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Cães e os efeitos para saúde mental: ciência explica os benefícios para a mente humana

Relação com animal, porém, não pode ser "tábua de salvação"

Tareco, Werik e Sarah - Paullo Allmeida / Folha de Pernambuco

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Sabe aquele tipo de conhecimento geral que todo mundo já tem? Aí vai mais um: ter cachorro faz bem! Interagir com cães proporciona bem-estar para o tutor de diversas formas. Hormônios como a ocitocina, serotonina e cortisol são liberados quando pessoas que amam pets dividem o cotidiano com os pets. Uma pesquisa realizada pela Universidade de Konkuk, na Coreia do Sul, e publicada pela revista científica Plos One reforça essa tese.

Sobre estudo

O estudo comprovou que a interação com cachorros tem efeito antiestresse para humanos. Esse contato aumenta a atividade cerebral em áreas associadas ao bem-estar e ao foco. 

Participaram da iniciativa 30 pessoas adultas com idade média de 28 anos. Os participantes realizaram oito atividades diferentes com um cachorro durante três minutos cada. Foram realizadas reuniões, brincadeiras, alimentação, massagem, higiene, fotografia, abraços e caminhadas. Ondas cerebrais nos lobos pré-frontal, frontal, parietal e occipital foram medidas durante as atividades.

O cão escolhido para conviver com o grupo de pesquisa foi uma fêmea da raça poodle standard, de quatro anos. A cadelinha estava vacinada, vermifugada, treinada e sociável durante o estudo. Um adestrador acompanhou a atividade.

Convívio com cães tem efeito calmante e aumenta a concentração, conclui pesquisaEtapas da pesquisa - Plos One

Eletrodos foram colocados no couro cabeludo dos participantes para oferecer uma leitura precisa e imediata da atividade elétrica cerebral durante as ações. 

Atividades como alimentar, massagear e abraçar o cachorro diminuíram a pontuação total do transtorno de humor, o que indicou um efeito positivo nos participantes, que apresentaram redução no estresse em todas as ações realizadas com a cadela. 

Além disso, o estudo demonstrou que práticas como um passeio ou massagem no pet podem ativar um relaxamento mais acentuado, estabilidade emocional, atenção, concentração e criatividade, facilitando o aumento da atividade cerebral. 

Benefícios

Segundo a psicóloga clínica Rhayssa Cavalcanti de Barros Felipe, conselheira titular do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco (CRP-PE), o vínculo criado entre tutor e o animal cria uma rotina de cuidados que beneficia os criadores. 

“Ter um animal muda a rotina da pessoa, e essa rotina vai estar ligada a todos os hábitos do tutor. Então, ter um animal provavelmente vai fazer com que você saia de casa para passear com ele, principalmente no caso de cachorros. Também fará com que você se exercite,  com que você tenha essa rotina da alimentação do animal, das necessidades do animal, e isso tudo pode regularizar as emoções desse tutor”, explicou a psicóloga. 

Tareco na rotina
 

Tareco, cãozinho de Sarah e WerikTareco, Werik e Sarah - Paullo Allmeida / Folha de Pernambuco 

No cotidiano da profissional de saúde Sarah Jordão e do seu companheiro, o servidor público Werik de Lima, a rotina da casa é mesclada com a rotina de Tareco, cãozinho do casal. O pet foi adotado em 2021, durante a pandemia da Covid-19. E, enquanto Sarah passava o dia combatendo a doença nos hospitais de Pernambuco, Werik enfrentou a rotina do home-office acompanhado de Tareco. 

“Eu acho que ele me ajudou a ter uma rotina durante a pandemia. No trabalho remoto não tinha horário para começar a trabalhar, finalizar o trabalho, dormir, acordar… Tareco me ajudou a retornar à minha rotina, de acordar em certo horário, de tomar café direitinho, passear com ele e trabalhar”, explicou Werik. 

