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Viva Margarida

Margarida é uma flor, isso todo mundo sabe.  A preferida de cantadores e poetas, porque rima com vida. O nome vem do latim margarita – que, não por acaso, quer dizer pérola. Uma boa imagem para representar o que significa, para seus amigos, Margarida Cantarelli. Uma pérola especial e rara. Mais que rio, ela é mar, Mar–garida. Talvez porque “Correm águas do mar em tuas veias”, como pensa Carlos Pena Filho (em Marinha). Esse mesmo mar que é também “Um grande avisador” de bons presságios, segundo Rui Barbosa. Ontem celebramos seus 80 anos. Um grande privilégio. Por ser, não há dúvida, nosso grande patrimônio. 

Para os que ainda não a conhecem (e serão bem poucos, é certo) bastaria juntar, como num grande quebra-cabeça, suas tantas qualidades. Em um desenho, no seu caso, lógico. De fala mansa, e sem nunca alterar a voz, se faz ouvir longe. Como o mar quando estronda. É doce e firme, com predominância no doce. Como se soubesse, ou pressentisse, que se pode ser firme com doçura. Generosa e justa, o que nem sempre é fácil. Na fala de Judas, fitando ao longe o Cristo na cruz, disse Guerra Junqueiro que “o justo que é justo não perdoa” (em A caridade e a justiça). Se conhecesse Margarida, saberia que essa frase não se aplica a ela. Porque Margarida sabe ser justa sem perder a ternura. Jamais. Sem contar que é também solidária, ponderada, conciliadora, amiga e simples. Sobretudo simples.

 Correta no proceder, importante é que sabe também respeitar as diferenças. “Pensando sempre no outro, pensando no bem” – segundo o Desembargador Federal Marcelo Navarro. Por conta dessas muitas qualidades Margarida exerceu, e exerce (muito bem), múltiplos papeis – entre eles os de advogada, juíza, professora, escritora. “Sabendo lidar com zelo nas mais variadas relações sociais” – segundo outro Desembargador, Geraldo Apoliano. Ensinou na Faculdade de Direito do Recife e foi Pró-Reitora da Universidade Federal de Pernambuco. Também a primeira mulher Desembargadora Federal (no TRF da 5ª Região), chegando à presidência da casa em 2003. E, lá, revelou “o ponto de equilíbrio entre a letra da norma e as variantes inesgotáveis da vida” – segundo mais um colega Desembargador, Paulo de Oliveira Lima. 

Como poucos, compreende a fragilidade da natureza humana. E sempre se preocupou com as causas sociais. Assim ocupou, honradamente, numerosos cargos públicos. Foi Secretária da Casa Civil de Pernambuco, Secretária de Educação do Recife, chefe de gabinete do Ministério de Educação e chefe da Casa Civil da Presidência da República (em Brasília). É membro da Academia Pernambucana de Letras, onde se diga ser privilégio estar ao seu lado; e atual presidente do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico de Pernambuco. Como se tudo isso fosse pouco, gosta de literatura, de viajar, da boa mesa. E de conversar com os amigos, sem pressa. Seu único defeito, pensando bem, é ser torcedora do Náutico. Assim como José Paulo. Prova de que ninguém é perfeito.

Por onde ela passa vai deixando sobretudo muitos amigos. Essa talvez seja sua mais importante qualidade. Li recentemente um texto do Cardeal Tolentino Mendonça e logo me lembrei dela. Por dizer que “amigo é aquele que sempre caminha ao nosso lado. E ao lado de um amigo nenhum caminho será longo”. É o que ela faz com seus amigos, segura na mão, está sempre junto, incondicionalmente. É, portanto, um grande privilégio conviver com ela. Ser sua amiga. Com generosidade, bom humor e inteligência nos ensina sempre lições preciosa. Viva Margarida!!!
 

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