas gostava mesmo era de cantar.
Começou no coro da Igreja, onde o pai era pastor protestante. Sem que ele soubesse, passou a frequentar programas de calouro: Pescando Estrelas, de Arnaldo Amaral (Rádio Clube, hoje Rádio Mundial); A hora do Pato, de Jorge Curi (Rádio Nacional); Programa de Calouros, de Ari Barroso (Rádio Tupi); Trem da Alegria, de Lamartine Babo (Rádio Nacional).
Para não ser reconhecida, trocou de nome. Passou a ser Ângela Maria. Logo virou crooner na casa de shows Dancing Avenida. E acabou contratada pela Rádio Mayrink Veiga. Passou, então, a ser conhecida como a Rainha do Rádio. A todos encantava com sua voz forte e afinada. E seu jeito próprio de cantar. Recebeu, de Getúlio Vargas, o apelido de Sapoti.
O Presidente da República, charuto na boca, sentado no jardim da casa de um amigo no Rio, olhou para ela e disse: “Menina, você tem a voz doce e a cor de sapoti”. A partir daí, virou sucesso nacional.
Getúlio Vargas não escolheu o sapoti por acaso. A fruta é mesmo muito especial. Nativa das Antilhas e da América Central, já era muito apreciada por Maias e Astecas - que a conheciam por tzapotl. Para os espanhóis, passou a ser zapote - nome que se conserva, até hoje, em todos os países de língua espanhola.
Chegou ao Brasil em meados do séc. XVIII. Primeiro no Amazonas, depois invadindo a região Nordeste. Os nativos a chamavam zapotl, depois zapóte e, finalmente, sapoti (Achras sapota Linneu). Daqui foi levado para a Europa. O nome não mudou muito. É sapote em inglês e sapotille em francês. Tem casca marrom, seca, fina e áspera.
O fruto, carnudo e suculento, tem polpa mole e amarelada (puxada para marrom). E um sabor exótico, adocicado, sem acidez. “Um sapoti maduro derrete na boca e tem os perfumes doces do mel, do jasmim e do lírio do vale” - observou o médico e botânico francês Michel Étienne Descourtilz (1775-1836), em Flore pittoresque et médicale des Antilles.
Pode, e deve, ser consumido ao natural. Para isso, recomenda-se cortar com faca ao meio, no sentido vertical, retirando a polpa com colher. São entre 4 e 12 sementes, por fruto. Do sapoti se faz refresco, suco, sorvete, creme, pudim, mousse, doce, geleia.
Muito sensível, o fruto perde qualidade mais rapidamente que a maioria das outras frutas. Por isso, deve ser colhido ainda verde, com a mão, através de torção, e colocado em lugar fresco, para amadurecer. São muitas as espécies de sapoti. No Brasil, essas variedades acabaram definidas pela própria forma dos frutos.
Os ovais, mais comuns, são sapotis; os arredondados e maiores, sapotas; e uns bem grandes, com casca grossa, marrom-esverdeada, são sapotas-do-solimões, mais comuns na região Amazonas. Na Ásia e EUA, encontram-se outras variedades, sobretudo Prolific, Russel, Betanvi, Proolon, Apel bener.
Tão grande é o prestígio da fruta que até enredo virou, da escola de samba Estácio de Sá (1987), “O ti ti ti do Sapoti”: “D. João achou bom/ Depois que o sapoti saboreou/ Deu prá Dona Leopoldina/ A corte se empapuçou/ E mandou rapidamente/ Espalhar no continente/ Até o Oriente conheceu/ E hoje no quintal da vida sou criança/ Me dá que o sapoti é meu”.
Fernando Pessoa (em Livro do Desassossego) escreveu: “Quando será tu apenas uma saudade minha?” A resposta, no caso de Ângela Maria, é nunca. Porque há, em todos os corações brasileiros, desde quando nossa estrela se encantou uma enorme saudade. Descanse em paz, Sapoti querida.
RECEITA: SORVETE DE SAPOTI
INGREDIENTES
1 lata de creme de leite
1 lata de leite condensado
1 lata (a mesma do leite condensado) de leite
2 latas de polpa de sapoti
PREPARO
Bata tudo no liquidificador
Coloque no freezer, até a hora de servir
*É especialista em Gastronomia e escreve quinzenalmente neste espaço