"Vida nova"

Para Sarah, Tareco representa, até hoje, um momento de respiro no dia cansativo de trabalho. “Ele é a alegria de voltar para casa e brincar um pouquinho com ele ou sair. Até nos dias em que não estamos com disposição a gente desce e passeia com Tareco, isso dá uma renovada na pessoa. Levamos ele na praia, deixamos ele brincando. Você pode nem estar muito bem no dia, mas ver ele brincando e tudo mais enquanto você também pega um sol, um vento na cara, já dá uma renovada na vida”, relatou. 

Essa “renovada na vida” que Sarah comentou se dá também pela liberação de hormônios que a interação com cães proporciona. 

“Esses hormônios podem ser liberados via estímulos. Quando há, por exemplo, um estímulo como um exercício físico - corrida, musculação, relação sexual -, um abraço, o recebimento de um elogio, ao comermos um alimento que gostamos ou ao fazer algo que nos dê prazer. Ainda não há uma explicação exata como esses mecanismos atuam no equilíbrio hormonal, todavia é de vasto conhecimento que minimizar e/ou administrar o estresse, ter uma higiene do sono adequada, praticar exercícios físicos regularmente, alimentar-se de maneira saudável e desenvolver relacionamentos saudáveis colaboram positivamente na nossa saúde física e mental, equilibrando também o sistema endocrinológico”, explicou a psiquiatra Milena França, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Pernambuco.

Info

Apesar de ser comprovadamente benéfico para o bem-estar da pessoa, ter um cãozinho é decisão que exige responsabilidade. O pet não é uma “tábua de salvação”, e os transtornos mentais precisam ser tratados por profissionais da saúde, não colocados na conta de um animal. 

“Uma pessoa deprimida, ansiosa ou com outro transtorno mental sem tratamento adequado pode fazer mal ao animal de estimação, no sentido de negligência, maus-tratos, não cumprimento das necessidades médicas do animal de estimação, dos custos financeiros atrelados aos cuidados ou até mesmo o fato de possuir uma residência inadequada para a criação de animais”, identifica a psiquiatra Milena França. 

Laço familiar

Ananda Maciel, estudante de jornalismo, convive com um cachorro desde os oito anos de idade. Por ser filha única, a convivência com Théo, seu primeiro cãozinho, se fortaleceu como um laço familiar. O maltês, que faleceu em dezembro de 2023, era tão parte da família quanto qualquer membro. A responsabilidade era tanta que Théo recebeu um velório para que a família lidasse com o luto. Até hoje, as cinzas do pet ficam em uma urna, guardada com carinho pelos integrantes da casa. 

“Eles são tão próximos da gente quanto qualquer membro da família, o amor por eles vem muito de companheirismo. Théo, por exemplo, no ano passado, já muito debilitado, notou que eu estava chorando no quarto e começou a me lamber. É como se ele quisesse dar conforto emocional. Além disso, ele estava incluído em toda a dinâmica da casa e tinha uma relação específica com cada membro. Por isso, para a gente, foi um movimento natural procurar realizar uma cerimônia para a despedida de Théo”, explicou Ananda. 

Ananda e os pais Bernardo e Nívea incluíram Olaf na família enquanto lembram de Théo com carinho
Ananda e os pais Bernardo e Nívea incluíram Olaf na família enquanto lembram de Théo com carinho - Ricardo Fernandes / Folha de Pernambuco 

Há um mês, Ananda e a família incluíram outro membro na família: Olaf. O pequeno shih-tzu ainda está em adaptação no ambiente, mas já decidiu quem gosta mais de ficar (Ananda), escuta conversas, procura colo e se comunica com pequenos latidos. 

Ananda e seu cãozinho, Olaf
Ananda e seu cãozinho, Olaf - Ricardo Fernandes / Folha de Pernambuco 

Segundo Ana Paula Tenório, diretora do Departamento de medicina veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), os cães conseguem compreender diversos momentos dos tutores por conta da adaptação que tem com a humanidade. 

“O benefício da relação entre cão e humano se dá por conta de o cão ser um animal extremamente domesticado. O cão e o humano conseguem conversar. Não necessariamente uma conversa com o idioma humano, mas há um entendimento entre as duas espécies”, explicou.

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