Viva o chocolate
Domingo passado, 7 de julho, celebramos o dia Mundial do Chocolate. Sem que se saiba exatamente o porquê da escolha desta data. O que sabemos é que o chocolate é reverenciado em todo o mundo. No Brasil também. Até criamos um docinho servido em fôrmas de papel frisado, feito com chocolate, leite condensado e manteiga - o brigadeiro.
Presente em todas as festas infantis. Sua origem remonta aos anos 1920, em São Paulo, quando começaram a funcionar as primeiras fábricas nacionais dos principais ingredientes de sua receita. Primeiro o chocolate em pó, produzido pela Gardano (no bairro da Mooca), mais conhecido (até hoje) como o chocolate dois frades - por ter, na embalagem, a figura de dois frades raspando a panela, reproduzindo quadro (O prato favorito) do pintor italiano Alessandro Sani (1856-1927).
Depois, sobretudo, o leite condensado produzido pela Nestlé, em Araras. Invenção do americano Gail Borden, em 1856, ao tentar um jeito de facilitar o transporte e o armazenamento do leite. Foi quando teve a ideia de desidratá-lo. E notou que, antes de ser transformado em pó, esse leite se condensava.
Surgiram assim, ao mesmo tempo, o leite em pó e o leite condensado. Mas não lhe deram muita importância, por essa época. Cinco anos depois, começou a Guerra de Secessão Americana e esses leites foram utilíssimos - por serem fáceis de transportar e, sobretudo, por se conservarem (em latas), por muito tempo.
No rótulo vinha o desenho de uma moça vestida com traje típico de camponesa suíça, carregando baldes de leite. A marca variava, dependendo do lugar - Milkmaid (EUA), La Laitière (França), La Lechera (Espanha), em todos esses casos significando sempre vendedora de leite.
Ou, apenas, Condensed Milk - Milkmaid brand. Assim chegou ao Brasil, em 22 de janeiro de 1890. Um anúncio discreto, na seção de classificados de O Estado de S. Paulo, dizia assim: “Desembarcou no Brasil, e está à venda a varejo e a grosso, na drogaria São Paulo, na Rua São Bento, um novo produto - o Condensed Milk - Milkmaid brand”.
A dificuldade em pronunciar o nome acabou levando os consumidores a chamá-lo de leite da mocinha; e, depois, apenas leite moça - referência óbvia à ilustração da camponesa. Não foi o primeiro caso. Muitas outras marcas, com o tempo, passaram a referir os próprios produtos - gilete (lâminas de barbear), bombril (lã de aço), frigidaire (geladeira), fanta (refrigerante de laranja), fratelli vita (guaraná), zippo (isqueiro), lambreta (moto), chiclete (goma de mascar).
Com o Leite Moça não foi diferente. Aqui chegou como bebida, a ser misturado com água antes de oferecido às crianças. Só que, logo depois, passou a ser usado na preparação de sobremesas - beijo, cocada, doces, pudins, sorvetes, coberturas e recheios de bolo.
Além de um doce no início conhecido como negrinho, em alusão a sua massa escura (até hoje os gaúchos o chamam assim), que depois passou a ser brigadeiro.
Trata-se de uma história curiosa, que começa como uma homenagem ao brigadeiro Eduardo Gomes (1896-1981) - patrono da Força Aérea Brasileira, ministro da Aeronáutica por duas vezes (nos governos Café Filho e Castelo Branco) e também por duas vezes candidato à presidência da República, contra Eurico Gaspar Dutra (em 1945) e Getúlio Vargas (em 1950). Há duas versões para o fato. A primeira sugere que as mulheres do Rio de Janeiro preparavam negrinhos em casa e os vendiam na rua, com o fim de conseguir recursos para sua campanha.
“Comprem os docinhos do brigadeiro”, assim diziam; passando aqueles doces, aos poucos, a serem conhecidos apenas pelo nome da patente do candidato. A segunda versão, mais provável (embora levemente picante), refere um problema físico do homenageado.
É que, em 5 de julho de 1922, ele participou da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana - quando 17 oficiais e um civil, descontentes com a vitória do presidente Artur Bernardes (1875-1955), desafiaram e enfrentaram guardas fortemente armados. O combate durou apenas 30 minutos.
E o brigadeiro sofreu grave ferimento (teria perdido os testículos), por conta de granada que explodiu sob seu corpo. Dando-se que a receita não leva ovos, daí vindo a tal associação com o brigadeiro. Não se sabe se é verdade. Mas é certo que morreu (com 84 anos) solteiro e sem filhos.
RECEITA: BRIGADEIRO
INGREDIENTES
1 lata de leite condensado
4 colheres de sopa de chocolate em pó (ou 8 colheres de sopa de raspas do seu chocolate favorito)
1 colher de sopa de manteiga sem sal
Manteiga para untar
Raspas de chocolate ao leite (ou granulado) para confeitar
Forminhas de papel
PREPARO
• Misture leite condensado, chocolate em pó e manteiga. Leve ao fogo baixo, mexendo sem parar, até a massa começar a soltar do fundo da panela
• Retire do fogo e coloque em um recipiente untado com manteiga. Deixe esfriar. Enrole os brigadeiros entre as mãos (untadas com manteiga)
• Passe cada bolinha nas raspas de chocolate ao leite (ou no granulado) e arrume em forminhas de papel
*É especialista em Gastronomia e escreve quinzenalmente neste espaço