Viva o São João
O São João é a mais importante festa nordestina. Uma festa que foi nascendo aos poucos. Da mistura generosa de costumes, sabores e temperos das três culturas que nos formaram – a indígena, a africana e a portuguesa. Com o colonizador aprendemos a celebrar em volta de fogueiras, a enfeitar as ruas com bandeirolas e balões coloridos que levam pedidos dos fiéis a São João – atendidos só quando não queimam antes de subir aos céus. Também música, dança e fogos de artifícios. Sem contar adivinhações e superstições – para saber se é correspondida no amor, se vai casar, se é traído. Uma das mais conhecidas recomenda introduzir faca virgem no tronco de uma bananeira. Se aparecer nessa faca uma letra, será a inicial do novo amor.
Dos africanos nos vieram as roupas de chita (a palavra vem do sânscrito c’hit) usadas na festa – com saias rodadas, aqui armadas com anáguas endurecidas por goma de mandioca e enfeitadas com babados, sianinha, fita, renda. Era com esse tecido barato, trazido pelos portugueses da Índia, que vestiam seus escravos. Com eles aprendemos também o gosto pelo batuque e por umas flautas feitas de taquara, madeira encontrada nas matas de Pernambuco – pelo colonizador, chamadas de pífanos, por serem semelhantes às tocadas pelos pifferaro dos folclores italiano, bretão e catalão. Dos índios herdamos (quase) todos os utensílios usados nas mesas juninas – panela de barro, urupema, pilão, cuia, cabaça.
Mas o que faz essa festa única, diferente de todas as outras, é sobretudo a nossa culinária. Que, como também ocorreu nos costumes, usa ingredientes dessas três culturas. Dos índios amendoim, banana-da-terra, batata-doce, castanha, mandioca e sobretudo milho. Muito milho. Dos escravos africanos coco, leite de coco, inhame. Dos portugueses, sal, açúcar, cravo, canela, erva-doce, noz-moscada, trigo, arroz, aveia, passas. E assim, da mistura democrática de todos esses ingredientes, e de técnicas e receitas, foi nascendo uma culinária própria de São João. Com pratos muito especiais – angu, canjica, cuscuz, mungunzá, pamonha, pé-de-moleque, bolo de milho, de fubá, de mandioca, cocada, tapioca, bom-bocado, arroz doce, grude. Pratos, todos, sempre muito trabalhosos, demorados de fazer. E que, por isso, acabam sendo preparados com antecedência. Para ninguém perder a festa, claro. Sem esquecer que a bebida oficial dessa festa é o “quentão” – cachaça, açúcar caramelizado, canela, casca de limão, cravo, gengibre. Servida quente, em canequinhas de barro. A todos, pois, desejo um bom e saboroso dia de São João!
RECEITA: PAMONHA DE FORNO
INGREDIENTES:
12 espigas de milho verde
1 coco grande
2 xícaras (de chá) de açúcar
1 colher (de sopa) de manteiga derretida
Sal
PREPARO:
Corte os caroços de milho e reserve. Rale os cocos e retire o leite de coco grosso. Reserve. Bata no liquidificador o milho com o leite de coco. Passe na peneira duas vezes. Acrescente açúcar, manteiga e sal a gosto. Misture tudo. Coloque em pirex untado com manteiga e leve ao forno pré-aquecido, por aproximadamente uma hora.