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Viva Ariano Suassuna, sempre

Ariano Suassuna - Greg/Arte Folha de Pernambuco

O querido mestre Ariano Suassuna, se vivo fosse, faria na próxima semana (16 de junho) 97 anos. Autor de livros importantes – Auto da Compadecida, A História de amor de Fernando e Isaura, O Romance da Pedra do Reino, O Príncipe do Sangue do Vai-e-volta. Também prefácios para muitos livros, inclusive de culinária – Culinária Caprina do alto Sertão à alta gastronomia (com texto de Raul Lody) e Gastronomia Sertaneja (de sua prima Ana Rita Dantas Suassuna).  Dessa culinária do sertão, ele nunca esqueceu. Na fazenda Acauã (em Souza, Paraíba) – onde foi viver quando seu pai deixou o governo da Paraíba; em Taperoá (Paraíba) – onde morou quando o pai morreu, assassinado por motivos políticos; e na Fazenda São Pedro (São José do Egito, sertão de Pernambuco, limite com a Paraíba) – dos pais de Ana Rita, autora do livro que fez o prefácio. 

Na Fazenda São Pedro, ouviu pela primeira vez o tio Joaquim (Seu Quincas) ler, segundo ele, “com uma dicção impecável, páginas e páginas de uma biografia de Dom Sebastião, Rei de Portugal”. Foi lá também que aprendeu “com Amara, Donana e Delfina, as primeiras Cantigas velhas, romances ibéricos sobreviventes em nossa tradição oral e que aparecem ainda hoje em quase tudo que escrevo”. Um mundo que tinha “como centro não a sala de visitas ou a de jantar, mas sim o terreiro, onde se cantava e dançava; e a cozinha, a democrática cozinha, onde mandavam uma Rainha negra, Bezé, e um Rei negro, Pé Velho”. Naquela cozinha, o “fogão era um teste de habilidade e um palco de aprendizagens” – segundo Luciano Suassuna, primo de Ariano.

Para Ariano, o alimento era um elemento importante de cultura. Assim como todas as outras manifestações culturais – canto, dança, música, literatura, a própria língua. Que, segundo ele, devem ser preservados de influências de outras culturas. Tudo muito natural para quem concebeu o Movimento Armorial, que tem como objetivo criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste brasileiro. Dando-se por finda essa breve homenagem a um grande autor, com poema seu, bem a propósito, que reflete esse sentimento: 

EU NÃO TROCO MEU OXENTE
Esse tal de rocambole
Esfirra, nissin, miojo
Quer-me ver cuspi com nojo
Ofereça-me um rizole
Prefiro uma fruta mole
Beliscada do vem-vem
Feijão de corda xerem
Canjica com leite quente
Eu não troco meu oxente
Pelo ok de ninguém

Tomar wiski importado
Na taça pra ser bacana
Sou mais um gole de cana
Num caneco enferrujado
Não sou muito refinado
Nem tenho inveja também
Druris conhaque almadem
Prefiro minha aguardente
Eu não troco meu oxente
Pelo ok de ninguém

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